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12/02/2006 - 02h01

Deize Tigrona ameaça domínios da rainha do funk

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ADRIANA FERREIRA SILVA
LAURA MATTOS
da Folha de S.Paulo

Tati Quebra-Barraco que se cuide. Vem também da Cidade de Deus, no Rio, a moça que começa a abalar os domínios da rainha do funk: Deize Tigrona. Empregada doméstica até maio de 2005, ela hoje põe endinheirados para rebolar nas boates chiques de SP.

Luciana Cavalcanti/FI
Deize Tigrona "quebra" barraco com Tati
Deize Tigrona "quebra" barraco com Tati
Trocou o salário mínimo da "casa da madame" --hoje em R$ 350-- por cachês de até R$ 5.000 em clubes como o sofisticado Lotus e o descolado Vegas (onde se apresenta amanhã). Passou ao circuito nacional no ano passado quando foi uma das protagonistas do documentário "Sou Feia Mas Tô na Moda" e fez uma ponta no show da badalada cantora anglo-cingalesa M.I.A., no Tim Festival.

Com seis shows por semana, já reservou o dia 13/5 para a participação no Skol Beats, um dos maiores eventos de música eletrônica da América Latina.

Aos 26, Tigrona é um dos principais nomes do chamado funk erótico --de letras com duplo sentido e até palavrão--, que tomou as pistas de todo o país e irá impregnar os ouvidos neste Carnaval. Ela estourou com "Injeção" e seu refrão "tá ardendo, mas tô aguentandu", que M.I.A. sampleou no hit "Bucky Done Gun".

Desde então, virou do avesso a vida dessa carioca que trabalhava como doméstica desde os 12, nunca soube quem é o pai e tem oito irmãos, dois dos quais moram em orfanato. Após o Tim, foi convidada para se apresentar no Lov.e, clube de "modernos" em SP, e viajou de avião pela primeira vez.

Na seqüência, carimbou o passaporte para Paris, onde animou mais de 6.000 pessoas. "Esse show me deixou muito emocionada. Quando comecei a cantar, neguinho gritou 'huuuuu'", conta.

Tudo a impressiona: ter dinheiro para alimentar a filha de três anos, ser convidada para a primeira fila da SP Fashion Week, ficar em hotel com piscina, poder pagar R$ 200 numa calça jeans. "Comecei a trabalhar para ter a minha roupa. Num Natal, minha avó falou: 'Vou te vestir e te calçar'. Fiquei animada, mas não foi a roupa que eu esperava."

Ainda Deize da Silva, dava conta de limpar um apartamento duplex, apesar dos 12 anos. À noite, em seu quartinho, pegava um diário para contar "de namoro, essas coisas". "Aí saía tudo em rima."

Não conseguiu emplacar nada com DJs até 1998, quando compôs "Hilda Furacão", inspirada na série da Globo, que dizia "seu macho vamos comer". A baixaria, conta, teve como origem a rivalidade entre meninas que moravam nos apartamentos e nas casas da Cidade de Deus. Enquanto os homens até se matavam nos bailes funks Lado A/Lado B, as garotas faziam disputas de rimas.

Assim, Tigrona, que era "do apê", formou o Bonde do Fervo (gíria para babadão, história "quente"). As meninas das casas criaram o Bonde das Bad Girls.

A guerra de provocação se iniciou. "A gente começou a pegar pesado", assume. Foi quando Tigrona lançou "De quatro, de lado" para desafiar as rivais. Mas o sucesso foi tanto que até as "sacaneadas" cantavam. "Juro que fiquei com vergonha dessa música, mas foi eu cantar e virou sucesso. Aí pensei: 'O que eu fiz?!'. Da janela do apartamento da minha mãe, via as meninas de quatro."

As funkeiras também foram influenciadas na adolescência por "Segura o Tchan!" e "Boquinha da Garrafa" e outros hits do axé baiano carregados de duplo sentido. "Claro que o jeito que as meninas do funk dançam tem a ver com o rebolado da Carla Perez."

O nome de Tigrona veio a cruzar as fronteiras da Cidade de Deus e dos morros do Rio em 2000, com "Injeção". Mais uma vez foi a televisão que a inspirou. "Estava vendo o 'Zorra Total' [humorístico da Globo], e um cara falava 'tá ardendo, tá ardendo'. Eu estava grávida e ia tomar injeção antitetânica no dia seguinte. Aí juntei tudo isso na música."

Ela passou a cantar em bailes funk, mesmo com o barrigão de nove meses. Os cachês eram bem mais baixos do que os atuais, uns R$ 300, mas deu para sair da "casa da madame". De Tigrona, virou Deize da Injeção. Mas a maré baixou, e ela voltou a ser doméstica.

Agora, experimenta vida de celebridade --Alicinha Cavalcante, promoter de festas de bacanas, disse à Folha que precisa acrescentá-la à sua lista de VIPs.

A funkeira reforma sua pequena casa e junta dinheiro para comprar um carro. Ex-motoboy e porteiro, o marido virou seu DJ, e Tigrona chora ao lembrar da filha, que deixa com a avó já que eles não param na Cidade de Deus.

Leitora de Jorge Amado, ela quer voltar a estudar e comprar um apartamento para garantir uma renda. "E, se tudo acabar um dia, volto para a casa da madame com o maior prazer e com uma boa recomendação: a do povo."

Deize Tigrona
Quando: Segunda, 23h
Onde: Vegas (r. Augusta, 765, tel. 0/xx/ 11/3231-3705)
Quanto: R$ 20

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