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23/06/2006 - 10h34

Web promete grande aumento do acervo de raridades da MPB

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RAQUEL COZER
Colaboração para a Folha de S.Paulo

Raridades da música popular brasileira que pareciam prestes a se perder em meio a pilhas de discos antigos vêm se tornando acessíveis na internet desde que, há alguns anos, instituições como o Instituto Moreira Salles (IMS) e o Centro Cultural São Paulo (CCSP) começaram a digitalizar e a colocar acervos sonoros em seus sites.

Hoje, com mais de 30 mil fonogramas on-line, o Brasil está entre os países com maior catálogo musical histórico na internet. "É o maior do mundo no que diz respeito à música popular de massa. Outros países, como os Estados Unidos, a Alemanha, e a Áustria, têm grandes catálogos, mas privilegiam a música étnica e a erudita", diz Evaldo Piccino, coordenador de música do CCSP.

Pois o conjunto de obras disponíveis está para aumentar --e bastante-- no próximo semestre. Em agosto, o Instituto Moreira Salles (IMS), que tem o maior catálogo on-line do país de músicas em 78 rotações por minuto, começará a colocar no ar 70 mil gravações lançadas em LP a partir dos anos 60.

No mesmo mês, a Biblioteca Nacional deve terminar a digitalização de 8.000 fonogramas de seu acervo em 78 rpm, para posterior publicação na internet. Antes disso, a Funarte pretende estrear sua rádio virtual, com material de seu acervo que foi recuperado e preservado com o apoio da Petrobras. O Centro Cultural São Paulo optou por disponibilizar em programas de sua webradio, aos poucos, os 30 mil fonogramas digitalizados de que dispõe.

As gravações que entrarão no site do IMS incluem os primeiros LPs lançados no país, comprados do historiador José Ramos Tinhorão.

"É uma grande amostra do que se produziu de bossa nova, tropicália e por aí vai. Estarão lá as primeiras gravações de Chico Buarque, o primeiro disco de canções de protesto de Alberto Ribeiro e os primeiros LPs independentes do país, como os de Danilo Caymmi", diz José Luis Herência, coordenador de música do instituto.

O catálogo do instituto que já está on-line inclui outra parte da coleção de Tinhorão e o material adquirido do colecionador carioca Humberto Franceschi. Pelo site, é possível ouvir quase 30 mil fonogramas em 78 rpm, produzidos entre 1902, quando surgiu a música gravada no país, e 1964, com o fim da fabricação desse tipo de disco. O destaque fica para os fonogramas da chamada fase mecânica, anterior a 1927, com raras gravações de gente como Pixinguinha, Orlando Silva e Carmen Miranda.

A recuperação dos fonogramas da Biblioteca Nacional começou em 2004, quando a equipe coordenada por Ana Pavani selecionou 4.000 discos do acervo que preenchessem os critérios do projeto de apoio à música nacional aprovado pela Petrobras.

"Focamos nos discos mais antigos e danificados. O material poderia incluir intérpretes ou compositores brasileiros, não necessariamente os dois ao mesmo tempo", diz Ana.

Graças a isso, foram resgatadas curiosidades como um samba de Ataulfo Alves em japonês e "O Guarani", de Carlos Gomes, em alemão. "Só foi possível saber realmente o que fazia parte do acervo no mês passado, com o fim da descrição arquivista e da conservação."

Com o fim da digitalização dos fonogramas, será necessário pesquisar que músicas estão em domínio público e podem ser colocadas na internet. As restantes ficarão disponíveis somente na sede da instituição, no Rio.

O CCSP lançou sua webradio em junho de 2004. A rádio funciona com servidor da Escola de Comunicações e Artes da USP e está temporariamente fora do ar, devido à greve da universidade. O acervo usado nos programas vem da antiga Discoteca Pública Municipal, atual Discoteca Oneyda Alvarenga, fundada em 1935 por Mário de Andrade, então diretor do Departamento de Cultura de São Paulo.

"Originalmente, o acervo era basicamente de música étnica e erudita. Mas a incorporação da coleção pessoal de Salatiel Coelho, que era do rádio, lhe deu um aspecto mais comercial, com ênfase na fase temporã do 78 rpm, dos anos 50 e 60", diz Evaldo. Entre o material que ainda não foi ao ar, está o single em 78 rpm do álbum "maldito" de Roberto Carlos, o renegado "Louco por Você", que ficou fora da coleção de caixas de CD do cantor, lançada a partir de 2004.

Há outros projetos no país envolvendo a digitalização de fonogramas raros. Um deles é o do colecionador cearense Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez, 73, que conseguiu R$ 265 mil da Petrobras para digitalizar seu acervo, com o apoio do Museu da Imagem e do Som do Ceará (MIS-CE). Nirez reuniu, desde os 20 anos de idade, 22 mil discos de 78 rpm.

Como ouvir

Uma das maiores dificuldades em que as instituições esbarram para disponibilizar fonogramas na internet é a questão dos direitos autorais. As músicas só entram em domínio público 70 anos após a morte dos compositores e, no caso dos intérpretes, 70 anos após a gravação. É por isso que as músicas ficam à disposição apenas para audição, e não para download.

Algumas raridades

Do CCSP
"Amor de Janela", gravada em 1960 por Hebe Camargo, que, na época, se apresentava como Moreninha do Samba; nunca saiu em CD

"Educação Sentimental", na voz de Wanderléa e de seu então marido Egberto Gismonti

"Eu Já Vi Tudo", de Peter Pan e Amadeu Veloso, canção que Marlene e Emilinha Borba gravaram juntas em 1949, antes de se tornarem arquiinimigas por causa da briga pelo título de Rainha do Rádio

"Dá Sorte" e "Sonhando", gravadas pela adolescente Elis Regina, em 1961, quando a cantora era orientada pela gravadora a imitar Celly Campello

Do IMS
"Macumba de Oxóssi", do pai-de-santo Zé Espinguela, gravada em 1940 pelo maestro inglês Leopold Stokowski a serviço do governo americano durante a política de boa vizinhança do país no pós-guerra

"A Velha Guarda", de 1955, na voz do Almirante, com o Grupo da Velha Guarda, do qual participavam Pixinguinha, Donga e João da Baiana

"Aviso aos Navegantes", 1956, da Continental, disco pioneiro de música de protesto no Brasil, do compositor Alberto Ribeiro

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