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31/03/2006 - 10h26

Susan Sarandon fala à Folha sobre política e Hollywood

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PEDRO BUTCHER
da Folha de S.Paulo

Na cerimônia do Oscar de 1993, Susan Sarandon e o marido Tim Robbins ignoraram o texto dos redatores e chamaram atenção para o tratamento dado pelo governo aos imigrantes haitianos. No fim, o produtor da festa avisou: "Essa foi a última vez que vocês apresentaram o Oscar".

A ameaça, que se concretizou num gelo de quase dez anos, é sintomática do que representa o engajamento em uma indústria que, no passado, já viveu tempos de maior brio político. Quando a repreensão não vem, há o escárnio dos que ridicularizam esforços políticos ou humanitários.

Efe
"Não dou ouvidos ao que pensam de mim", diz atriz
"Não dou ouvidos ao que pensam de mim", diz atriz
Nada disso, porém, perturba Susan Sarandon: "Cheguei a um ponto da minha carreira que já não dou ouvidos ao que os outros pensam de mim. Tenho sobrevivido à indústria procurando fazer escolhas que respeitem minhas idéias. Continuo acreditando que podemos fazer diferença nesse mundo. Faço o que está ao meu alcance e não me importo com o que dizem os cínicos ou os puxa-sacos", disse ela, em entrevista à Folha, pelo telefone, de seu escritório em Nova York.

60 anos

Em outubro, Susan Sarandon completa 60 anos. A atriz, que entrou na profissão quase por acaso ao acompanhar o ex-marido Chris Sarandon em um teste (ela passou, ele não), reconhece a escassez de papéis para a sua idade, mas não faz disso motivo de lamentações.

"Há ofertas interessantes, trabalho não falta. Por aqui não existem atrizes com mais de 40 que não tenham feito plástica, então acabo sendo uma opção mais realista para os personagens da minha idade", diz, entre risos.

Em meio à enxurrada de convites para viver mães ou avós, raramente as personagens são a força-motriz das histórias, mas figuras-satélite como Hollie Baylor, que interpreta no filme "Tudo Acontece em Elizabethtown", de Cameron Crowe, agora em DVD no Brasil. No fim das contas, sua personagem acaba roubando a cena da dupla de protagonistas, Orlando Bloom e Kirsten Dunst.

Susan Sarandon conta que aceitou o papel de Hollie Baylor pela admiração que nutria pelo diretor Cameron Crowe e pela oportunidade de atuar em uma seqüência em especial, na qual exercita um aspecto inédito em sua carreira (e que faz valer sua participação).

Reuters
Atriz compara governo Bush a "1984"
Atriz compara governo Bush a "1984"
Em pleno funeral do ex-marido, a expansiva mãe do jovem Drew Baylor (Bloom), alter ego do diretor, realiza uma espécie de show de comédia "stand up" (aquele típico dos Estados Unidos, em que o comediante está só no palco, munido de um microfone).

"Foi bem difícil de fazer, mas valeu. No roteiro, a cena era um monólogo de sete páginas, cheio de nuances e ironias, mas como o texto era muito bom, não quis fugir muito do que estava escrito e improvisar, que seria uma solução mais fácil para a cena. Na verdade, Hollie é inspirada na mãe de Cameron, que estava no set o tempo todo, o que foi ao mesmo tempo bom e ruim. Ela é infernal e brilhante, acho que a personagem traduz muito bem como essa história é pessoal para Cameron."

Ao falar de política, um assunto inevitável, a atriz se exalta, sem esconder a paixão que o tema provoca. Ela teme pelas próximas eleições presidenciais e alerta para o fato de que nada está sendo feito para modernizar o sistema de votação nos EUA.

"Acho que nossas próximas eleições americanas deveriam ser monitoradas por entidades internacionais, como aconteceu no Haiti e no Iraque. A última foi vexaminosa, todos sabem que houve fraude, mas nada foi feito. Em alguns Estados houve mais números de votos do que pessoas habilitadas a votar", diz. "Cheguei a ler coisas interessantes sobre o sistema eletrônico de votação no Brasil. Infelizmente, acho que não será implantado aqui."

Sobre o quadro político americano, ela não é das mais otimistas: "Espero, sinceramente, que os democratas encontrem um candidato a presidente, mas reconheço que o cenário não é muito animador". E, sobre o governo Bush, é abertamente pessimista: "Acho que nunca estivemos tão próximos de "1984" de George Orwell. Vivemos numa sociedade em que os direitos individuais e a legalidade estão definitivamente ameaçados, e isso me dá medo".

Novos projetos

De volta ao cinema, a atriz se acalma novamente. Em "Romance & Cigarettes", do amigo John Turturro, que participou do Festival de Veneza e estreou na semana passada em Londres (no Brasil, ainda não há previsão), ela revisita o musical, gênero que marcou seu passado no cultuado "Rocky Horror Picture Show", de 1975.

Nesse filme, ao contrário de "Rocky Horror", ela não usa a própria voz. "Na verdade, as canções entram quando os personagens vivem momentos de emoção. Mas nós apenas dublamos a voz de seus intérpretes originais ou, no máximo, cantamos junto deles", afirma ela.

"Quando era criança, sempre me disseram que eu tinha uma voz horrível, trauma que só fui superar em "Rocky Horror", mas definitivamente gosto de cantar, e sei que tenho condições de levar bem uma canção em um filme."

Em "Doris & Bernard", que atualmente está em fase de finalização, a atriz toca piano e canta ao lado do ator Ralph Fiennes, uma das seqüências que mais gostou de fazer. Nesse longa que marca a estréia na direção de cinema do ator Bob Balaban, Sarandon vive Doris Duke, bilionária do ramo do tabaco que deixou sua fortuna para o mordomo gay (Fiennes). "Na verdade, nesse filme, eu faço o homem, e Ralph, a mulher", diz.

Em breve, a atriz aparecerá também em "Irresistible", um "thriller" psicológico que rodou na Austrália. Mas os comentários, aqui, se limitam a um "foi muito divertido conhecer Melbourne".

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