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15/05/2006 - 11h51

Revolução Cultural faz 40 anos com silêncio em Pequim

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ANTONIO BROTO
da Efe, em Pequim

O início da Revolução Cultural (1966-76), cruel experiência social que traumatizou várias gerações de chineses, completa amanhã 40 anos em meio a um enorme silêncio tanto do governo quanto da sociedade do país.

Um seminário quase secreto organizado pela Academia Chinesa de Ciências Sociais deve ser o único ato a lembrar por estes dias esse período da história chinesa, que Pequim quer que seja esquecido pelas velhas gerações e desconhecido pelas novas.

Segundo os jornais de Hong Kong, únicos com liberdade de imprensa na China, os veículos de comunicação oficiais estão proibidos de falar sobre o aniversário, embora alguma breve nota possa ser dada pela agência de notícias Xinhua. Analistas foram aconselhados a não participar de seminários a respeito da questão.

A negação dessa etapa do passado contrasta com a insistente cobertura na mídia, no cinema, na TV e nos livros, que a China tem dedicado nos últimos anos aos crimes cometidos nas décadas de 30 e 40 pelo exército japonês.

O Partido Comunista da China reconhece desde 1976 que a Revolução Cultural foi um desastre, mas não quer abrir as feridas daquele período de terror, sobre o qual muitos guardas vermelhos, atualmente gente de 50 e 60 anos, têm muito a esconder.

"Vieram à nossa universidade, disseram-nos que tínhamos que fazer a revolução, e por isso não pudemos continuar estudando", comenta um jornalista chinês de 50 anos, que prefere não dar mais detalhes sobre a época.

O silêncio se traduz em um desconhecimento total do período por parte das gerações mais jovens, as do período de reforma, que pouco ouviram falar do assunto na escola. "Só nos ensinam as coisas boas da história da China, não as ruins. A única coisa que sei da época é que foi péssima para a economia", afirmou uma estudante universitária de Pequim.

Histórico

Apesar de ser difícil estabelecer uma data de início do caótico período, o começo da Revolução Cultural é formalmente indicado no dia 16 de maio de 1966, quando o Partido Comunista da China emitiu uma nota criticando duramente o prefeito de Pequim, Peng Zhen, por causa de uma polêmica que começara com uma simples obra teatral.

Peng seria um dos primeiros de uma longa lista de "limpos" pelo líder Mao Tsé-Tung e por seus mais próximos colaboradores, que começaram a fortalecer a idéia de que todos os que não seguissem cegamente as idéias do Grande Timoneiro (o próprio Mao) enaltecidas no "Livro Vermelho" era um revisionista contra-revolucionário.

Mao, assessorado por sua terceira esposa, Jiang Qing, radicalizou o movimento pouco depois, promovendo o culto à personalidade do Grande Timoneiro e ordenando uma revolução na qual os adolescentes tomariam o cargo dos professores e os camponeses, o dos intelectuais.

O resultado destas idéias foi a destruição de boa parte do patrimônio cultural da China, brigas e assassinatos de intelectuais cometidos por guardas vermelhos e outras medidas que Pol Pot copiou pouco depois no Camboja, e o Sendero Luminoso, no Peru.

Depois da morte de Mao, em setembro de 1976, o novo governo de Deng Xiaoping --um dos principais "limpos" na Revolução Cultural-- decidiu virar rapidamente página do período atribuindo toda a culpa à famosa Camarilha dos Quatro, integrada por Yao Wenyuan, Jiang Qing, Zhang Chunqiao e Wang Hongwen.

O último membro da Camarilha, Yao Wenyuan, morreu no dia 6 de janeiro deste ano, e o governo chinês aproveitou para destacar que sua condenação à Revolução Cultural continuava de pé, assim como seu propósito de não julgar mais culpados.

A ocultação é clamorosa quando a China lembra várias vezes o espólio cultural que os europeus promoveram nos séculos 19 e 20, mas se nega a acrescentar que, talvez, o dano ao patrimônio tenha sido até mesmo maior quando os guardas vermelhos destruíram vários templos, estátuas e até as muralhas que cercavam Pequim.

Resistência

Apesar da censura oficial, alguns analistas chineses não se rendem e em março, durante a reunião anual da Assembléia Nacional (Legislativo), 48 deles apresentaram uma proposta de lei que pedia a diminuição dos controles sobre a pesquisa e a literatura em torno da questão.

O mundo artístico também se mostrou desafiante perante a linha de Pequim: os cartazes de camponeses sorridentes da propaganda maoísta são muito usados na pintura contemporânea, e célebres filmes como "Adeus Minha Concubina" (Chen Kaige) refletem a selvageria daquela etapa.

Especial
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