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11/08/2006
-
13h03
SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online
Após livro, coluna em revista e programa de TV, o "papo calcinha" de Maitê Proença chega aos palcos de São Paulo com a estréia da peça "Achadas e Perdidas", na noite da última quinta-feira (10) no teatro Cultura Artística. São seis esquetes onde predomina a comédia. Escrito por Maitê, o texto diverte a platéia, mas soa pretensioso e artificial quando flerta com o drama e o tom autobiográfico.
Como esperado, a estrela global de 46 anos hipnotiza com sua beleza estonteante em carne e osso, embora exponha muito sua técnica de interpretação (voz irregular, caras e bocas). Mas a grata surpresa da produção dirigida por Roberto Talma chama-se Clarice Derziê, atriz coadjuvante que marca um golaço em suas caracterizações e chega a ofuscar a presença de Maitê em cena.
"A beleza é uma maldição". A fala surge logo na primeira esquete, em que Clarice Derziê encarna uma impagável empregada que destrona a patroa, uma escritora frustrada, interpretada por Maitê. A frase parece resumir o "drama" de Maitê, que ganhou fama nos anos 80 em produções como "A Marquesa de Santos" (84) e "Dona Beija" (86), da extinta TV Manchete, em que sua nudez era explorada, como nas cenas de banhos de cachoeira e passeios a cavalo.
Nos últimos anos, Maitê tentou fugir do rótulo de "ex-mocinha que começou a fazer papel de mãe", embarcou na crônica feminina e lançou um livro, tal como uma Carrie Bradshow do finado "Sex and the City". A crítica literária tradicional esnoba as letras de Maitê. A mídia, em especial a Globo, dá espaço. Mas Maitê sabe, sofre e se esforça contra a "maldição" que persegue as "musas sem cérebro".
No lobby do teatro, após a peça, enquanto Maitê posa beijando seu namorado -- o assessor de imprensa da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Rodrigo Paiva-- para programas de coluna social na TV (Amaury Jr., Estilo Ramy, Antonio Guerreiro, TV Fama...chega!) e paparazzi, a atriz coadjuvante Clarice Derziê afasta-se do circo das câmeras, em meio aos garçons e suas bandejas. "Qual é o nome da atriz que fez a empregada? Que novela ela fez? Ela é tão boa no palco", sussurra uma loira para a colega com uma taça de prosseco na mão.
Na TV, a presença de Clarice Derziê é realmente apagada. Fez uma participação na novela "América" (2005) no papel de Malu, amiga da migrante Sol (Deborah Secco) nos EUA. No teatro, no final dos anos 90, fez "Trair e Coçar É Só Começar", de Marcos Caruso, no papel de uma empregada atrapalhada, que já foi de Denise Fraga.
Na nova peça, a atuação de Clarice nos diferentes personagens dá força ao texto de Maitê. O melhor momento da dupla é na terceira esquete ("Meninas"), em que vivem duas crianças de dez anos no velório da mãe de uma delas, criando um ambiente de inocência, elogio à amizade, lirismo e até humor negro.
Em "Amor da Minha Vida", as duas ilustram, com agilidade, o drama da separação, em cena com iluminação eficiente e música de Chico Buarque. Em "Óvulos Grisalhos", Clarice faz um ginecologista tratando uma mulher com dificuldades de engravidar, vivida por Maitê. Aqui, reinam discussões sobre auto-estima feminina, o medo da infertilidade, rugas ("Tô parecendo o Silio Boccanera"), botox, silicone, a tirania dos cremes de rejuvenescimento.
Sozinha no palco, em "Pelada", Maitê desabafa sobre a implicância feminina com o joguinho de futebol dos namorados e dá o braço a torcer ("o brinquedo dos rapazes é mais divertido"), com direito a imagens de bundas masculinas em banheiro coletivo exibidas em um telão no palco. Ela também dá cutucada nas "marias-chuteiras" e no jogador que dedicava gol mostrando o a tatuagem no punho, uma referência de Maitê ao fim do casamento do craque Ronaldo e a modelo Daniella Cicarelli ("Não deu muito certo").
O uso do vídeo entre as esquetes tenta atribuir um ecletismo para a carreira de atriz de Maitê, que nesses momentos gravados se caracteriza de motorista de ônibus à prostituta. É como se, na concepção do espetáculo, a lógica televisiva falasse mais alto. Não é só um recurso para as constantes trocas de figurino pelas atrizes. Maitê parece refém de sua imagem. Mesmo que grite sua dor, que admita a loucura que o mundo da TV provoca, que fale de drogas e síndrome do pânico, almejando uma outra realidade, uma reinvenção de sua carreira, assumindo riscos como uma peça de teatro, o problema é a expectativa de seu público. "Ela é linda", sussurra a loira do prosseco.
