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17/06/2006 - 12h58

Análise: Sem Bussunda, "Casseta" revive drama de "Os Trapalhões"

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SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada Folha Online

"Bussunda morreu na Copa do Mundo? Fala sério, aí". A reação incrédula do fã remete ao bordão de Marrentinho Carioca, o craque do pior time do mundo, o Tabajara Futebol Clube, criado e popularizado pelo humorista.

Não foi só o Bussunda que morreu hoje na Alemanha. Morreu também o "Casseta & Planeta", uma das cinco maiores audiências da Globo. Ele personificava o espírito de galhofa do programa. Encarnava um tipo brasileiro, de fácil identificação pela periferia e esnobado pela elite: o gorducho boa praça, louco por futebol, mulher e cerveja. Nem por isso um bronco --pelo contrário, era bem ligado ao seu meio social, com um senso crítico permeado de bom humor. Não deverá ser substituído.

A atração das noites de terça deve seguir o destino do extinto "Trapalhões", desfeito após a morte de Zacarias em 1990 e Mussum em 1994: o telespectador terá a sensação de que "está faltando alguma coisa", perderá o interesse e esquecerá o programa.

Divulgação
Craque do pior time do mundo, Marrentinho era paródia de Bussunda a Marcelinho Carioca
Craque do pior time do mundo, Marrentinho era paródia de Bussunda a Marcelinho Carioca
Óbvio: ainda é cedo para discutir em público o tempo que resta ao "Casseta & Planeta". A turma de humoristas ainda está abalada com a morte. Neste momento, seria desrespeitoso e desumano especular sobre os prejuízos financeiros dessa "indústria do humor", que desponta no final dos anos 70 como um fanzine na Universidade Federal do Rio de Janeiro, vira um tablóide e depois uma revista nos anos 80, e "chega lá" no início dos anos 90 com um contrato com a Rede Globo, estreando em abril de 1992.

Mas seria ingênuo imaginar que a cúpula da maior emissora do país vai demorar em elaborar cenários para o horário nobre das terças-feiras, peça relevante na sua grade de programação --inclusive financeira, já que o "Casseta & Planeta" é uma "máquina de fazer dinheiro", de forte apelo publicitário, inclusive na propaganda indireta de novelas da casa.

Quem deve ser mais rápido é a cervejaria AmBev, dona da Antarctica, que deve tirar do ar os comerciais com Bussunda e a atriz Juliana Paes. Não pega bem vender uma bebida com a imagem de um morto no noticiário, reza a cartilha dos publicitários.

Nas últimas temporadas, o "Casseta" tentava manter seu prestígio, buscando uma renovação de quadros e personagens. Era um esforço para conter as comparações com o anárquico "Pânico na TV", que surgiu como um "arrasa-quarteirão", hoje a maior audiência da popularesca Rede TV!. A turma do "Vesgo e Silvio" virou febre na rádio, na televisão e na internet, atraindo publicidade (contrato com a Kaiser). Inevitável foi dizer o "Pânico" era sangue novo no humor na TV, e o "Casseta" era algo que bombou nos anos 90, está na fase do "vamos faturar ao máximo" e garantir uma boa aposentadoria logo mais.

Divulgação
Foto de Bussunda sem sorriso, meio sério, era rara. Só quando parodiava presidente Lula
Foto de Bussunda sem sorriso, meio sério, era rara. Só quando parodiava presidente Lula
Integrantes do "Casseta" tendem a ensaiar uma "carreira solo", desvinculada do programa. É o caso de Marcelo Madureira (o Coisinha de Jesus) , que comanda o quadro do 'Sem Controle', no canal pago GNT, às segundas-feiras (23h45). Entre os fãs, a pergunta será: depois do Bussunda, quem é o mais engraçado? Claudio Manoel (Seu Creysson), Helio de La Peña (Xicória Maria), Hubert (paródia de FHC), Reinaldo (Ótima Bernardes) e Beto Silva (o peludão da sauna gay)? Ou Maria Paula, a única saia do grupo?

Antes de ser apenas um comediante, o pançudo Bussunda era um cronista social com as constantes referências de seus personagens ao "Brasil churrasco", ao mastigar do torresmo, ao queijo derretido, ao pagode do domingão na laje, às peladas.

Não há também como esquecer que, neste início de Copa, nada foi tão polêmico quanto o peso do craque Ronaldo, que por maldade era comparado com a imagem de Bussunda. Até o presidente Lula, o pai do "Fome Zero", questionou o técnico Parreira se era verdade que o jogador estava gordo. Aqui, na redação da Folha Online, não encontramos em nossos arquivos nenhuma foto de um Bussunda sério, mal-humorado. Estava sempre sorrindo. Com exceção das imagens em que faz paródia de Lula --os dois tinham em comum o corpo acima do peso, a paixão pelo futebol e o jeitão Zeca Pagodinho, outro polêmico garoto-propaganda de cervejarias.

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