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20/11/2005
-
15h29
LAURA MATTOS
da Folha de S.Paulo
Imagine uma televisão sem João Kléber, Ratinho e Márcia Goldschmidt. Pois o sonho de consumo da patrulha antibaixaria tem chance de se realizar. Os três grandes ícones da programação trash brasileira sofreram fortes golpes recentemente e correm o risco de levar cartão vermelho das emissoras que hoje os abrigam.
Com a possível queda do "império" surgido há quase dez anos e marcado por brigas no palco, testes de DNA e de fidelidade, pegadinhas e dramas forjados, surge a nova fase do mau gosto, movida a auto-ajuda e a fofoca de pseudo-celebridades. Da nova vertente, os maiores representantes são Luciana Gimenez, com o "Superpop" (Rede TV!), e Gilberto Barros, do "Boa Noite, Brasil" (Band).
No sapato da, digamos, "velha-guarda" trash há três pedras: 1) o ibope já não é mais o mesmo dos áureos tempos; 2) grandes anunciantes se afastaram pressionados pela campanha Quem Financia a Baixaria É contra a Cidadania, da Câmara dos Deputados; 3) o Ministério Público criou uma estrutura de controle da programação e endureceu com as redes.
Pára, pára, pára
É exatamente essa lista tríplice de argumentos que faz com que a cúpula da Rede TV! esteja seriamente inclinada a se livrar de João Kléber e de seu bordão "pára, pára, pára" a partir de 2006.
No Ibope, seu desempenho já não é dos melhores. A situação de João Kléber se agravou muito na semana passada, quando a Justiça tirou a Rede TV! do ar em São Paulo em razão de seu programa "Tarde Quente".
Desta vez, a denúncia foi por ofensa a homossexuais, mas o apresentador já foi acusado de humilhar mulheres, de armar o "Teste de Fidelidade" e outras brigas e até de simular o próprio desmaio ao vivo. Liderou por várias vezes o ranking da baixaria da Câmara dos Deputados. Diante de tanta confusão e de uma imagem cada vez pior, João Kléber perdeu um de seus grandes financiadores, a Marabraz.
Assim que foi informada da liminar que determinava a suspensão do "Tarde Quente" por 60 dias, a direção da rede de móveis decidiu cortar o patrocínio ao programa do apresentador. Em comunicado, a empresa afirmou que sua "missão é trabalhar para o bem-estar de seus consumidores e da comunidade".
"Por isso, em virtude das ações contra a veiculação de programas que incentivam a baixaria na TV, a empresa optou por atender aos anseios da comunidade, suspendendo o patrocínio ao programa "Tarde Quente", de João Kléber."
Esse pode ter sido o xeque-mate contra o apresentador. A Folha deixou recado em seu celular, mas não obteve retorno até a conclusão desta edição, na noite de quinta.
A assessoria de imprensa da Rede TV! afirmou que o apresentador estava em Portugal, onde seu programa é exibido com sucesso de audiência.
Em junho deste ano, quando liderou o ranking da campanha contra a baixaria, o apresentador deu a seguinte declaração à Folha: "Eu procurei a organização da campanha para me informar sobre os critérios do ranking, mas percebi que se pretende interferir na liberdade de criação e de expressão artística, como que querendo impor ao telespectador o que ele deve ou não assistir. Ao que parece, a grande inovação tecnológica chamada controle remoto não chegou ao conhecimento de alguns".
Na toca
Espécie de "pai" de João Kléber, Carlos Massa, o Ratinho, há tempos já não é mais o mesmo que surrava a mesa com um cassetete, gritava sem parar e quebrava televisores diante das câmeras. Sua mudança para um programa mais "light" é reflexo da pressão de ações judiciais por danos morais, falta de anunciantes de grande porte e queda de audiência.
Diante disso, Silvio Santos colocou em prática sua especialidade: mudar várias vezes o programa de formato e de horário.
Só neste ano, o "Programa do Ratinho" foi trocado quatro vezes de lugar na grade de programação. Terminou fora do horário nobre (ocupado por Ana Paula Padrão e novelas) e teve de engolir o vespertino, com menos telespectadores. Além disso, Silvio Santos cogitou trocar seu nome para "Isto É Brasil", "Ratinho Late Show" e até "Ratinho Charmoso" (numa tentativa de "suavizar" a imagem do apresentador).
