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15/11/2005
-
11h58
ADRIANA FERREIRA SILVA
da Folha de S.Paulo
A arma mais poderosa dos Estados Unidos não está apontada para o Iraque, mas para o mundo todo. De São Paulo aos tumultuados subúrbios parisienses, de Tóquio à capital senegalesa Dacar, todos estão na mira de um artifício muito mais eficaz do que qualquer bombardeio: o hip hop.
Quem defende isso é o jornalista havaiano radicado nos Estados Unidos Jeff Chang, 37, que há 14 anos escreve e milita no movimento. Criado na periferia de Nova York, o hip hop se espalhou e foi assimilado por uma geração que, muito mais do que requebrar ao suingue do rap, encontrou identificação nas letras e na forma de se vestir e de dançar.
Coadjuvante nessa história, Chang reuniu suas pesquisas e o resultado está no livro "Can't Stop, Won't Stop - A History of the Hip Hop Generation" (não pode parar, não vai parar - uma história da geração hip hop).
Lançado nos EUA no primeiro semestre deste ano, o livro ganhou o American Book Award, da Fundação Columbia, que premia escritores contemporâneos, e vem colecionando boas críticas de dezenas de publicações. Para a revista "New Yorker", por exemplo, "o nascimento do hip hop das ruínas do Bronx é uma história que foi contada muitas vezes, mas nunca com a análise e o alcance que Chang trouxe". Já o badalado site de música Pitchfork Media classificou o livro como "o melhor já escrito sobre o hip hop".
O contraponto veio do jornal "The New York Times", destacando que Chang deixa de levantar questões polêmicas, como o fato de o rapper Ice Cube ter insultado os americanos descendentes de coreanos e de Chuck D., do Public Enemy, não ter denunciado seus colegas anti-semitas. Como resultado, "sua [de Chang] provocativa e brilhante história perde a forma e o foco".
O caso é que, contra ou a favor, "Can't Stop, Won't Stop" chamou a atenção da mídia de vários países, incluindo a deste jornal, porque expande os aclamados quatro elementos que formam a cultura hip hop --break dance, grafite, DJ e MC--, para destrinchar sua verve política.
Ao contrário das cronologias que determinam seu início em 1979, ano em que foi lançado o CD "Rapper's Delight", do Sugar Hill Gang, o jornalista afirma que ele surgiu em 1968, em meio à decadência do bairro nova-iorquino Bronx. Indo e voltando no tempo, Chang costura os principais momentos políticos do movimento negro e do hip hop, lembrando que o estilo só ganhou o "mainstream" em 1992, depois dos intensos distúrbios entre gangues de Los Angeles.
Para entender essa história, leia trechos de sua entrevista à Folha.
Folha - Por que escolheu enfatizar os aspectos "culturais" e "políticos" do hip hop?
Jeff Chang - Meu engajamento com o hip hop vem de quando a cultura era explicitamente política, mais especificamente durante os anos 80 e 90, antes de ser absorvida pelos conglomerados globais de entretenimento. Sempre vi esse movimento pelo olhar daqueles que estavam na base e, então, quis capturar isso em "Can't Stop Won't Stop". É por isso que meu livro vai e volta no tempo dentro do ambiente político e cultural.
Folha - Quantas pessoas você entrevistou para escrever o livro?
Chang - Cem ou mais. Queria falar com gente como Benjamin Melendez e Carlos Suarez, da [gangue] Ghetto Brothers, DJ Kool Herc, Afrika Bambaataa, Grandmaster Flash, Crazy Legs, Lady Pink e outros que têm um papel fundamental na cultura.
Folha - Você defende que o hip hop nasceu no Bronx [Nova York], em 1968. Poderia contextualizar o cenário onde surgiu o movimento?
Chang - O hip hop é uma cultura de rua que reflete o abandono das vizinhanças do Bronx. Nos anos 60, metade dos brancos tinham mudado da área, o governo retirou seus serviços e os empregos deixaram o bairro. Aqueles que ficaram no Bronx eram extremamente pobres e os imóveis se desvalorizaram rapidamente. O paralelo com Nova Orleans e muitas outras cidades do mundo é claro. Nessa situação, com a região abandonada pelos negócios, pelo governo e pelos jovens brancos, os que ficaram formaram gangues para se proteger. No final de 1968 --um ano histórico de protestos juvenis mundiais--, parte do Bronx estava tomada por gangues e traficantes. A violência chegou ao auge em 1971, e as gangues se reuniram para formalizar o maior tratado de paz que Nova York havia visto.
Folha - Nesse cenário, o que levou ao surgimento do hip hop?
Chang - A cultura hip hop é um efeito direto desse histórico acordo de paz. Depois de 1971, todo o Bronx mudou. Como os territórios das gangues não eram tão importantes, os jovens passaram a sair e se encontrar em festas onde expressavam seu estilo. Quando as festas do DJ Kool Herc começaram, os jovens estavam procurando por uma alternativa.
