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01/02/2006 - 06h00

Silvério Pessoa moderniza o forró

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ADRIANA FERREIRA SILVA
da Folha de S.Paulo

Quem acha que modernizar o passado é simplesmente colocar umas batidinhas eletrônicas sobre sambas e bossas precisa conhecer o novo disco do pernambucano Silvério Pessoa.

Depois de cantar os forrós de Jacinto Silva e eletrizar os frevos de Jackson do Pandeiro, Pessoa lança "Cabeça Elétrica Coração Acústico" (ouça a música "Seu Antônio"). O álbum, o primeiro solo com músicas próprias, se destaca por contrapor influências de ritmos da Zona da Mata norte-pernambucana a letras inteligentes e contemporâneas.

Além disso, traz participações de primeira, de músicos como Lenine, Dominguinhos, Lula Queiroga, Siba e Fábio Trummer, além da orquestra SpokFrevo.

Com esse trabalho, Pessoa conclui uma trajetória que começou quando ele ainda integrava a banda Cascabulho que, junto do Mestre Ambrósio, fazia a cena mangue beat dançar forró.

"Eu tocava música tradicional a partir das possibilidades modernas que o acordeão permite, enquanto o Mestre Ambrósio fazia o mesmo com a rabeca", lembra Pessoa, hoje com 44 anos. "Um dia, ouvi o Chico [Science] me dizer: 'Faça o que quiser que dá certo'. Isso me marcou."

Para fazer o que queria, ele saiu do Cascabulho e, em 2001, lançou o disco-tributo "Bate o Mancá", com canções de Jacinto Silva.

Na época, a crítica gostou, mas cobrou um CD com composições próprias. Em vez disso, dois anos mais tarde, Pessoa voltou ao estúdio e saiu de lá com um álbum em que aplicava beats e samples aos praticamente desconhecidos frevos de Jackson do Pandeiro --famoso por seus forrós.

"Achei que fazer os dois primeiros discos sem músicas próprias me colocaria em risco, mas era um sonho que vi realizado", explica. A aventura deu certo e, graças a esses trabalhos, ele passou a freqüentar festivais na Europa. Hoje, é mais fácil assistir a um show seu na França do que em São Paulo ou no Rio de Janeiro.

Quase acústico

Ao contrário do CD anterior, "Batidas Urbanas" (o tal com frevos de Pandeiro), em "Cabeça Elétrica Coração Acústico" Pessoa usa a eletrônica como sutil base para forrós, xotes e afins.

"Como [o segundo disco] era um projeto, tive mais liberdade. Parti do conceito de descontinuidade, de pós-modernidade. Não era um disco do Silvério Pessoa", diz. "Neste quis mostrar o encontro com a modernidade, mas sem me afastar de onde vim."

Por isso, a eletrônica entra camuflada, em samples de coros de cantadores e de vinhetas incidentais. Se economiza nos beats, Pessoa contemporiza nas letras, como em "Seu Antônio", em que dialoga com "Parabolicamará", de Gilberto Gil. Ou em "Alto que Só", na qual compara sua experiência ao ver a torre Eiffel com a de seu avô, quando este viu "a torre da fábrica Tacaruna".

"Acredito que o futuro da música tradicional é cada vez mais envernizado por recursos modernos. Mesmo trabalhando com a tradição, já me vejo com um atualizador dessa história que vem da Zona da Mata."

Cabeça Elétrica Coração Acústico
Artista: Silvério Pessoa
Lançamento: independente (www.silveriopessoa.com.br)
Quanto: R$ 18,50, em média
 

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