Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
28/10/2000 - 04h44

Rogério Gallo abre cruzada contra Rede TV!

Publicidade

MÔNICA BERGAMO, da Folha de S.Paulo

Demitido há um mês da Rede TV!, o ex-superintendente artístico da emissora, Rogério Gallo, resolveu abrir uma cruzada contra a emissora.
Ele desmente que tenha traído os ex-patrões, escondendo que sua namorada, a apresentadora Adriane Galisteu, estava negociando sua transferência da Rede TV! para a Rede Record. Gallo, que recebia R$ 91 mil mensais, quer indenização de R$ 2 milhões.

Folha - Você ficou um ano na Rede TV! e agora deixa a emissora prometendo até ir à Justiça contra os ex-patrões. Como a situação se deteriorou?
Rogério Gallo -
Em 99, eu estava trabalhando com publicidade quando fui chamado pelos donos da Rede TV! -o Amílcare Dallevo e o Marcelo de Carvalho. A idéia era fazer uma TV de qualidade que seria, segundo eles, enxuta, digital, superequipada. Sem baixaria e apelação. Eu então assumi as superintendências artística e de programação. Comprei o peixe. Quando comecei a trabalhar, encontrei o caos.

Folha - Como assim?
Gallo -
A emissora não tinha espaço físico nem equipamento próprio. Era tudo alugado. A gente tentou passar pelas dificuldades, mas o caos foi tomando conta. Chegamos ao desespero. As pessoas não recebiam salários e a gente vivia situações dramáticas.

Folha - Por exemplo?
Gallo -
Os fornecedores que não recebiam dinheiro tiravam o equipamento do estúdio. Teve um dia em que estávamos gravando o "SuperPop" com a Adriane (Galisteu), com uma platéia de 300 pessoas, e o Barão Vermelho pronto para tocar. Ao vivo. Os donos do videowall simplesmente falaram que não iam ligar o equipamento se não recebessem um pagamento atrasado. Às vezes trabalhávamos a 45C no estúdio, porque o fornecedor levava o ar-condicionado embora. A Fernanda Lima, apresentadora do "Interligado", chegou a ter quase um desmaio. A Adriane pingava.

Folha - Tudo isso não é natural na construção de uma TV?
Gallo -
Para dar um padrão de qualidade, você tem de fazer cobranças rigorosas. E é muito complicado cobrar de pessoas que não receberam o salário.

Folha - Atrasavam?
Gallo -
Chegavam a atrasar quase 30 dias.

Folha - Houve uma tentativa anterior de ajuste, com demissões.
Gallo -
No final de 99, houve um corte brutal. De 150 funcionários, ficaram 80. Aliás, não pagaram essas pessoas. Isso é público. Basta verificar nos cartórios o passivo trabalhista da Rede TV!. Existem hoje mais de 200 ações.

Folha - Depois desse corte, a situação melhorou?
Gallo -
As coisas só melhoraram depois que o Banco Rural entrou na jogada (em agosto de 2000, a Rede TV! renegociou uma dívida de R$ 40 milhões com o Banco Rural e conseguiu novo empréstimo, de R$ 12 milhões). Quando chegou a um ponto de ruptura, o Dallevo e o Marcelo de Carvalho comunicaram que o banco ia participar da TV.

Folha - Participando?
Gallo -
A informação que eu recebi dos acionistas é que o Banco Rural adquiriu 9,99% da rede.

Folha - Comprou?
Gallo -
É, teria comprado. O volume de dinheiro que eles têm investido é maior até do que os acionistas colocaram.

Folha - Como você sabe?
Gallo -
É visível. Basta ver o que eles bancam mês a mês. A televisão fatura só R$ 3 milhões e gasta R$ 7 milhões.

Folha - Mas o investimento não está sendo feito pelos acionistas Dallevo e Carvalho?
Gallo -
Não. Justamente porque, quando estava dependendo dos acionistas, as coisas não eram pagas. Só depois que o Banco Rural entrou e nomeou um superintendente financeiro, o Luciano Curvello, as coisas melhoraram.

Folha - Ele passou a mandar na emissora?
Gallo -
Nunca interferiu na área artística. Mas o Rural controla o fluxo do dinheiro ali dentro e cobra os acionistas. Isso me foi dito pelo José Dumont, vice-presidente do banco.

Folha - E sobre um parceiro estrangeiro, o que você sabe?
Gallo -
Eu sei o que já foi publicado: que o banco Lehman Brothers buscou parceiros estrangeiros para a TV. Mas, se o negócio existisse, não faltava papel higiênico.

Folha - Como vocês acompanharam a aprovação, pela Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, da renovação da concessão da TV?
Gallo -
Passou lá sem que nenhum deputado pedisse para estudar melhor a situação. Foi uma coisa surpreendente, muito festejada dentro da Rede TV!. Eles não esperavam que passasse com tanta facilidade.

Folha - O governo socorria a TV com publicidade?
Gallo -
De jeito nenhum. Não mesmo. Eu acho que existe até uma traição ao governo e aos profissionais, que comeram o pão que o diabo amassou em nome de um projeto que está sendo totalmente alterado.

Folha - De que forma?
Gallo -
Há uma pressão, principalmente do acionista minoritário, o Marcelo, para que a programação caia para o popularesco. E eu fui demitido a pretexto de uma questão pessoal, mas, na verdade, eles me tiraram porque eu era um empecilho. Eu não permitia a traição ao projeto original.

Folha - A Rede TV! alega que você sabia que a Adriane Galisteu, sua namorada, negociava com a TV Record e não os avisou, numa traição à confiança deles.
Gallo -
Eu sabia de tudo e fui o primeiro a avisá-los. Tenho testemunhas disso. Os bispos da Record são testemunhas.

Colaborou Laura Mattos, da Reportagem Local

Leia mais notícias de Ilustrada na Folha Online
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página