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07/11/2005 - 09h16

Saramago mira a humanidade em geral

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MARCELO PEN
crítico da Folha de S. Paulo

A vida ganhou várias definições pouco lisonjeiras ao longo da história. A mais famosa talvez tenha dito o usurpador Macbeth: "A vida é apenas uma sombra errante" etc. Neste novo e badalado -com "lançamento mundial"-- romance de José Saramago, há outra: "A vida é uma orquestra que sempre está tocando, afinada, desafinada, um paquete titanic que sempre afunda e sempre volta à superfície".

A afirmação, menos tenebrosa que a de Shakespeare (porque alude a uma possibilidade de eterno retorno), é cogitada pela "heroína" do romance, a própria morte. Um dos méritos narrativos, aliás, está no fato de esta protagonista só dar as caras, ou melhor, os ossos, lá pela metade da trama. Na primeira parte, ela se ausenta, e é justamente sua ausência que causa a complicação.

"No dia seguinte ninguém morreu": assim inicia a fábula, que em seguida passa a verificar as conseqüências da greve da morte num país imaginário. Entram em cena personagens como o rei, o primeiro-ministro, além dos representantes das funerárias, hospitais, igreja e organização criminosa, que, aqui, autodenomina-se Máphia (assim mesmo, com "ph").

São personagens-tipos, como se vê, que servem para balizar o arcabouço de uma sociedade. Ao contrário do tecido social de "A Jangada de Pedra", não podemos determinar que se trata do povo português. Não só é uma monarquia, não só é cercada por países, como não temos o mar. Se é Portugal, é um Portugal interiorizado, sitiado, murado.

O busílis é o seguinte: as pessoas não morrem, mas também não deixam de envelhecer e de agonizar, ficando num estado sibilino de "vida suspensa", ou "morte parada".

Os hospitais e asilos abarrotam, os agentes funerários ficam incumbidos da inglória tarefa de enterrar animais (esta morte demasiado humana não se ocupa dos bichos nem das plantas), e o cardeal preocupa-se: "Sem morte, não há ressurreição, e sem ressurreição, não há igreja". A confusão é tão grande que mesmo as nações vizinhas, não afetadas pela paralisação mortuária, sentem-se aliviadas por não partilharem o fardo.

Mas então a morte volta, ou aparece, lá pelo meio: com seu feitio esquelético, envolta em mortalha e capuz, é a própria figura que ronda o imaginário popular. Ela começa a enviar cartas a seus próximos alvos, avisando-os para acertarem suas coisas na terra, desde que, em uma semana, viria buscá-los.

Humanidade e morte

Ocorre que um dos "memento mori" retorna. Consultando seus fichários, a morte descobre que o destinatário da carta devolvida é um violoncelista, e se põe a segui-lo. Se, na primeira metade, acompanhamos as peripécias da humanidade quando se vê alijada da morte, agora temos a morte agoniada com a rejeição do homem. Humanidade e morte, uma não parece passar sem a outra. A indissolubilidade da relação é explicitada pela redenção amorosa do final.

Há um ar de conformidade, que combina com o tom passadista da fábula, cujo maior símbolo é o "ph" da máfia local. Além disso, como nesta alegoria os personagens podem ser todo mundo e ninguém, o país, embora com vezo lusitano, torna-se qualquer país.

Em suas últimas ficções, Saramago vem dirigindo o espelho da ficção para a humanidade em geral. Se o escopo totalizador amplia o alcance, dando margem a abundantes inquietações filosóficas, também perde o foco no miúdo, no ser, sítio e situações concretos. "Saberemos cada vez menos o que é um ser humano", diz uma das epígrafes. O homem converte-se, de fato, numa incógnita -assim como a vida comezinha, que o (des)anima.