Resolveu manter o clássico, mas mudar o formato. Ratinho é agora âncora de um "jornalístico" popular, com reportagens de comportamento e auto-ajuda de saúde.
Diante de tantas mudanças, Carlos Massa está enfraquecido nos bastidores e enfrenta especulações de novas trocas de horário e até da possibilidade de Silvio Santos não renovar seu contrato.
Ratinho foi procurado pela Folha por meio de sua assessoria de imprensa, que não retornou as ligações até a conclusão desta edição. A assessoria do SBT nega que a emissora tenha planos de tirar o "Programa do Ratinho" do ar. Afirma que "o conteúdo foi alterado, o que gerou qualificação de público e de anunciantes".
Saias
Representante feminina da década trash, Márcia Goldschmidt já foi apelidada de "João Kléber de saias" e, assim como ele, vive uma crise profissional. Neste ano, a Bandeirantes a vendeu como a "Oprah" brasileira (em referência à bem-sucedida apresentadora norte-americana), apostando numa "plástica" capaz de tirar de Márcia a imagem de "barraqueira". Não colou. Dois meses após a estréia de seu "Jogo da Vida" diário, a direção da Band decidiu suspender as gravações. As reprises vão ao ar até dezembro, e em 2006 o programa sai do ar.
A reportagem deixou recado no celular da apresentadora, mas também não obteve resposta. Em agosto, ao ser questionada pela Folha se conseguiria apagar sua imagem do passado, ela respondeu: "Acho que essa imagem não existe, é uma percepção errada.
A Band não apostaria numa apresentadora com uma imagem prejudicial. Pode ser que em algum momento tratar da realidade tenha sido considerado barraco, mas então a vida é um grande barraco e não posso fazer nada".
Por último, há Sérgio Mallandro, com um programa trash independente exibido aos sábados na Gazeta, que, não raro, registra traço de audiência no Ibope.
Especial
Leia mais sobre a campanhha "Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania
TVs podem tirar do ar ícones da baixaria
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da Folha de S.Paulo
Imagine uma televisão sem João Kléber, Ratinho e Márcia Goldschmidt. Pois o sonho de consumo da patrulha antibaixaria tem chance de se realizar. Os três grandes ícones da programação trash brasileira sofreram fortes golpes recentemente e correm o risco de levar cartão vermelho das emissoras que hoje os abrigam.
Com a possível queda do "império" surgido há quase dez anos e marcado por brigas no palco, testes de DNA e de fidelidade, pegadinhas e dramas forjados, surge a nova fase do mau gosto, movida a auto-ajuda e a fofoca de pseudo-celebridades. Da nova vertente, os maiores representantes são Luciana Gimenez, com o "Superpop" (Rede TV!), e Gilberto Barros, do "Boa Noite, Brasil" (Band).
No sapato da, digamos, "velha-guarda" trash há três pedras: 1) o ibope já não é mais o mesmo dos áureos tempos; 2) grandes anunciantes se afastaram pressionados pela campanha Quem Financia a Baixaria É contra a Cidadania, da Câmara dos Deputados; 3) o Ministério Público criou uma estrutura de controle da programação e endureceu com as redes.
Pára, pára, pára
É exatamente essa lista tríplice de argumentos que faz com que a cúpula da Rede TV! esteja seriamente inclinada a se livrar de João Kléber e de seu bordão "pára, pára, pára" a partir de 2006.
No Ibope, seu desempenho já não é dos melhores. A situação de João Kléber se agravou muito na semana passada, quando a Justiça tirou a Rede TV! do ar em São Paulo em razão de seu programa "Tarde Quente".
Desta vez, a denúncia foi por ofensa a homossexuais, mas o apresentador já foi acusado de humilhar mulheres, de armar o "Teste de Fidelidade" e outras brigas e até de simular o próprio desmaio ao vivo. Liderou por várias vezes o ranking da baixaria da Câmara dos Deputados. Diante de tanta confusão e de uma imagem cada vez pior, João Kléber perdeu um de seus grandes financiadores, a Marabraz.
