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13/08/2006 - 10h58

Celulari topa beijo gay e diz que "faria bissexual com o maior prazer"

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LAURA MATTOS
da Folha de S.Paulo

O zunzunzum circula na internet, no movimento GLS e preocupa figurões da Aeronáutica: será que Edson Celulari, no papel de um militar em "Páginas da Vida", vai ter um caso com outro homem na novela?

Está aí a mais nova "trama paralela" de Manoel Carlos, o autor campeão em criar polêmicas, manter suas histórias na "boca do povo" e, claro, levar com isso o ibope lá para cima. "Páginas da Vida" mal completou um mês e já é sintonizada por 67% dos telespectadores que estão ligados no horário.

E olha que a maior parte do público ainda nem faz idéia da possibilidade de Celulari, 48, galã do primeiro time global, trocar ninguém menos que Ana Paula Arósio por um bofe. Na novela, ele é Sílvio, militar da Aeronáutica. Conservador e tímido, vive constrangido com o jeitão "caliente" da mulher, Olívia (Arósio). Pensa em abandonar a carreira e se define como alguém com "dificuldades para fazer escolhas". Na segunda fase da novela, daqui a uma semana, seu casamento, após cinco anos, estará em crise. Mas será que ele é?

Vamos aos fatos. Há dois anos, Manoel Carlos disse à Folha com todas as letras: pretendia pôr um bissexual em "Páginas". Já havia feito isso em "Por Amor" (97/98), mas com um personagem secundário. "Não sei por que não houve muita repercussão", disse. Ele também criara um jovem casal de lésbicas em "Mulheres Apaixonadas" (2003), mas afirmou considerar "o bissexualismo mais atraente do que o homossexualismo como argumento". "É grande o número de bissexuais que vivem com suas mulheres e filhos, ou de mulheres que vivem com seus maridos."

Agora mudou o discurso. Diz que não decidiu se -e como- abordará o assunto em "Páginas da Vida". Sobre a especulação de que poderia ser o personagem de Celulari, não confirma, mas também não nega. Maneco, como é chamado, é de dar inveja em bons marqueteiros...

Já Celulari negou à Folha que tenha recebido "indicação do autor nesse sentido". Disse ter lido na sinopse que outros dois personagens estariam cotados para ser o bissexual (especula-se que sejam o de Marcos Caruso e o de Tato Gabus Mendes). Mas disse que seria "maravilhoso" discutir esse tema e que interpretaria "com prazer" um bissexual.

Odilon Wagner, intérprete do bissexual de "Por Amor", contou à Folha que foi chamado antes de a novela começar por Manoel Carlos. "Ele me perguntou se eu topava e combinamos de manter isso em segredo", disse o ator, que perdeu contratos publicitários à época.

O bafafá em torno de Celulari causou desconforto no alto escalão da Aeronáutica, que assessorou a novela para compor o personagem, liberou sua base no Rio para gravações e até emprestou um macacão para o ator usar em cena. Há quem defenda que a colaboração acabe se Sílvio "sair do armário".

A versão oficial do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica é que a instituição "não censura novelas" e que não há ordem para deixar de colaborar com a produção.

O debate também começou no site de relacionamentos Orkut. Foi criada uma comunidade para os que defendem que Sílvio seja o bissexual da trama. Regina Facchini, doutoranda em sexualidade pela Unicamp e coordenadora da Secretaria de Bissexualidade da Parada Gay de SP, conta que a pauta já está nas listas de discussões de militantes na internet. "É positivo que haja um bissexual na novela das oito, contanto que ele não reforce estereótipos, como o do marido que trai a mulher com outro homem e ainda a contamina com Aids.

Se fosse assim, seria terrível. Mas estamos abertos a discutir a abordagem com o autor." Se Celulari é ou não é, veremos. Mas outra coisa é fato: personagens gays viraram recurso infalível para criar polêmica em novelas -e estão até na TV do bispo Edir Macedo.

Colaborou DANIEL BERGAMASCO , da Reportagem Local

Leia a entrevista concedida por Edson Celulari à Folha sobre a possibilidade de seu personagem em "Páginas da Vida" ser um bissexual.

Folha - O Sílvio é ou não é o bissexual de "Páginas da Vida"?

Edson Celulari -
Fiquei assustado com a nota [publicada num jornal carioca], porque não sabia de nada. E me parece que o Manoel Carlos [autor] desmentiu [à Folha, ele não nega nem confirma]. Estava na sinopse, mas não era com o meu personagem, era com outros dois.

Folha - Quais outros dois?

Celulari -
É... Eu não me lembro. Era uma possibilidade.

Folha - Há indícios de que Sílvio pode ser: ele se incomoda com o jeito "caliente" da mulher...

Celulari -
[interrompendo] Isso não aponta nada. É um comportamento normal. Em nenhum momento tive essa intenção e não recebi orientação nesse sentido. Se gostaria de fazer, é outra coisa. Discutir a bissexualidade é maravilhoso.

Folha - Houve dois diálogos do Sílvio que podem ser pistas. Em um, ele fala que sempre teve dúvidas...

Celulari -
[interrompendo] Eu sei o que fala, que tem dificuldade em tomar decisões. Mas isso não quer dizer nada.

Folha - Numa cena desta semana, o pai vira para Sílvio e diz: "Será um almoço de homens". Ele olha fixamente para o pai por alguns segundos e só depois ri, concordando.

Celulari -
[risos] Aí você está indo longe demais. Sobre aquele olhar, o que pensei como ator foi que era de admiração pelo pai, ele olha com amor, não tem nada a ver. Eu te garanto que estou fazendo o que está escrito no roteiro. Ele está vivendo a lua-de-mel, está ótimo. Por enquanto, esse é o perfil.

Folha - E se ele for bissexual? Como ficará a mulherada que é sua fã?

Celulari -
Já fiz tantos papéis, meu pai do céu... "Calígula" no teatro, o filme "Asa Branca" [era jogador de futebol e rolava um "clima" com o personagem de Walmor Chagas], tantos...

Folha - Agora é novela das oito.

Celulari -
Eu sei, mas a catarse acontece quando o ator faz bem o que tem que fazer. Nós somos o meio para passar a idéia do autor. Fiz o papel em "Decadência" [pastor corrupto]. Era uma discussão saudável, e nem por isso o público... Isso é uma idéia meio romantizada. Se tiver que fazer [o bissexual], farei com o maior prazer, o importante é ter um bom material, conflito. Já pensou se minha vida fosse fazer só o que as pessoas esperam e não o que gosto? Estaria triste. Se o Maneco [Manoel Carlos, autor da novela] colocar esse tema, será com a profundidade de sempre.

Folha - Já interpretou bissexual?

Celulari -
No filme "Sexo Frágil", fiz um ator que se travestia de mulher para participar do Dia das Mães na escola do filho, que não tinha mãe.

Folha - E beijo gay?

Celulari -
Sou virgem [risos]. Ah, fiz em teatro, o Calígula.

Folha - Se o Maneco escrever e a Globo desta vez bancar, você topa?

Celulari -
Eu não vejo isso como um desafio, vejo com naturalidade. Se vier, vou fazer porque esse é meu trabalho. E vou tentar fazer bem feito.

Folha - Você acha que eu estou vendo pêlo em ovo, sinceramente?

Celulari -
Não, acho que... Você pode ler a cena de vários modos. Da minha parte, digo: não fiz com nenhuma indicação sobre isso. Se ele vier a escrever isso, será um caminho novo.

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