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04/11/2005 - 09h40

Beijo gay vira notícia internacional

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LAURA MATTOS
da Folha de S.Paulo

Se Sol vai ficar com Ed ou Tião hoje, no último capítulo de "América", isso já é um problema dela. O que mobiliza telespectadores e rende até reportagem na imprensa internacional não é o destino da mocinha sofrida de Deborah Secco, mas o beijo gay entre Júnior e Zeca, peão de sua fazenda.

A cena com os atores Bruno Gagliasso e Erom Cordeiro foi gravada na última segunda, no Projac (Rio), e será "de extrema delicadeza, como o tratamento dado à questão ao longo da novela", segundo a autora Glória Perez.

Vai ser um beijo apaixonado, mas num estilo "contido", nada parecido com tantos "calientes" já protagonizados por casais héteros na teledramaturgia --nem com o que o "Carreirinha" Matheus Nachtergaele lascou em Gagliasso numa recente festa da vida real.

OK, sejamos claros: nesta noite não veremos um "selinho", só com os lábios se tocando brevemente, mas também não terá língua. Seja como for, é a primeira intimidade nesse nível entre dois homens em novelas brasileiras.

O tema deixou para trás José Dirceu e cia. ao chamar a atenção do inglês "The Observer". No último domingo, o jornal publicou: o anúncio de que haveria a cena do beijo "chocou um país considerado um dos mais liberais do mundo". Chocou mesmo? Não é o que aponta o "referendo" que veio à tona na Central de Atendimento aos Telespectadores da Globo.

Na semana passada, 53% dos que se manifestavam sobre o tema eram contrários ao beijo, e 47%, favoráveis. Anteontem, quando a polêmica ganhou mais destaque em programas de TV e Júnior e Zeca estavam mais próximos, o "sim" ao beijo disparou: 80% dos telespectadores defendiam que Glória mostrasse a cena.

Jean Wyllys, que ganhou a simpatia do público do "Big Brother" ao assumir sua homossexualidade e venceu a competição, diz não acreditar que haja uma grande rejeição ao beijo. "A sociedade mostrou que vem avançando com essas personagens da ficção."

André Fischer, autor da coluna GLS da Revista da Folha, avalia que "não faria sentido" não mostrar o beijo no último capítulo. "Seria mais um beijo gay que não aconteceu, como na novela "O Rebu", há 30 anos. Em "América", tudo foi construído para que houvesse o beijo no final. Isso já foi mostrado em vários programas, sem problemas. A novela das oito é o último bastião heterossexista."

Com Fischer concorda André Almada, dono da The Week, badalada casa noturna gay de São Paulo. "A TV já mostrou beijos gays várias vezes. Tiveram os da MTV ["Fica Comigo" e "Beija Sapo"] e na semana passada dois meninos deram um de língua no programa da Luciana Gimenez. Se não fosse exibido em "América" seria a comprovação do quão careta e moralista a sociedade pode ser."

Para o diretor teatral José Celso Martinez Corrêa --que tem no currículo peças como "Bacantes", na qual atores tiravam a roupa até de pessoas da platéia--, é um "absurdo" que isso ainda gere polêmica. "É como se estivéssemos discutindo a censura." Ele diz que a TV ainda estava nascendo no Brasil, e o teatro já mostrava pessoas do mesmo sexo se beijando. "A TV é a vanguarda do atraso."

No outro extremo dessa torcida está o deputado estadual do Rio Édino Fonseca, pastor da Assembléia de Deus. Ele é autor de um projeto de lei que obriga o Estado a pagar tratamento psicológico a gays que queiram se "converter" (foi rejeitado na Assembléia, mas será reapresentado por ele no próximo ano). Seu raciocínio: as pessoas não nascem, mas se tornam gays a partir de influências ao longo da vida. Logo, o fato de "América" mostrar "um rapaz bonito como o Bruno Gagliasso" no papel de homossexual "incentiva jovens a ir por esse caminho".

Isso sem falar do fato de a novela não mostrar "o lado negro" do homossexualismo, "que muitos gays sofrem de depressão e se suicidam" e, ao envelhecer, "são chamados de bicha velha e mona".

O beijo desta noite, então, "é uma afronta à tradição social do Brasil", "é lastimável, um absurdo, desrespeita a sociedade".

O deputado certamente ficou mais satisfeito com "Torre de Babel" (98/99), na qual as lésbicas morreram numa explosão em razão da rejeição do público. E não gostou de "Mulheres Apaixonadas" (2003), que mostrou um selinho entre meninas, e "Senhora do Destino" (2004/05), na qual duas namoradas acordaram juntas e seminuas na mesma cama.

Ibope

Fora a consumação do romance gay, esta será a noite do fim (enfim) do martírio de Sol e da decisão: formará um casal de pouca química com Ed (Caco Ciocler) ou de nenhuma química com Tião (Murilo Benício)? Glória Perez decide. E a essa altura --após conseguir colocar a audiência nos trilhos apesar do início litigioso com a direção de Jayme Monjardim e dos controversos rumos da trama --tanto faz. Até o último sábado, marcava 49 pontos no Ibope (cada ponto equivale a 52,3 mil domicílios na Grande SP). Deve terminar abaixo dos 50,5 da antecessora e recordista "Senhora do Destino", mas acima de "O Clone" (47), "Celebridade" e "Mulheres Apaixonadas" (46).

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