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da Folha de S.Paulo
A arma mais poderosa dos Estados Unidos não está apontada para o Iraque, mas para o mundo todo. De São Paulo aos tumultuados subúrbios parisienses, de Tóquio à capital senegalesa Dacar, todos estão na mira de um artifício muito mais eficaz do que qualquer bombardeio: o hip hop.
Quem defende isso é o jornalista havaiano radicado nos Estados Unidos Jeff Chang, 37, que há 14 anos escreve e milita no movimento. Criado na periferia de Nova York, o hip hop se espalhou e foi assimilado por uma geração que, muito mais do que requebrar ao suingue do rap, encontrou identificação nas letras e na forma de se vestir e de dançar.
Coadjuvante nessa história, Chang reuniu suas pesquisas e o resultado está no livro "Can't Stop, Won't Stop - A History of the Hip Hop Generation" (não pode parar, não vai parar - uma história da geração hip hop).
Lançado nos EUA no primeiro semestre deste ano, o livro ganhou o American Book Award, da Fundação Columbia, que premia escritores contemporâneos, e vem colecionando boas críticas de dezenas de publicações. Para a revista "New Yorker", por exemplo, "o nascimento do hip hop das ruínas do Bronx é uma história que foi contada muitas vezes, mas nunca com a análise e o alcance que Chang trouxe". Já o badalado site de música Pitchfork Media classificou o livro como "o melhor já escrito sobre o hip hop".
O contraponto veio do jornal "The New York Times", destacando que Chang deixa de levantar questões polêmicas, como o fato de o rapper Ice Cube ter insultado os americanos descendentes de coreanos e de Chuck D., do Public Enemy, não ter denunciado seus colegas anti-semitas. Como resultado, "sua [de Chang] provocativa e brilhante história perde a forma e o foco".
O caso é que, contra ou a favor, "Can't Stop, Won't Stop" chamou a atenção da mídia de vários países, incluindo a deste jornal, porque expande os aclamados quatro elementos que formam a cultura hip hop --break dance, grafite, DJ e MC--, para destrinchar sua verve política.
Ao contrário das cronologias que determinam seu início em 1979, ano em que foi lançado o CD "Rapper's Delight", do Sugar Hill Gang, o jornalista afirma que ele surgiu em 1968, em meio à decadência do bairro nova-iorquino Bronx. Indo e voltando no tempo, Chang costura os principais momentos políticos do movimento negro e do hip hop, lembrando que o estilo só ganhou o "mainstream" em 1992, depois dos intensos distúrbios entre gangues de Los Angeles.
Para entender essa história, leia trechos de sua entrevista à Folha.
Folha - Por que escolheu enfatizar os aspectos "culturais" e "políticos" do hip hop?
Jeff Chang - Meu engajamento com o hip hop vem de quando a cultura era explicitamente política, mais especificamente durante os anos 80 e 90, antes de ser absorvida pelos conglomerados globais de entretenimento. Sempre vi esse movimento pelo olhar daqueles que estavam na base e, então, quis capturar isso em "Can't Stop Won't Stop". É por isso que meu livro vai e volta no tempo dentro do ambiente político e cultural.
Folha - Quantas pessoas você entrevistou para escrever o livro?
Chang - Cem ou mais. Queria falar com gente como Benjamin Melendez e Carlos Suarez, da [gangue] Ghetto Brothers, DJ Kool Herc, Afrika Bambaataa, Grandmaster Flash, Crazy Legs, Lady Pink e outros que têm um papel fundamental na cultura.
Folha - Você defende que o hip hop nasceu no Bronx [Nova York], em 1968. Poderia contextualizar o cenário onde surgiu o movimento?
Chang - O hip hop é uma cultura de rua que reflete o abandono das vizinhanças do Bronx. Nos anos 60, metade dos brancos tinham mudado da área, o governo retirou seus serviços e os empregos deixaram o bairro. Aqueles que ficaram no Bronx eram extremamente pobres e os imóveis se desvalorizaram rapidamente. O paralelo com Nova Orleans e muitas outras cidades do mundo é claro. Nessa situação, com a região abandonada pelos negócios, pelo governo e pelos jovens brancos, os que ficaram formaram gangues para se proteger. No final de 1968 --um ano histórico de protestos juvenis mundiais--, parte do Bronx estava tomada por gangues e traficantes. A violência chegou ao auge em 1971, e as gangues se reuniram para formalizar o maior tratado de paz que Nova York havia visto.
Folha - Nesse cenário, o que levou ao surgimento do hip hop?
Chang - A cultura hip hop é um efeito direto desse histórico acordo de paz. Depois de 1971, todo o Bronx mudou. Como os territórios das gangues não eram tão importantes, os jovens passaram a sair e se encontrar em festas onde expressavam seu estilo. Quando as festas do DJ Kool Herc começaram, os jovens estavam procurando por uma alternativa.
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