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04/05/2006 - 17h25

Crítica: Livro aposta em listinhas do tipo "02 Neurônios"

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SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online

Escrever listas bem-humoradas de tarefas para melhorar a vida cotidiana virou uma fórmula de sucesso no mercado editorial. O texto é curto e direto. São dropes, de leitura rápida, diagramados em estilo livre, abusando de recursos como ilustrações, recortes, imagens antigas. É como um videoclipe. Para as meninas que curtem "02 Neurônios" e "Garotas que Dizem Ni", chegou às livrarias brasileiras "Sósingular --um manifesto para românticos irredutíveis" (editora Francis, 160 págs, R$ 26,50). Leia trecho.

Reprodução
Livro mira solteiros que gostam de listas
Livro mira solteiros que gostam de listas
O livro lembra "Sex and the City" com sua apologia à amizade e à solteirice recheada de baladas, intercalando euforia e clima deprê, em meio a pitadas de humor e conflitos existenciais. Foi escrito por Sasha Cagen, que vive em San Francisco (EUA), editora da revista alternativa "To-Do List".

Para ganhar fama entre os modernos, ela apela para o recurso de "criar neologismos" e tentar popularizá-los (ó que criativo!). "Sósingular" (do inglês quirckalone") seria uma "pessoa que gosta de ser solteira (mas não se opõe a ter um relacionamento) e geralmente prefere estar sozinha a namorar só para fazer parte de um casal".

O problema seria conciliar o romantismo, o compromisso de monogamia, a vontade de ser independente e de ter outras experiências (outros parceiros, diga-se). Um chato resumiria: o problema é amadurecer no mundo do "pode tudo".

A obra mistura depoimentos de amigos, testes, citações, perguntas-e-respostas, perfis de famosos e listas, muitas listas (filmes para ver no seu momento sósingular, como "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain", razões absurdas para não sair com alguém, como telefone no cinto).

Esse tipo de livro está se tornando bem previsível. Está lá a admiração pelas pin-ups dos anos 40, à Katharine Hepburn, a Nina Simone e a Jesus (como não poderia deixar de ser, as listas incluem um estranho no ninho para surpreender o leitor).

Um dos ensaios mais "bacanas" (adjetivo desgastado em zines, fanzines, blogs e derivados) do livro é o "Case com você primeiro --a minitendência do automatrimônio", que traz histórias engraçadas de encalhados que preferiram rir da própria condição (ou desgraça). No texto, claro, Sasha diz que a idéia não é original, já foi usada em um episódio de "Sex and the City", quando "Carrie está se sentindo particularmente oprimida, decide casar consigo mesmo e, prontamente, faz sua lista de presentes (sapatos, é claro) na Manolo Blahnik".

Picotado, "Sósingular" pode ter a leitura iniciada por qualquer página. Não segue uma linha cronológica, ou melhor, não segue linha nenhuma. No fim da leitura, você deu algumas risadas, não entendeu outras sacadas moderninhas, restritas ao mundinho da autora. E principalmente, como qualquer "sósingular" retratado no livro, a vida continua tão vazia como antes. O jeito é descolorir o cabelo, colocar umas tatuagens no braço, sombra ao redor dos olhos, e se jogar na esbórnia, na esperança de que, após o último gole, após a última dose, cair nos braços de alguém que te beije, te abrace e te diga "eu te amo". Nem que dure apenas uma noite.

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