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29/12/2005 - 10h28

Literatura brasileira chega à Estação da Luz

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EDUARDO SIMÕES
da Folha de S. Paulo

Porta de entrada em São Paulo e primeiro contato de muitos imigrantes com o idioma do país, no fim do século 19, a Estação da Luz foi o ponto escolhido para abrigar o Museu da Língua Portuguesa, cuja inauguração acontece em março de 2006. Projeto de R$ 36 milhões que ocupará os três andares do antigo prédio administrativo da gare, o museu tem como locomotiva a literatura brasileira. Ela estará à espera dos visitantes passageiros no terceiro andar, onde começa a viagem.

Lá fica a Praça da Língua, onde o compositor José Miguel Wisnik e o professor da PUC-SP Arthur Nestrovski, articulista da Folha, propõem uma composição de pérolas da poesia e prosa nacionais.
Com cerca de 48 minutos (duração ainda provisória), o espetáculo audiovisual vai promover diálogos entre as vozes de artistas como Chico Buarque, Fernanda Montenegro, Tom Zé, Ferreira Gullar etc., e imagens que ilustram suas récitas, cerca de 99% advindas da literatura brasileira, segundo Nestrovski.

"A apresentação é dividida em 21 módulos, alguns com um texto só, outros com textos unidos por um eixo. Às vezes, a ligação é explícita, como Chico Buarque, que é autor de 'Sabiá', e lê 'Canção do Exílio', de Gonçalves Dias, num módulo que tem ainda poemas de Murilo Mendes e Oswald de Andrade que dialogam com o tema exílio", conta Nestrovski.

No segundo piso, a próxima parada da visita pelo português: na Grande Galeria, uma tela de 120 metros exibe filmes que revelam o idioma nos nossos afazeres, e painéis lembram as influências lingüísticas. Depois, o crítico e historiador da literatura Alfredo Bosi compila cem textos representativos da literatura em língua portuguesa, numa linha do tempo que vai do Brasil colonial ao século 20. Segundo Bosi, o objetivo principal da linha foi a inclusão de obras de autores brasileiros "de nascimento ou adoção, que, nesta data, 2005, já nos deixaram".

O historiador percorreu as letras no país da carta de Pero Vaz de Caminha e José de Anchieta, a quem chama de "primeiras vozes da condição colonial entre nós", até a poesia "rigorosa de João Cabral e as experiências narrativas densamente existenciais de Guimarães Rosa e Clarice Lispector", em que a língua portuguesa apresenta uma riqueza de tons e perspectivas, de ritmos e imagens.

"E causa admiração que tantas diferenças de filiação regional, de classe social, de contingências históricas e de fisionomias individuais tenham alcançado exprimir-se na mesma língua", diz Bosi, no texto oficial para o museu, em que justifica suas escolhas.

Temporária

A viagem pela língua portuguesa nos trilhos da literatura brasileira termina no primeiro andar, onde a diretora de teatro Bia Lessa assina a primeira exposição temporária do museu, que durante seis meses irá homenagear os 50 anos de "Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães Rosa. Uma escolha sua.

"Ele é um ícone da língua portuguesa, inventa o idioma ao mesmo tempo que constrói seus personagens. Não cheguei a ter dúvidas", diz Lessa, fã da obra.

"Ela faz parte da minha vida pessoal. Guimarães Rosa é um profundo conhecedor da alma humana e o livro tem um diálogo com a morte, a coragem, os desejos. Algo que te dá mais intimidade contigo mesmo."

Em 480 metros quadrados, Lessa vai expor uma reprodução de uma das três versões originais de "Grande Sertão: Veredas", pertencente ao bibliófilo José Mindlin. As páginas, que contêm até mesmo correções do autor, como o primeiro título dado à obra, "Veredas Mortas", riscado, estarão dispostas como bandeiras, presas ao teto, que os visitantes puxam e lêem.

No chão, elementos como terra e barro remetem ao cenário do livro e um mapa aponta as trilhas dos personagens Riobaldo, Diadorim etc. A sala toda, aliás, terá um aspecto de não-acabada, uma alusão, segundo Lessa, à língua em construção.

"A sala é crua. E do espaço da exposição se vê todas as janelas, para lembrar que, para construir o interior, é preciso também dialogar com o exterior", conceitua.

Por fim, num espaço da sala, será possível ouvir a cantora Maria Bethânia lendo 14 páginas de "Grande Sertão: Veredas".

"Ela tem o dom da palavra e a alma de Guimarães Rosa", sustenta Lessa.

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