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07/12/2005 - 17h00

Crítica: Luana leva 6 meses para ler livro

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SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online

A atriz Luana Piovani, 29, levou seis meses para ler o clássico "Cem Anos de Solidão" (1967), do escritor colombiano Gabriel García Márquez, 77, Nobel de Literatura de 1982. Como o livro tem 384 páginas, isso significa que ela leu apenas duas páginas por dia, em média.

Chris von Ameln/Folha Imagem
Piovani firma na mídia imagem de "bonita com cérebro"
Piovani firma na mídia imagem de "bonita com cérebro"
Em seu blog, Piovani comenta a façanha com entusiasmo: "Terminei de ler meu último companheiro de 6 meses, meu fiel amigo de cabeceira, meu gorducho livro! Gabriel e eu realmente nos entendemos! Cem Anos de Solidão me fez viajar por lugares quentes, me apresentou mulheres loucas e admiráveis e ainda me descreveu uma cena de amor enfestada [sic, o correto é infestada] de borboletas amarelas."

Considerando a média diária de duas páginas, a atriz vai levar quase quatro anos para ler os seis livros da série "Harry Potter", que possuem, em português, mais de 2.700 páginas. Em dois meses, ela consegue "matar" o novo sucesso de García Márquez, "Memória de Minhas Putas Tristes" (128 páginas).

A descoberta da literatura clássica foi festejada por Piovani em seu blog: "Despedi-me dele feliz, cheia de histórias novas e com uma sensação boa de respeito por uma coisa tão simples, pequena e poderosa: o livro! Agora ele tá lá, na minha estante."

Verniz na carreira

A ode de Piovani ao livro se encaixa em sua tentativa de dar um verniz intelectual a sua carreira. A atriz quer se livrar do estigma de "modelo gostosa", explorado à exaustão pela mídia de celebridades, e tocar um projeto de carreira mais sério, digamos, "quero ser Fernanda Montenegro".

É bom lembrar que Fernanda Montenegro é uma atriz de 76 anos que só neste ano já emplacou um sucesso no cinema ("Casa de Areia") e dois na TV (minissérie "Hoje É Dia de Maria" e a novela "Belíssima"), enquanto a lembrança mais viva de Piovani é sua saga para fugir das "sandálias da humildade" da turma do "Pânico na TV", após sofrer um aborto, no segundo semestre de 2004.

O problema é que a reviravolta de imagem perseguida pela atriz, já tentado sem sucesso por outras beldades, exige um esforço bem maior do que a leitura de "Cem Anos de Solidão".

Por exemplo, em fevereiro deste ano, a cantora Wanessa Camargo --outra que sonha em ser reconhecida como uma artista de prestígio com a crítica-- protagonizou uma campanha de incentivo à leitura. De óculos, com ar sério, ela posou com um livro nas mãos.

Bonita, mas com cérebro

Piovani também reduziu seus ensaios sensuais e investe na imagem de "bonita, mas com cérebro". Às quarta-feiras, ele discute tudo --da política à cirurgia plástica-- no programa "Saia Justa", exibido na GNT. Ela tem batido também na tecla de "sou uma atriz de cinema", uma área que dá, supostamente, mais prestígio do que a TV.

Em 2003, ela fez o filme "O Homem Que Copiava", de Jorge Furtado, no qual interpretava Marinês, colega de André (vivido pelo ator baiano Lázaro Ramos) na papelaria. Neste ano, foi a estrela de "O Casamento de Romeu e Julieta", de Bruno Barreto, e, em 2006, vai aparecer como Elke Maravilha no filme sobre Zuzu Angel.

Cinema e prestígio

Além da literatura, a atriz aposta na retórica de valorização do cinema nacional. Em seu blog, ela dispara: "Tudo bem que ainda não vi, mas tô louca pra conseguir um tempinho e matar a curiosidade sobre os filmes 'Cidade Baixa' e o 'Cinemas, urubus e aspirinas' [na verdade, "Cinema, Aspirinas e Urubus"]. Já soube por todos os meus amigos que os dois são fabulosos... Dá-lhe cinema nacional..."

É difícil um símbolo sexual arrancar aplausos da crítica por sua atuação em um filme. Que o diga Adriane Galisteu, que foi espinafrada em setembro deste ano por sua interpretação sofrível em "Coisa de Mulher", primeira produção da SBT Filmes.

Obviamente, é uma injustiça comparar a "arte" de Galisteu com a de Piovani, que demonstra esforço para fugir do destino de "rostinho bonito". Piovani tem mais "densidade" e "personalidade", digamos. Aceita riscos, sem explicitar medo do ridículo --no teatro, fez o infantil "Alice no País das Maravilhas" e atacou de humorista no global "Casseta & Planeta".

Ela simula um ódio à mídia de celebridades e difunde uma imagem de "pavio curto", embora saiba direitinho fazer o jogo da exposição pública com suas cruzadas de pernas reveladoras diante dos fotógrafos, sua vida amorosa e suas baladas na boate Vegas, no submundo da rua Augusta.

Blog e publicidade

Escrever um blog para promover seus passos e se comunicar com os fãs e imprensa foi uma boa estratégia de Piovani para se manter sempre em evidência. Obviamente o autor do blog tem a liberdade de escrever livremente, sobre todos os assuntos --Bruna Surfistinha que o diga. Também ninguém é obrigado a fazer um curso de leitura dinâmica para consumir um livro em poucas horas.

Na edição de novembro da revista TPM, voltada para as mulheres descoladas, Piovani aparece na capa com lágrimas nos olhos para ilustrar uma reportagem sobre o choro feminino. Na sessão de fotos, ela chorou de verdade, dizem. É um reforço à imagem de mulher sensível de Piovani, suavizando mais uma vez o preconceito de "loira burra e destrambelhada".

PS: Após a divulgação desta crítica, Luana corrigiu os erros apontados ("Eu li a crítica sim, mas nem liguei... O que me deixou fula da vida foi que os dois erros que ele citava realmente aconteceram, aí não dá pra dizer nada... Mole meu, da minha assistente e do meu editor", escreveu Luana em resposta à mensagem de uma fã.

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