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15/12/2005 - 11h59

Liberdade marca novo "King Kong"

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MARY PERSIA
da Folha Online

Peter Jackson bem que avisou: este é o "seu" "King Kong", refilmagem do clássico de 1933 pelo qual o cineasta se apaixonou aos nove anos. Aos 44, e após o sucesso da trilogia "O Senhor dos Anéis", o diretor neozelandês fez a Universal Pictures abraçar o projeto, gastou mais de US$ 200 milhões (um dos maiores votos de confiança da indústria cinematográfica) e esticou a história, que debutou nas telas com uma hora e quarenta minutos e agora tem três horas.

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Foram gastos mais de US$ 200 milhões na produção
Foram gastos mais de US$ 200 milhões na produção
Não apenas pela tecnologia, a produção deste "King Kong", que estréia nesta sexta-feira, foi bem diferente da realizada 72 anos atrás por Merian C. Cooper (co-direção de Ernest B. Schoedsack). A versão dos anos 30 ficou a cargo de uma produtora que estava no buraco, a RKO, a um custo de US$ 670 mil (US$ 10 milhões nos dias de hoje). A arrecadação de US$ 1,75 milhão (quase US$ 27 milhões atuais) salvou a empresa. Concebido como um blockbuster, o filme de 2005 estréia com a expectativa de dominar platéias do mundo inteiro e dar a Jackson alguns prêmios --enquanto a lista dos indicados ao Oscar não sai, Jackson concorre como melhor diretor no Globo de Ouro com sua superprodução, que também deu a James Newton Howard uma indicação pela trilha sonora.

Neste começo de século, o rei Kong naturalmente saiu ganhando ao abandonar o stop-motion e entrar para a era digital. Mas não perdeu a aura antiga: há, ainda, algo no longa-metragem de Jackson que remete a 1933, como uma homenagem aos anos da Depressão norte-americana.

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Naomi Watts vive Ann Darrow
Naomi Watts vive Ann Darrow
É nessa época que o filme se situa, com uma Nova York decadente como cenário para a história do cineasta Carl Denham (Jack Black, de "Escola de Rock"), que tenta tocar seu filme mesmo desacreditado pelo estúdio para o qual trabalha. Determinado a filmar na desconhecida Ilha da Caveira, ele consegue enrolar o escritor e roteirista Jack Driscoll (Adrien Brody, de "O Pianista") e a paupérrima atriz do teatro de vaudeville Ann Darrow (Naomi Watts, de "O Chamado", nunca tão parecida com Nicole Kidman como agora), fazendo-os embarcar no S.S. Venture com sua reduzida equipe.

Com um roteiro claramente dividido em três partes (Nova York, Ilha da Caveira e volta a Nova York), o longa-metragem faz suspense sobre a criatura gigante. Só apresenta o gorila em seu segundo terço, justamente quando mais se notam os efeitos especiais --de que Jackson abusou nessa fase, inserindo longas cenas em que a fauna da ilha tenta picar, morder ou estraçalhar as equipes do cineasta e da embarcação. Descartáveis para muitos, esses minutos devem fazer a alegria da garotada.

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Produção dura três horas
Produção dura três horas
Com tecnologia à vontade, Kong está visualmente diferente. Essa mudança, porém, não é apenas externa. A produção explora a face mais emocional do animal, aproximando-o do ser humano, pelas atitudes ou mesmo pelas expressões da sua cara --obtidas por meio da técnica "mo-cap" (captura de movimentos), que esquadrinhou as expressões do ator Andy Serkis com 132 sensores e as repassou a Kong. Para conferir de quem é o olhar do gorila, vale ficar de olho no cozinheiro do barco, Lumpy. Ele, que estudou gorilas em Ruanda e ficou amigo de uma fêmea da espécie em um zoológico próximo a Londres, também emprestou suas expressões a Gollum, de "O Senhor dos Anéis".

Pode ser que Jackson tenha exagerado na dose de "humanização" de Kong. Mas, vivendo numa época em que os animais --especialmente, mas não apenas, os de estimação-- têm a inteligência e os sentimentos tão solicitados pelo homem ("só falta falar", dizem) numa busca por interação com o não-humano, fica difícil afirmar que o longa esteja fora do prumo.

Assim, o diretor usa e abusa da fantasia ao fazer o gorila emburrar, arfar como se sorrisse, deslizar pelo gelo de uma Nova York em plena época de Natal e, do alto do Empire State, "chamar" os aviões para a briga. Qualquer queixa ou busca de verossimilhança será inútil, ingênua. Para um filme sobre um gorila de 7,5 metros de altura, ainda que algumas cenas sejam desnecessárias (destaque para a "linguagem de sinais"), a ordem é relaxar.

Fases

Assim como as três fases do filme têm andamento e apelos diferentes, também seus personagens exploram diferentes aspectos de personalidade em cada um dos terços. Isso é especialmente notado no trio protagonista.

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Filme estréia nesta sexta
Filme estréia nesta sexta
Se na primeira hora, o cineasta Derham faz rir, na segunda provoca sentimento bastante diverso na platéia, ficando cada vez mais claro a "incrível habilidade para destruir tudo o que ama", como diz o personagem de Adrien Brody. Deste, vê-se de início um desbrio físico e emocional que chega a desanimar a bela Ann, e depois um vigor de quem "acordou" para a vida. Já a atriz, bem, passa da timidez à capacidade de conquistar (adestrar?) o gorila gigante.

Nesse sentido, vale ainda destaque para o adolescente Jimmy (Jamie Bell, de "Billy Elliot", que atualmente pode ser visto no videoclipe "Wake Me Up When September Ends", do Green Day), obrigado a amadurecer na selva. E fica de fora dessa turma o caricato ator Bruce Baxter (Kyle Chandler, do seriado "Early Edition", ou "Edição de Amanhã"), cuja covardia diverte de forma inocente.

Nessas três horas, mais coerente mesmo é o rei Kong. Briga pelo que quer (Ann) desde sua primeira aparição na tela até seus últimos momentos do longa. Nem em Nova York, enclausurado e dopado, a fera se esquece da bela. É um amor etéreo, nada erótico, como mostrou a versão de 1976. Sentimental e apaixonado, o gorila gigante vive pela amada e faz lembrar que "King Kong", de fato é um clássico. Dos filmes românticos.

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