Veja abaixo a lista dos livros mais vendidos

Ficção

1 - "Memória de Minhas Putas Tristes" - Gabriel García Márquez (ed. Record, R$ 24,90, 128 págs.)
2 - "O Caçador de Pipas" - Khaled Hosseini (ed. Nova Fronteira, R$ 34,90, 368 págs.)
3 - "As Intermitências da Morte" - José Saramago (ed. Companhia das Letras, R$ 35, 208 págs.)
4 - "O Código Da Vinci" - Dan Brown (ed. Sextante, R$ 39,90, 480 págs.)
5 - "Fortaleza Digital" - Dan Brown (ed. Sextante, R$ 29,90, 336 págs.)
6 - "Anjos e Demônios" - Dan Brown (ed. Sextante, R$ 39,90, 464 págs.)
7 - "Quando Nietzsche Chorou" - Irvin D. Yalom (ed. Ediouro, R$ 44, 412 págs.)
8 - "As Crônicas de Nárnia" - Clive Staples Lewis (ed. Martins Fontes, R$ 84,50, 752 págs)
9 - "As Cinco Pessoas que Você Encontra no Céu" - Mitch Albom (ed. Sextante, R$ 19,90, 192 págs)
10 - "Casório?!" - Marian Keys (ed. Bertrand Brasil, R$ 55, 644 págs.)

Não-ficção

1 - "Por Dentro do Governo Lula - Lucia Hippolito (ed. Futura, R$ 29,90, 304 págs.)
2 - "Amor É Prosa, Sexo É Poesia" - Arnaldo Jabor (ed. Objetiva, R$ 29,90,199 págs.)
3 - "Dossiê Brasília - Os Segredos do Presidente - Geneton Moraes Neto (ed. Globo, R$ 29, 272 págs.)
4 - "O Chef Sem Mistérios" - Jamie Oliver (ed. Globo, R$ 68, 256 págs.)
5 - "102 Minutos" - Kevin Flynn e Jim Dwyer (ed. Zahar, R$ 34,50, 332 págs.)
6 - "Chaves - Foi Sem Querer Querendo? - Luiz Joly, Fernando Thuler e Paulo Franco (ed. Matrix, R$ 27, 160 págs.)
7 - "Perdas & Ganhos" - Lya Luft (ed. Record, R$ 21,90, 128 págs.)
8 - "Almanaque Anos 80" - Luiz André Alzer e Mariana Claudino (ed. Ediouro, R$ 49, 304 págs.)
9 - "A Arte Secreta de Michelangelo" - Gilson Barreto e Marcelo Ganzarolli de Oliveira (ed. Arx, R$ 65, 224 págs.)
10 - "Esquadrão da Moda" - Susannah Constantini e Trinny Woodall (ed. Globo, R$ 38, 144 págs.)

Auto-ajuda e negócios

1 - "O Monge e o Executivo" - James Hunter (ed. Sextante, R$ 19,90, 144 págs.)
2 - "Jesus, o Maior Psicólogo que Já Existiu" - Mark Baker (ed. Sextante, R$ 19,90, 192 págs.)
3 - "Heróis de Verdade" - Roberto T. Shiniyashiki (ed. Gente, R$ 25, 160 págs.)
4 - "Superdicas para Falar Bem em Conversas e Apresentações" (ed. Saraiva, R$ 9,90, 136 págs.)
5 - "Nunca Desista de seus Sonhos" - Augusto Jorge Cury (ed. Sextante, R$ 19,90, 160 págs.)
6 - "Adolescentes - Quem Ama, Educa" - Içami Tiba (ed. Integrare, R$ 39,90, 304 págs.)
7 - "Como Trabalhar para um Idiota" - John Hoover (ed. Futura, R$ 29,90, 264 págs.)
8 - "Pais Brilhantes, Professores Fascinantes" - Augusto Jorge Cury (ed. Sextante, R$ 19,90, 174 págs.)
9 - "Não Leve a Vida Tão a Sério" - Hugh Prather (ed. Sextante, R$ 19,90, 160 págs.)
10 - "Freakonomics" - Stephen J. Dubner (ed. Campus - R$ 45, 266 págs.)

A lista é feita com base na soma do número de exemplares vendidos entre 25/10 e 31/10, divulgado pelas seguintes livrarias: Siciliano (todo o país), Saraiva (todo o país), Laselva (todo o país), Sodiler (Rio de Janeiro, Brasília, Recife, Maceió, Natal), Cultura (São Paulo, Porto Alegre e Recife), Fnac (São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Brasília), Livraria da Vila (São Paulo), Nobel (São Paulo), e Livrarias Curitiba (Curitiba, Londrina, Florianópolis, Joinville, Porto Alegre)

Especial
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