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24/04/2006 - 22h20

Crítica: "Cobras & Lagartos" apela, exibe seio e empolga

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SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online

A Globo apelou no capítulo de estréia do folhetim "Cobras & Lagartos". A emissora exibiu os seios de duas modelos vestidas só de calcinha, cenas de amassos entre o casal de vilões, no aperto de um carro, e homens de torso desnudo saindo do banheiro. Apimentada, a nova novela das sete tenta recuperar a audiência, após o fiasco do faroeste "Bang Bang" e o avanço da Record no horário com "Prova de Amor", aquela dos corpos sarados desfilando a toda hora nas praias.

Divulgação
Zen e sensível, Bel encarna o desinteresse pelo dinheiro
Zen e sensível, Bel encarna o desinteresse pelo dinheiro
Agilidade na edição predominou no primeiro capítulo, que começou em ritmo de clipe, com imagens rápidas, aéreas, bem produzidas, de apelo jovem (rali de motos em dunas, vôo de helicóptero, balão e mergulho submarino). Era um filme da loja Luxus, inspirada na paulistana Daslu, apresentado por uma publicitária ao dono da butique, Omar Pasquim (Francisco Cuoco com lentes azuis exageradas). A Luxus é o "coração" da novela, que esboça uma pretensa crítica ao consumismo.

Para evitar a troca de canal, o primeiro capítulo evitou a saída para os comerciais, com apenas dois blocos. A abertura reforça a tal disposição de condenar a ostentação da elite, mostrando objetos de consumo, como colar com a marca da novela (cobra e lagarto formando um "e comercial"), ao som de "Alô, Alô, Marciano", sucesso de Elis Regina ("Tá cada vez mais down no high society/Down, down, down no high society").

A trama tenta explorar o lado negativo da sociedade de consumo --embora a Globo faça parte desses interesses capitalistas, lançando modismos e influenciando decisões de compra --dos CDs da novela aos produtos dos anunciantes. A novela finca pé no cotidiano do país das desigualdades: pobres querem ou fingem ser ricos, alguns endinheirados aparentam ter bom coração, e vilões tramam tudo para subir na vida.

O primeiro capítulo foi competente em indicar, sem delongas, o foco da novela: sobrinha de Omar, a mocinha Bel (Mariana Ximenes, a estrela jovem mais reluzente da Globo, de cabelo crespo e busto inflado) é dona do discurso de que dinheiro não traz felicidade, toca violoncelo [a arte une pombinhos sensíveis], faz perfume artesanal [viva a natureza e os hippies] e pressente uma alma pura só ao ouvir o som do clarinete tocado pelo mocinho e motoboy Duda (o carismático Daniel de Oliveira, o Cazuza no cinema), seu futuro amor. Ele se apaixonou vendo apenas um retrato dela desenhado por um pintor de rua.

Bel ainda não conhece Duda e recebeu o pedido de casamento pelo vilão, Estevão (Henri Castelli, de novo tentando encarnar o mal em rosto de galã), amante da vilã Leo (Carolina Dieckmann, cujo cabelão branco e loiro deve virar hit nos salões). Os dois se agarram dentro de um carro, enquanto falam de uma "aliancinha de bosta" que o vilão dará a Bel na festa de aniversário de Omar.

Cercado de gente interesseira, o dono da Luxus descobre ter "três a quatro meses" de vida por causa de uma doença. Ele fingirá ser um pobre faxineiro para conhecer alguém digno de receber sua herança. Detalhe: ele ouve a sentença de morte da boca do médico na festa de seu aniversário, situação pouco realista.

"Cobras & Lagartos" trabalha com a visão de uma elite esnobe e fútil, freqüentadora de butique de luxo, e a de pobres trabalhadores e batalhadores, que realizam, a seu jeito, seus sonhos de consumo nas ruas do comércio popular. É a Luxus versus Lótus, nome de uma lojinha popular, onde o casal de mocinhos quase se esbarra.

Na novela, há espaço ainda para os alpinistas sociais, representados na trama por personagens negros -- consumista suburbana Ellen (Taís Araújo, com visual Beyonce), e Foguinho (Lázaro Ramos, o Madame Satã no cinema), que vive um homem-placa ("Dinheiro? Vendo e Compro Ouro Já").

Cheio de esperteza, Foguinho finge ter ganho fortuna na Bolsa de Valores e descola em uma concessionária test-drive de um conversível para impressionar Ellen, mas acaba batendo o carro na rua. É ele que põe fogo em uma lixeira da Luxus, onde Ellen trabalha, o alarme soa, e mulheres só de calcinha saem correndo --uma cena que só visa despertar atração sexual na audiência.

Cheia de "cheques voadores" na praça, a espalhafatosa personagem Milu (Marília Pêra, também com lentes exageradas), irmã parasita de Omar, também rende tiradas com teor de preconceito social, tentando reproduzir o ar pretensioso, ridículo e decadente de quem convive na órbita dos ricos, famosos e poderosos.

O tom de comédia da trama também ganha força com a família de Eva (Eliane Giardini) e seus quatro filhos, que tentam convencer a mãe a abrigar o pai (Otávio Augusto), após ele deixar o presídio. O linguajar de cortiço e o clima de eterno barraco também estão presentes no núcleo dos pobres. Haja decotes com seios pululando da personagem da atriz Elisângela e suas indefectíveis argolas gigantes nas orelhas, em meio a cenas de uma descarga entupida, com uma privada jorrando no banheiro [uma metáfora do que será a novela?).

O elenco de "Cobras & Lagartos" aproveita muitos atores de "América", novela das oito anterior à "Belíssima", como Cléo Pires, uma motoqueira que tenta impedir a mocinha do "desastre" de casar com o vilão, que apareceu pouco no primeiro capítulo.

A julgar pelos números divulgados pela Globo, a novela empolgou. Começou com 33 pontos no Ibope e terminou no pico, com 37 pontos, dando uma média de 34 pontos. Cerca de 46% dos televisores estavam ligados na trama. "Prova de Amor" evitou os "breaks" para não perder telespectadores. A briga no horário das sete será boa, com os dois folhetins se equilibrando na tênue linha da apelação e baixaria.

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