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15/08/2006 - 08h23

DVD traz panorama do rap paulista com bênção de Mano Brown

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MARY PERSIA
da Folha Online

A festa da favela Godói já entrou para o calendário anual de eventos da periferia sul paulistana. Localizada no Capão Redondo, em um dia de setembro ela se transforma no palco para diversos grupos de rap, mostrando a união de artistas que estão longe de conquistar a grande mídia, mas se precisar de uma carona para levar os equipamentos, "é nóis".

Dessa festa, nascida anos atrás a partir de um campeonato de futebol de várzea (Vida Loka contra Canabis era o clássico), surgiu o DVD "100% Favela" (Atração Records), que registra as apresentações de 2005 e, tão bom quanto o show, traz extras que se costuram em um documentário. Entre os "bônus" estão o dia da festa, sua organização e uma troca de idéias entre os integrantes do Negredo (organizador do evento e da associação Periferia Ativa), Ferréz e Mano Brown (que deve atrair a atenção do público).

Reprodução
DVD traz grupos de rap em show
DVD traz grupos de rap em show
Num considerável panorama do rap paulista, o DVD (direção de Sophia Bisilliat, filha da fotógrafa Maureen Bisilliat) traz apresentações de diversos grupos da capital, além do arrebatador Realidade Cruel, de Hortolândia, e o representante da velha-guarda GOG, de Brasília. O ecletismo, ainda que sutil, percorre o som e o discurso duros do RDG, Muralha Sul, Negredo, Colt 44 e Ferréz (melhor escritor do que rapper), a levada realista e melancólica do Detentos DTS e do Consciência Humana, a criatividade do Otraversão e o som de pista do Rosana Bronx.

"Tem favelado aí ou não tem?", pergunta Ylsão (do Negredo) no palco, que vibra com os urros da platéia. "Os boy treme!", completa o rapper, deixando claro que o evento é também uma fonte de auto-estima para quem vive nas casas de tijolos aparentes e lajes cinzas que são o cenário do show.

Numa época de confrontos declarados em São Paulo, chama a atenção a performance do Realidade Cruel, que evoca: "Quem não gosta de polícia mão pra cima!". Ergue-se um mar de braços que depois acompanha o ritmo dos versos, entre eles "todo camburão tem um pouco de navio negreiro" (num Rappa reprocessado), a lembrar que, depois da quinta geral que se toma na vida, fica difícil ver a polícia com simpatia.

Para quem gosta de rap e para quem não gosta, para quem quer conhecer o dia-a-dia da favela (que venham os estudiosos) e para quem só quer ver Mano Brown falar, o DVD vale a pena. Os Racionais MCs, cultuadíssimos no meio --com versos citados pelo Rosana Bronx e sampleados pelo RDG--, se fazem representar por Brown, na conversa sobre rap e afins que integra os extras.

Nesse bate-papo, Ylsão mostra que a periferia tem mais do que dois ou três representantes dentro do hip hop. Ele explica, ao lado dos colegas de grupo Alê e Tó, como fica a relação do Negredo com o tráfico e os moradores para a realização da festa e fala como os artistas são vistos na própria favela ("O povão vê o grupo de rap como um partido político, tem de dar ajuda e tudo."). Brown e Ferréz ajudam a contextualizar, trocam pontos de vista.

O líder dos Racionais aparece também na entrega do prêmio Cooperifa no ano passado, apresentado pelo poeta Sérgio Vaz. Em um passeio de carro, lembra ainda de um documentário de João Batista de Andrade (atual secretário estadual da Cultura), "Wilsinho Galiléia" (1978), que o impressionou.

Pena a periferia ficar de fora do público consumidor do DVD, dado o preço do produto (R$ 35 na www.atracao.com.br. Os organizadores vendem, de mão em mão, por um preço mais baixo). A renda líquida vai para projetos da Periferia Ativa, em especial para a biblioteca do bairro.

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