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18/01/2006 - 09h56

Nelson Motta prepara biografia de Tim Maia

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TOM CARDOSO
Colaboração para a Folha de S.Paulo

Rio de Janeiro, início dos anos 80. Nelson Motta está aos pés de Tim Maia tentando convencê-lo a entrar no bondinho rumo ao Morro da Urca para fazer o show mais esperado da noite. "Não entro nessa porra de jeito nenhum. Só com anestesia geral", avisa o cantor carioca.

A "anestesia" é providenciada, sob a forma de um coquetel de drogas lícitas e ilícitas --três copos de uísque, duas carreiras de cocaína e um cigarro de maconha. O bondinho permanece vazio. Horas depois, a solução para o impasse é dada pelo próprio Tim: "Ô, eu tenho uma idéia muito melhor: em vez de eu subir, manda o pessoal aqui pra baixo, e a gente faz o show na praça".

Oito anos depois de morto, Tim Maia (1942-1998) continua infernizando a vida de Nelson Motta. Desde 2000, o jornalista, escritor e letrista tenta, sem sucesso, dar início ao tão esperado livro sobre a vida do polêmico cantor e compositor, mas sempre esbarra em alguma pendenga judicial. São tantos os processos trabalhistas herdados pelo cantor, que Motta, com a Editora Objetiva, cercou-se de todas as precauções possíveis para que, enfim lançada, a biografia não seja embargada.

"Vou começar a escrever em breve, falta apenas assinar o contrato. Quando se trata de Tim Maia, todo cuidado é pouco, mas vale a encrenca", anima-se o jornalista, que é colunista da Folha. Motta é fascinado pelo personagem desde que o ouviu cantar pela primeira vez "Primavera", no estúdio da Philips, no fim dos anos 60. Até então, a música brasileira era dividida entre a turma da bossa nova, os tropicalistas e os roqueiros.

"Tim fundiu tudo numa coisa só e acrescentou uma irresistível dose de música negra, de soul, de Motown, de tudo que ele ouvira durante a fase em que morou fora do país", analisa.

Um capítulo inteiro deve ser dedicado à passagem do cantor pelos Estados Unidos, que durou de 1959 a 1964, quando foi deportado pelo governo americano após ser preso fumando maconha com dois amigos num carro roubado. Tim chegou a formar um grupo por lá, The Ideals, mas não vivia de música. Arrumava um bico numa pizzaria ou num bar e, quando se enchia do patrão, assaltava o próprio estabelecimento durante a noite e no dia seguinte pedia as contas.

Motta lembra que em janeiro de 1998, Tim conseguiu visto para fazer um show em Miami, depois de décadas proibido de entrar em território americano. De lá, alugou um carro, com um chofer português, e foi até Terryton, uma pequena cidade perto de New Jersey, onde morou. "Acho que ele pressentiu a própria morte e fez questão de voltar lá. Visitou os lugares em que trabalhou, passou em frente à cadeia em que ficou preso, fez todo um caminho sentimental. Nos encontramos em Nova York e ele me contou detalhes desse reencontro. Dois meses depois ele morreu."

Mesmo fortemente influenciado pela música negra americana, Tim, segundo Motta, jamais deixou de ser um músico brasileiríssimo. Gostava de samba, de marchinhas, de serestas. Preferia João Gilberto a James Brown. "Tenho em mãos um vídeo caseiro em que Tim Maia diz uma frase incrível sobre Tom Jobim: "Com os acordes que tem numa música do Tom eu faço umas 80!".

A fase da Tijuca, bairro da zona norte do Rio, onde Tim cresceu, também será contada com detalhes pelo jornalista. Foi lá que o músico conheceu dois vizinhos ilustres, Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Ao contrário do que se diz, o trio não formou o Sputniks --só Tim era da banda. Só depois, descobertos por Carlos Imperial, passaram a trabalhar juntos. Imperial queria que Roberto imitasse Elvis Presley e que Tim Maia imitasse o roqueiro Little Richard. Tim não tinha vocação para ser cover de cantor americano --viajou para os EUA e voltou fazendo fusões de rock com baião, soul com bossa nova.

"O Roberto deu a grande virada na carreira quando resolveu gravar [em 1969] 'Não Vou Ficar', de Tim. Amadureceu como músico, deixou de fazer os mesmos roquezinhos de sempre. Ele deve isso a Tim", diz Motta.

O que Tim Maia, o primeiro artista independente do Brasil a ter a sua própria gravadora e editora, diria sobre o fenômeno do MP3 (o formato digital que permite a troca de músicas pela internet e o armazenamento em computadores ou diminutos "players"? "Tim era imprevisível. Podia tanto adorar essa coisa de baixar música de graça na internet quando ficar puto e chamar a polícia."

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