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04/07/2006 - 17h50

Por que fugir: Tribo "fake" reza cartilha dos estereótipos no Glória

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SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online

Falta "vibe" no clube Glória, novo xodó do mundinho fashionista em São Paulo. Há um exagero no "fake", no "kitsch", no "pop". O lugar é ótimo para desfilar, para dar um "close", jogar o cabelo, transpirar status, mas sufocante para quem busca só um pouco de diversão espontânea, beber, dançar, ver gente animada e bacana, e sair com a alma lavada.

O pior do Glória é esbarrar nos estereótipos e preconceitos típicos de quem se acha a elite, o supra-sumo do estilo, da estética, o farol da pós-modernidade, a voz e o rosto que ditam tendências.

Na entrada, forma-se uma fila. Parece que o clube está lotado. Mas alguém entrega: a demora é uma forma de criar a imagem de lugar disputado, atiçando a vontade de pegar a fila para quem circula pela praça Dom Orione.

Divulgação
Glória vira a nova "passarela" de quem faz da noite escada na busca do status "modernete"
Glória vira a nova "passarela" de quem faz da noite escada na busca do status "modernete"
É uma sexta-feira. A proposta é uma noite "exotique". Lá dentro, a pista ainda tem poucos gatos pingados, mas logo vai enchendo. Uma dica: não leve ninguém usando cabelo "black power". Corre-se o risco de seu amigo passar por um vexame: desconhecidos podem abordá-lo com perguntas estranhas do tipo "Você sabe quem tem padê?".

Parêntese de didatismo: "padê" é gíria para cocaína. Afinal, para quem discrimina, se o sujeito usa "cabelo de preto", só pode ser traficante. E isso não é exclusividade do "povo da moda".

Cuidado também com os pés. Enquanto você consome uma garrafa long neck da cerveja Stella Artois (R$ 8 no clube e R$ 2,50 no Pão de Açúcar), esperando o DJ acertar a mão, alguém pode derrubar no chão um copo de vidro com caipiroska. Sabe essa gente agitada que adora contar uma história gritando, sacudindo as mãos para dar efeito às palavras? O problema é que elas esquecem que há um mundo ao seu redor que não precisa tomar banho de vodka, limão e açúcar.

"No stress, no vaca". Logo surgem para limpar a sujeira os funcionários do Glória, vestidos de macacão branco com manchas pretas, dando um ar de SoHo --uma fashionista refastelada no "lounge" diria "Basquiat é tudo.com".

No contato com funcionários e freqüentadores, também se corre o risco de ouvir, do nada, perguntas do tipo "De onde você é?". Como se sabe, o mundo paulistano da moda é cheia de modelos gaúchas, catarinenses, paranaenses, que dividem algum flat no Itaim, mas elas não precisam se preocupar. Essa pergunta sobre sotaques diferentes só é feita para quem vem do Nordeste.

Hora da pista. A diversidade dá o "tchan": há menino com menino, menina com menina, menino com menina --além, é claro, três ou quatro meninos e meninas juntos, assim nessa mistura coletiva, "básico", diria a fashionista. Mas o clima pansexual é só uma fachada. No final da noite, após olhares do tipo "carão", é possível que nada aconteça --além do pagamento da comanda.

O som chega a ter um momento "qualquer nota.com", com o desastre do DJ "sambando", uma programação meio porca. Aquela coisa de sempre, dos gêneros da música eletrônica (house e electro), remixes chupados daqui e dali, um ambiente das boates "Vegas" e "D-Edge", mais higienizado e metido. O agravante é a mania irritante do DJ Jackson Araújo de usar o microfone para falar gracinhas ou a pista ficar sem música por um momento, como ocorreu na última sexta-feira.

Na saída, mais uma surpresa negativa: a um quarteirão do clube, dois guardas metropolitanos imobilizam e algemam um homem. O flanelinha contextualiza a cena: armado com uma faca, o ladrão tentou roubar duas garotas. Ainda bem que, pelo menos nessa área do Bixiga, rola um policiamento.

A última dica fashionista: vá de jeans, ponha um óculos à la Chilli Beans, acenda um cigarro, eleve o queixo na hora de baforar --se souber soltar fumacinha na forma de uma coração, melhor ainda.

Lembre-se: durante um ano, há várias coleções (outono, inverno, verão, primavera) em quatro principais mecas (Nova York, Londres, Paris e Milão) --com São Paulo e Rio tentando chamar atenção do mundo para o bando de cá, do chamado "terceiro mundo", que adora "macaquear" as atitudes ditadas acima da linha do Equador. Na Fashion Week de São Paulo e suas festas, o melhor a fazer é não tocar nesse assunto.

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