Assim que foi informada da liminar que determinava a suspensão do "Tarde Quente" por 60 dias, a direção da rede de móveis decidiu cortar o patrocínio ao programa do apresentador. Em comunicado, a empresa afirmou que sua "missão é trabalhar para o bem-estar de seus consumidores e da comunidade".
"Por isso, em virtude das ações contra a veiculação de programas que incentivam a baixaria na TV, a empresa optou por atender aos anseios da comunidade, suspendendo o patrocínio ao programa "Tarde Quente", de João Kléber."
Esse pode ter sido o xeque-mate contra o apresentador. A Folha deixou recado em seu celular, mas não obteve retorno até a conclusão desta edição, na noite de quinta.
A assessoria de imprensa da Rede TV! afirmou que o apresentador estava em Portugal, onde seu programa é exibido com sucesso de audiência.
Em junho deste ano, quando liderou o ranking da campanha contra a baixaria, o apresentador deu a seguinte declaração à Folha: "Eu procurei a organização da campanha para me informar sobre os critérios do ranking, mas percebi que se pretende interferir na liberdade de criação e de expressão artística, como que querendo impor ao telespectador o que ele deve ou não assistir. Ao que parece, a grande inovação tecnológica chamada controle remoto não chegou ao conhecimento de alguns".
Na toca
Espécie de "pai" de João Kléber, Carlos Massa, o Ratinho, há tempos já não é mais o mesmo que surrava a mesa com um cassetete, gritava sem parar e quebrava televisores diante das câmeras. Sua mudança para um programa mais "light" é reflexo da pressão de ações judiciais por danos morais, falta de anunciantes de grande porte e queda de audiência.
Diante disso, Silvio Santos colocou em prática sua especialidade: mudar várias vezes o programa de formato e de horário.
Só neste ano, o "Programa do Ratinho" foi trocado quatro vezes de lugar na grade de programação. Terminou fora do horário nobre (ocupado por Ana Paula Padrão e novelas) e teve de engolir o vespertino, com menos telespectadores. Além disso, Silvio Santos cogitou trocar seu nome para "Isto É Brasil", "Ratinho Late Show" e até "Ratinho Charmoso" (numa tentativa de "suavizar" a imagem do apresentador).
Resolveu manter o clássico, mas mudar o formato. Ratinho é agora âncora de um "jornalístico" popular, com reportagens de comportamento e auto-ajuda de saúde.
Diante de tantas mudanças, Carlos Massa está enfraquecido nos bastidores e enfrenta especulações de novas trocas de horário e até da possibilidade de Silvio Santos não renovar seu contrato.
Ratinho foi procurado pela Folha por meio de sua assessoria de imprensa, que não retornou as ligações até a conclusão desta edição. A assessoria do SBT nega que a emissora tenha planos de tirar o "Programa do Ratinho" do ar. Afirma que "o conteúdo foi alterado, o que gerou qualificação de público e de anunciantes".
Saias
Representante feminina da década trash, Márcia Goldschmidt já foi apelidada de "João Kléber de saias" e, assim como ele, vive uma crise profissional. Neste ano, a Bandeirantes a vendeu como a "Oprah" brasileira (em referência à bem-sucedida apresentadora norte-americana), apostando numa "plástica" capaz de tirar de Márcia a imagem de "barraqueira". Não colou. Dois meses após a estréia de seu "Jogo da Vida" diário, a direção da Band decidiu suspender as gravações. As reprises vão ao ar até dezembro, e em 2006 o programa sai do ar.
A reportagem deixou recado no celular da apresentadora, mas também não obteve resposta. Em agosto, ao ser questionada pela Folha se conseguiria apagar sua imagem do passado, ela respondeu: "Acho que essa imagem não existe, é uma percepção errada.
A Band não apostaria numa apresentadora com uma imagem prejudicial. Pode ser que em algum momento tratar da realidade tenha sido considerado barraco, mas então a vida é um grande barraco e não posso fazer nada".
Por último, há Sérgio Mallandro, com um programa trash independente exibido aos sábados na Gazeta, que, não raro, registra traço de audiência no Ibope.
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