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10/11/2005 - 14h07

Crítica: CD de Madonna é o mais gay

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SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online

O novo CD de Madonna, 47, é o mais gay de sua carreira. "Confessions on a Dance Floor" tem influências setentistas, abusa dos remixes e coloca a legião de fãs no clima do lendário Studio 54, casa noturna que simbolizou os anos 70 em Nova York.

Divulgação
Lançamento está previsto para dia 15 de novembro
Para lucrar, Madonna dança conforme a música
O novo trabalho chega oficialmente às lojas no próximo dia 15, mas a turminha modernete e os fãs mais obcecados já conseguiram baixar as 12 músicas e dispararam cópias pelo planeta, discriminando o universo entre "os que já ouviram" (antenados, conectados e iPodizados) e "os que ainda não ouviram" (aqueles que ainda usam fones de fio preto).

As faixas do novo CD são bastante parecidas, reforçando o tom "dance music" do produto. É descarada a intenção do disco de grudar no ouvido e restabelecer o reinado de Madonna nas pistas descoladas. Ela andava meio sumida, com os fãs roxos fingindo que seu ícone pop ainda reinava, enquanto os mais jovens voltam seus fones para bandas recém-lançadas ou rebeldes de butique como Avril Lavigne.

Mantra do verão

De fato, "Hung Up", a canção que abre o álbum, é a melhor tradução para o novo CD de Madonna. Basta uma audição para a música martelar em sua cabeça e pintar uma louca vontade de dançar, como também "Push" e "How High".

Nada de novo no mundo. É apenas a versão loira (ou ruiva?) de Donna Summer, cujos samples foram usados por Madonna, dando a impressão de que o CD inteiro é uma única melodia remixada. Uma forte candidata à refrão [ou mantra] do verão vem da faixa "Future Lovers": "Give me evidence of its brilliance" (Me dê a prova do brilho do amor).

Como sempre acontece, haverá quem vai atirar pedras: o disco é previsível, sem inovação, pensado para vender como água, explorando comercialmente o sucesso de Madonna entre os gays --principalmente os balzaquianos que ouviram a "material girl" nos anos 80 e alimentam a nostalgia de um tempo de inocência, quando pintar os cabelos, colocar tatuagem e vestir roupas rasgadas, pretas e de couro eram sinais de rebeldia juvenil -- hoje totalmente incorporados à indústria da moda e banalizados por tribos caretas.

Realmente, não há nada de revolucionário em "Confessions on a Dance Floor", que tem um foco bem definido de colocar no mercado um produto sem risco comercial, sem experimentalismo --vamos deixar essas façanhas e ilusões de revolucionar a música para gente como Bjork.

Uma prova do planejamento científico na escolha do repertório: na canção "Hung Up", Madonna e seus produtores bebem na fonte do grupo sueco Abba, sucesso comercial nos anos 70 --na visão dos "teens", hoje é banda de "tiozinho", mas remete ao clima retrô tão em moda atualmente.

Cabala e NY

No melhor momento "Ray of Light" (1998), no tempo em que todo mundo queria incluir em seus discos uma canção "indiana e new age", Madonna traz em seu novo trabalho a música "Isaac" --para ressaltar o seu compromisso com o oriente, com a "cabala" e dar um verniz "espiritual".

Um momento "ninguém merece" do novo CD é "I Love New York". É a estratégia de capitalizar o nacionalismo da patriotada, em tempos de guerra ao terror. Ela já usou essa artimanha em "American Life" (2003), seu disco anterior. Pode funcionar com os americanos, mas pega mal no resto do mundo.

Além disso, como assim "Eu amo Nova York"? Madonna trocou os EUA pela Inglaterra e posa até alimentando galinhas em cenário de castelo como uma típica inglesa endinheirada.

Enfim, a exemplo de coração de mãe, coração de pop star também é um latifúndio. Sempre cabe mais um ("I Love Brazil, I Love Argentina"). Desde que, no final, tudo se reverta em lucros.

Madonna dança conforme a música. Parece fácil, mas Michael Jackson e Prince são provas de que é preciso rebolar muito para manter intacto por décadas o mito de ícone pop, principalmente nestes tempos em que todo mundo acha que pode ser artista, gravar um CD e montar uma banda.

Especial
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