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03/05/2006 - 09h34

Ciclo no CCBB explora papel da fotografia no cinema

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CÁSSIO STARLING CARLOS
Crítico da Folha de S.Paulo

Todo mundo vai ao cinema para "ver" filmes, e muitos, depois, quando gostam, justificam sua escolha com o argumento: "A fotografia é linda!".

Por trás da tarefa de agradar os olhos do público, está um dos profissionais mais importantes na produção de um filme.

Ao lado dos roteiristas e dos montadores, os fotógrafos constituem o grupo de técnicos mais indispensável na execução de um trabalho coletivo cujas glórias muitas vezes terminam apenas nas mãos do diretor.

A mostra "Arte em Movimento - A Fotografia no Cinema", em exibição de hoje até o dia 21 de maio no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo, traz, em 20 filmes, um histórico bastante esclarecedor dessa simbiose que, quando perfeita, acaba em obras-primas.

Como muita gente já aprendeu, o cinema não é só fotografia, pois um filme visualmente "lindo" não é necessariamente um bom filme. Muitos artistas, aliás, dispensam tanto tempo na elaboração visual que podem se esquecer de outros aspectos tão essenciais quanto a direção de atores, a encenação ou mesmo o ritmo.

Mas, quando o trabalho do fotógrafo é executado de maneira a se conjugar com os outros desempenhos técnicos e artísticos, o que se vê projetado na tela é bem próximo da perfeição.

O trabalho do fotógrafo só ganha total significado no cinema quando se encontra em simbiose com as intenções do diretor, quando as imagens criadas encontram um equilíbrio orgânico com a expressão de idéias e de emoções propostas pelo maestro dessa arte coletiva.

Alguns desses resultados perfeitos ou quase compõem a seleção da mostra no CCBB, e sua visão permite conhecer algo da história do cinema e entender por que esses filmes hoje fazem parte do cânone da arte cinematográfica.

É o que se pode conferir no trabalho feito por Edgar Brasil no mítico "Limite", permitindo a Mário Peixoto transferir para a tela suas imagens mentais. Ou no papel de Gregg Toland na criação de significados a partir de manipulação do espaço e da luz em "Cidadão Kane", de Orson Welles. Ou ainda a câmera-personagem proposta por Raoul Coutard para as liberdades narrativas de Jean-Luc Godard em "Acossado".

Outro é o papel assumido por Sven Nykvist, acentuando através de cores as angústias bergmanianas em "Gritos e Sussurros". Nesse ramo, da pura exploração pictórica, não faltam mestres, como se pode ver na dramatização da paleta de cores criada por Giuseppe Rotunno para Visconti em "O Leopardo" e na captação das nuances de figurino oferecida por Christopher Doyle para os devaneios temporais de Wong Kar-wai em "Amor à Flor da Pele".

Nem sempre de cor, aliás, vive a fotografia. Usar o preto-e-branco como veículo para enfatizar significados foi uma forma inventada pelo expressionismo, mas que teve inúmeros e geniais seguidores.

A prova está na luz árida inventada por Ricardo Aronovich para Ruy Guerra em "Os Fuzis" ou nos contrastes acentuados de luz e sombra feitos por Michael Chapman para tornar ainda mais doloroso o sacrifício de um Cristo do boxe retratado por Martin Scorsese em "Touro Indomável".

Diante desse conjunto de filmes, torna-se fácil entender que a arte do fotógrafo é muito mais do que produzir uma imagem bonita. Com ele, aquilo que não passa de imaginação passa a brilhar diante de muitos olhos como imagem em ação.

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