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08/06/2006
-
17h53
SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online
A Copa do Mundo deixou o "Jornal Nacional" mais adocicado com a entrada ao vivo de Fátima Bernardes, direto da Alemanha, para falar com o marido, "abandonado" no estúdio do Rio. Diante da imagem de sua mulher na tela, do outro lado do oceano, a voz de William Bonner muda, flertando com um tom meloso, reforçado pela expressão de rosto de homem "carente", pai de três filhos. É um dos trunfos de audiência da Globo antes do início do campeonato: a vida privada do casal 20 e seus "sacrifícios" em nome da notícia. Para compensá-los, o espectador fica ligado na história paralela dos dois, em meio a dramas insólitos e futebolísticos, como as bolhas nos pés de Ronaldo e machucões nas nádegas de Ronaldinho.
Bonner brinca com o interesse do espectador por intimidades de famosos: "Onde está você, Fátima Bernardes?". A pergunta parece mais um bordão típico de casais tomados pela saudade e pela vigilância. Por alguns segundos, o telejornal de maior audiência do país se rende ao momento "Namoro na TV", extinto programa de Silvio Santos no SBT, em que anônimos tentavam descolar um par conversando diante das câmeras. Vale ponderar: não há vulgaridade na modulação diferente da voz de Bonner, mas se estimula a expectativa do público, ótima estratégia para recuperar o ibope, ameaçado pela novela "Prova de Amor" (Record) no início do ano. Até o final da Copa, o "drama conjugal" ficará mais explícito?
A Globo incentiva o toque familiar no "JN". Aspectos da vida pessoal do casal são divulgados para a mídia de celebridades, inclusive a "Quem", revista do grupo. "Casseta & Planeta", humorístico da Globo, também explora, com freqüência, o ambiente caseiro na bancada do "JN". Fátima vira "Ótima Bernardes". Não é uma sátira nova. Nos anos 80, após o regime militar e os tempos de censura, havia o quadro "Casal Telejornal" na extinta "TV Pirata", no qual Regina Casé e Luiz Fernando Guimarães imitavam o casal 20 da época, os jornalistas Leila Cordeiro e Eliakim Araújo --no humorístico, o telejornal era apresentado em um balcão da cozinha. No "JN", a narração formal e sisuda de Cid Moreira só saiu do ar em março de 1996 --na época, ele foi substituído por Bonner e Lillian Wite Fibe.
Nos telejornais de outras emissoras, a fórmula do "âncora humanizado como celebridade" também é testada. No SBT, a mudança de penteados de Ana Paula Padrão é um chamariz fútil de audiência. Atualmente, a ex-Globo usa cabelos mais longos, pretos como os da personagem "Mortícia Adams". Na emissora de Silvio Santos, Carlos Nascimento tenta "ressuscitar" a figura do âncora opinativo celebrizado por Boris Casoy. Na Rede TV!, Marcelo Rezende (aquele da entrevista-show com o Maníaco do Parque) elogia no ar a gravata do comentarista esportivo Fernando Vanucci ('Alô, você!'). Na Band, Ricardo Boechat e Joelmir Betting também abusam de sorrisos, gracinhas e metáforas. Na TV Gazeta, Maria Lydia chama atenção pela narração arrastada, radiofônica, nada de tom coloquial, como manda a velha guarda.
Com a Copa, os apresentadores dos telejornais vão disputar quem é mais carismático, cada um com sua arma e atrativos pessoais. Por trás de tantos sorrisos "Colgate" e timbres vibrantes das vozes, há o inevitável jogo do ibope, da sobrevivência de rostos e grifes no vídeo, do marketing, em uma TV infestada de novelas mexicanas e "reality shows". O que menos importa é o futebol.
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Editor de Ilustrada da Folha Online
A Copa do Mundo deixou o "Jornal Nacional" mais adocicado com a entrada ao vivo de Fátima Bernardes, direto da Alemanha, para falar com o marido, "abandonado" no estúdio do Rio. Diante da imagem de sua mulher na tela, do outro lado do oceano, a voz de William Bonner muda, flertando com um tom meloso, reforçado pela expressão de rosto de homem "carente", pai de três filhos. É um dos trunfos de audiência da Globo antes do início do campeonato: a vida privada do casal 20 e seus "sacrifícios" em nome da notícia. Para compensá-los, o espectador fica ligado na história paralela dos dois, em meio a dramas insólitos e futebolísticos, como as bolhas nos pés de Ronaldo e machucões nas nádegas de Ronaldinho.
Divulgação |
Nos bastidores, Fátima se maquia antes de assumir papel de musa da Globo na Copa |
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No Rio, Bonner muda tom de voz ao ver a mulher na Alemanha |
Nos telejornais de outras emissoras, a fórmula do "âncora humanizado como celebridade" também é testada. No SBT, a mudança de penteados de Ana Paula Padrão é um chamariz fútil de audiência. Atualmente, a ex-Globo usa cabelos mais longos, pretos como os da personagem "Mortícia Adams". Na emissora de Silvio Santos, Carlos Nascimento tenta "ressuscitar" a figura do âncora opinativo celebrizado por Boris Casoy. Na Rede TV!, Marcelo Rezende (aquele da entrevista-show com o Maníaco do Parque) elogia no ar a gravata do comentarista esportivo Fernando Vanucci ('Alô, você!'). Na Band, Ricardo Boechat e Joelmir Betting também abusam de sorrisos, gracinhas e metáforas. Na TV Gazeta, Maria Lydia chama atenção pela narração arrastada, radiofônica, nada de tom coloquial, como manda a velha guarda.
Com a Copa, os apresentadores dos telejornais vão disputar quem é mais carismático, cada um com sua arma e atrativos pessoais. Por trás de tantos sorrisos "Colgate" e timbres vibrantes das vozes, há o inevitável jogo do ibope, da sobrevivência de rostos e grifes no vídeo, do marketing, em uma TV infestada de novelas mexicanas e "reality shows". O que menos importa é o futebol.
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