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20/05/2006
-
10h42
SILVANA ARANTES
Enviada especial da Folha de S.Paulo a Cannes
"Volver" (voltar), o longa de Pedro Almodóvar em competição pela Palma de Ouro no 59º Festival de Cannes, foi aplaudido ontem muito antes de terminar.
Na sessão para a imprensa, os primeiros aplausos surgiram logo quando o crédito "Um filme de Pedro Almodóvar" se sobrepõe à cena de abertura, em que as protagonistas Raimunda (Penélope Cruz) e Sole (Lola Dueñas) esfregam freneticamente a sepultura da mãe --Carmen Maura, num personagem-fantasma chamado Irene.
O triângulo feminino (as irmãs e sua mãe; as irmãs e Paula, filha de Raimunda) é a peça-chave do diretor espanhol numa trama sobre relações familiares.
A platéia predisposta a gostar não se decepcionou no final. A sessão terminou sob palmas mais numerosas e mais intensas.
A boa acolhida em Cannes e o sucesso do filme na Espanha (em cartaz há dez semanas) acenderam a expectativa "pela Palma de Ouro ou por um Oscar", como observou uma jornalista espanhola a Almodóvar, na entrevista coletiva que se seguiu à projeção.
Almodóvar desconversou. "No momento em que você faz um filme, não sobra nem um neurônio sequer para pensar em prêmios."
Em "Volver", o cineasta se concentrou em sua "mais profunda volta às raízes" e na "reconciliação com a infância". O filme se passa em Madri e em La Mancha, região onde Almodóvar nasceu.
"Não sei se minha infância foi feliz ou infeliz, mas foi um período da minha vida que eu bloqueei, ao menos como tema dramático", disse, lembrando a exceção de seu longa anterior, "Má Educação" (2004), sobre o qual se especula ser autobiográfico o episódio do abuso sexual de um garoto por um religioso.
O abuso sexual também está em "Volver". É praticamente o único ato reservado aos homens num filme sobre mulheres. "Fui um menino educado por mulheres. Os homens estavam no campo ou no barco, não sei aonde, eu não os via", disse o cineasta.
Almodóvar afirmou que "a origem de quase todo o filme" é sua mãe e disse que frases que ouvia dela são repetidas pelas personagens no filme. "Sempre me inspiro em mim mesmo."
As atrizes rasgaram elogios ao diretor. "Existe só um Pedro. Não posso compará-lo", disse Penélope, questionada sobre a diferença entre trabalhar com Almodóvar e filmar em Hollywood. Almodóvar devolveu: "Acho que elas são mais generosas comigo do que com os outros. São capazes de fazer qualquer coisa que eu diga, por mais irracional que pareça".
O cineasta disse que, se fizer um filme em inglês, será fora dos EUA, num "sistema de produção menos asfixiante do que o de Hollywood", cujos convites recusa sistematicamente. "Só tive dúvidas quando me ofereceram "O Segredo de Brokeback Mountain'", ressalvou.
Especial
Leia o que já foi publicado sobre o Festival de Cannes
Leia o que já foi publicado sobre Pedro Almodóvar
"Voltei às minhas raízes", diz Almodóvar em Cannes
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Enviada especial da Folha de S.Paulo a Cannes
"Volver" (voltar), o longa de Pedro Almodóvar em competição pela Palma de Ouro no 59º Festival de Cannes, foi aplaudido ontem muito antes de terminar.
Na sessão para a imprensa, os primeiros aplausos surgiram logo quando o crédito "Um filme de Pedro Almodóvar" se sobrepõe à cena de abertura, em que as protagonistas Raimunda (Penélope Cruz) e Sole (Lola Dueñas) esfregam freneticamente a sepultura da mãe --Carmen Maura, num personagem-fantasma chamado Irene.
Reuters |
Pedro Almodóvar e sua musa Penélope Cruz, durante o 59º Festival de Cannes |
A platéia predisposta a gostar não se decepcionou no final. A sessão terminou sob palmas mais numerosas e mais intensas.
A boa acolhida em Cannes e o sucesso do filme na Espanha (em cartaz há dez semanas) acenderam a expectativa "pela Palma de Ouro ou por um Oscar", como observou uma jornalista espanhola a Almodóvar, na entrevista coletiva que se seguiu à projeção.
Almodóvar desconversou. "No momento em que você faz um filme, não sobra nem um neurônio sequer para pensar em prêmios."
Em "Volver", o cineasta se concentrou em sua "mais profunda volta às raízes" e na "reconciliação com a infância". O filme se passa em Madri e em La Mancha, região onde Almodóvar nasceu.
"Não sei se minha infância foi feliz ou infeliz, mas foi um período da minha vida que eu bloqueei, ao menos como tema dramático", disse, lembrando a exceção de seu longa anterior, "Má Educação" (2004), sobre o qual se especula ser autobiográfico o episódio do abuso sexual de um garoto por um religioso.
O abuso sexual também está em "Volver". É praticamente o único ato reservado aos homens num filme sobre mulheres. "Fui um menino educado por mulheres. Os homens estavam no campo ou no barco, não sei aonde, eu não os via", disse o cineasta.
Almodóvar afirmou que "a origem de quase todo o filme" é sua mãe e disse que frases que ouvia dela são repetidas pelas personagens no filme. "Sempre me inspiro em mim mesmo."
As atrizes rasgaram elogios ao diretor. "Existe só um Pedro. Não posso compará-lo", disse Penélope, questionada sobre a diferença entre trabalhar com Almodóvar e filmar em Hollywood. Almodóvar devolveu: "Acho que elas são mais generosas comigo do que com os outros. São capazes de fazer qualquer coisa que eu diga, por mais irracional que pareça".
O cineasta disse que, se fizer um filme em inglês, será fora dos EUA, num "sistema de produção menos asfixiante do que o de Hollywood", cujos convites recusa sistematicamente. "Só tive dúvidas quando me ofereceram "O Segredo de Brokeback Mountain'", ressalvou.
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