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17/08/2006 - 12h13

Salman Rushdie defende Günter Grass e sua obra após escândalo

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da France Presse, em Londres

A obra de Günter Grass não será afetada pelas revelações sobre o passado de seu autor, afirmou nesta quinta-feira o romancista britânico Salman Rushdie, que defende o escritor alemão em meio ao escândalo provocado pela revelação de seu alistamento nas SS nazistas.

"Ele foi uma força extraordinária durante o último meio século e isso não pode acabar porque se descobriu uma falta nele", declarou o autor de "Versos Satânicos" à BBC.

A recente revelação por parte de Grass de ter se alistado na SS, elite militar do regime nazista, no final da 2ª Guerra, não diminuiu em nada a admiração de Rushdie, diz ele, que definiu o autor alemão como um "gigante do mundo da literatura" e "um grande criador".

O escritor britânico --sobre quem pesa há mais de uma década uma fatwa (decreto religioso) por parte de grupos islâmicos que o condenaram à morte por causa de sua obra-- comparou o caso de Grass com o do escritor francês Louis Ferdinand Celine, um simpatizante anti-semita.

"Não deixamos de ler a obra de Celine apesar de ele ter sido simpatizante dos nazistas", afirmou, recordando que "a falta" do escritor alemão aconteceu quando ele tinha apenas 17 anos. "Grass jamais escondeu que procedia de um meio nazista", recordou, afirmando que seu longo silêncio a respeito não se deveu à hipocrisia e sim a "uma dissimulação parcial", hoje reparada.

Rudshie, no entanto, admitiu ter ficado "extremamente afetado com a decepcionante revelação" sobre o passado do autor de "O Tambor". "Mas ele é um de meus amigos e não tenho a intenção de mudar isso só porque descobri que cometeu um erro terrível no passado".

A primeira edição de "Beim Haeuten der Zwiebel" (literalmente, "Descascando a Cebola"), o novo livro autobiográfico de Günter Grass, está praticamente esgotada, dois dias depois do lançamento na Alemanha, Áustria e Suíça.

"Vergonha

A obra na qual Grass evoca sua infância e juventude e confessa que se alistou nas SS teve uma tiragem inicial de 150 mil exemplares, dos quais 130 mil foram vendidos no mercado de língua alemã, segundo a editora da Steidl, com sede em Göttingen (noroeste).

Grass disse sentir "vergonha" de seu passado nas SS em um trecho de uma entrevista, exibido na noite de terça-feira pela TV alemã. "Pelo que vivo neste momento, dá a impressão de que se quer colocar em questão o que fiz nos últimos anos da minha vida. E estes últimos anos da minha vida foram marcados pela vergonha", disse o escritor, no trecho da entrevista exibido pela emissora pública ARD, que exibirá a íntegra na quinta-feira.

Perguntado sobre a razão de ter demorado a confessar seu envolvimento com a SS, Grass disse que a resposta está no livro. "É o tema deste livro, no qual trabalhei por três anos, e tudo o que tenho a dizer sobre o tema está ali. Quem quiser julgar, que julgue", acrescentou na entrevista, gravada em sua casa de férias na Dinamarca.

Considerado a consciência moral da Alemanha no pós-guerra, particularmente para a esquerda, o Nobel de Literatura revelou no fim de semana passado ter ingressado na SS aos 17 anos. Na Polônia, a reação despertada por esta confissão foi intensa, particularmente porque Günter Grass nasceu em Gdansk (antiga Danzig) e é cidadão honorário da cidade.

Segundo um documento publicado na terça-feira pela imprensa alemã, o envolvimento de Grass nas SS era conhecido desde 1945, mas passou despercebido por 61 anos até a revelação feita pelo escritor.

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