Serviço
"Achadas e Perdidas"
Onde: Teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, centro)
Quando: sextas e sábados (21h) e domingos (18h), até 26/11
Quanto: R$ 50 (sexta e domingo) e R$ 60 (sábado)
Telefone: 0/xx/11/3258-3616
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Crítica: "Empregada" ofusca Maitê Proença em "papo calcinha" no teatro
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Editor de Ilustrada da Folha Online
Após livro, coluna em revista e programa de TV, o "papo calcinha" de Maitê Proença chega aos palcos de São Paulo com a estréia da peça "Achadas e Perdidas", na noite da última quinta-feira (10) no teatro Cultura Artística. São seis esquetes onde predomina a comédia. Escrito por Maitê, o texto diverte a platéia, mas soa pretensioso e artificial quando flerta com o drama e o tom autobiográfico.
Como esperado, a estrela global de 46 anos hipnotiza com sua beleza estonteante em carne e osso, embora exponha muito sua técnica de interpretação (voz irregular, caras e bocas). Mas a grata surpresa da produção dirigida por Roberto Talma chama-se Clarice Derziê, atriz coadjuvante que marca um golaço em suas caracterizações e chega a ofuscar a presença de Maitê em cena.
Divulgação |
Clarice Derziê (à esq.) ofusca Maitê Proença em "Achadas e Perdidas", que estreou em SP |
Nos últimos anos, Maitê tentou fugir do rótulo de "ex-mocinha que começou a fazer papel de mãe", embarcou na crônica feminina e lançou um livro, tal como uma Carrie Bradshow do finado "Sex and the City". A crítica literária tradicional esnoba as letras de Maitê. A mídia, em especial a Globo, dá espaço. Mas Maitê sabe, sofre e se esforça contra a "maldição" que persegue as "musas sem cérebro".
No lobby do teatro, após a peça, enquanto Maitê posa beijando seu namorado -- o assessor de imprensa da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Rodrigo Paiva-- para programas de coluna social na TV (Amaury Jr., Estilo Ramy, Antonio Guerreiro, TV Fama...chega!) e paparazzi, a atriz coadjuvante Clarice Derziê afasta-se do circo das câmeras, em meio aos garçons e suas bandejas. "Qual é o nome da atriz que fez a empregada? Que novela ela fez? Ela é tão boa no palco", sussurra uma loira para a colega com uma taça de prosseco na mão.
Divulgação |
Maitê expõe demais técnica de interpretação; coadjuvante equilibra melhor comédia e drama |
Na nova peça, a atuação de Clarice nos diferentes personagens dá força ao texto de Maitê. O melhor momento da dupla é na terceira esquete ("Meninas"), em que vivem duas crianças de dez anos no velório da mãe de uma delas, criando um ambiente de inocência, elogio à amizade, lirismo e até humor negro.
Em "Amor da Minha Vida", as duas ilustram, com agilidade, o drama da separação, em cena com iluminação eficiente e música de Chico Buarque. Em "Óvulos Grisalhos", Clarice faz um ginecologista tratando uma mulher com dificuldades de engravidar, vivida por Maitê. Aqui, reinam discussões sobre auto-estima feminina, o medo da infertilidade, rugas ("Tô parecendo o Silio Boccanera"), botox, silicone, a tirania dos cremes de rejuvenescimento.
Divulgação |
Em "Óvulos Grisalhos", texto aborda "rugas de expressão da vagina" |
O uso do vídeo entre as esquetes tenta atribuir um ecletismo para a carreira de atriz de Maitê, que nesses momentos gravados se caracteriza de motorista de ônibus à prostituta. É como se, na concepção do espetáculo, a lógica televisiva falasse mais alto. Não é só um recurso para as constantes trocas de figurino pelas atrizes. Maitê parece refém de sua imagem. Mesmo que grite sua dor, que admita a loucura que o mundo da TV provoca, que fale de drogas e síndrome do pânico, almejando uma outra realidade, uma reinvenção de sua carreira, assumindo riscos como uma peça de teatro, o problema é a expectativa de seu público. "Ela é linda", sussurra a loira do prosseco.
Serviço
"Achadas e Perdidas"
Onde: Teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, centro)
Quando: sextas e sábados (21h) e domingos (18h), até 26/11
Quanto: R$ 50 (sexta e domingo) e R$ 60 (sábado)
Telefone: 0/xx/11/3258-3616
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