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31/08/2006
-
10h16
LUIZ FERNANDO VIANNA
da Folha de S.Paulo, no Rio
Ao falar do tema "Esquecimento e Memória", o historiador Luiz Felipe de Alencastro criticou anteontem, no Rio, os economistas que foram ministros durante a ditadura, em especial o hoje deputado federal Delfim Netto (PMDB-SP).
Professor de História do Brasil da Universidade Paris 4 (Sorbonne), Alencastro participou do seminário "O Esquecimento da Política". Hoje, às 18h45, ele fala em São Paulo, no Sesc Avenida Paulista.
"Há uma categoria que escapou completamente ao fato de que exercer uma profissão na ditadura é uma coisa e na democracia é outra. São os economistas. Eles se atribuíram uma legitimidade que fez com que vários --como Delfim Netto, [Mario Henrique] Simonsen e [João Paulo dos] Reis Velloso-- que tiveram um papel fundamental na ditadura nunca se explicassem. Nunca foram questionados ou refutados em suas análises, graças a uma autoridade científica que pretensamente ganharam naquele período por ter feito tal ou tal medida, num contexto autoritário, como se a mesma medida e a mesma reflexão social servissem para o regime democrático", disse.
Alencastro chamou de "aberração" o fato de Delfim ser "conselheiro permanente de todos os governos, inclusive deste [Lula]", e arrisca um palpite: "Não me espantará se ele for o próximo ministro da Agricultura".
O historiador citou "Cabra Marcado pra Morrer", de Eduardo Coutinho, como exemplo de não-esquecimento. Interrompido pelo golpe de 1964, o filme foi retomado com a abertura política e mostra, para Alencastro, que "a ditadura não é uma coisa que começa em 64 e acaba em 85".
Outro "esquecimento" abordado foi o relativo à escravidão. Para o historiador, há "uma lacuna no ensino brasileiro sobre a escravidão". O fato se agrava, para ele, porque as projeções demográficas indicam que, em breve, o país terá mais negros do que brancos. "Vamos ser o que éramos antes de 1860: uma nação majoritariamente formada por afro-descendentes."
Ele não quis opinar sobre as cotas para negros em universidades, mas defendeu o ensino da cultura "afro-brasileira" em escolas.
"Se os poloneses não viessem para o Brasil, não mudaria nada. Se não viessem os africanos, não tinha Brasil. Os africanos construíram o núcleo central da nacionalidade brasileira. É importante para Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina...", afirmou.
Alencastro, no entanto, criticou a ênfase de movimentos negros na defesa das terras quilombolas. "Precisa ter é embaixador [negro] em Londres, não defender terra ruim. Não é dar uma rocinha para uma população já pauperizada", disse, lembrando ainda a pequena presença de afro-descendentes no Itamaraty e na igreja.
Especial
Leia o que já foi publicado sobre Luiz Felipe de Alencastro
Historiador Luiz Felipe de Alencastro ataca economistas da ditadura
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da Folha de S.Paulo, no Rio
Ao falar do tema "Esquecimento e Memória", o historiador Luiz Felipe de Alencastro criticou anteontem, no Rio, os economistas que foram ministros durante a ditadura, em especial o hoje deputado federal Delfim Netto (PMDB-SP).
Professor de História do Brasil da Universidade Paris 4 (Sorbonne), Alencastro participou do seminário "O Esquecimento da Política". Hoje, às 18h45, ele fala em São Paulo, no Sesc Avenida Paulista.
"Há uma categoria que escapou completamente ao fato de que exercer uma profissão na ditadura é uma coisa e na democracia é outra. São os economistas. Eles se atribuíram uma legitimidade que fez com que vários --como Delfim Netto, [Mario Henrique] Simonsen e [João Paulo dos] Reis Velloso-- que tiveram um papel fundamental na ditadura nunca se explicassem. Nunca foram questionados ou refutados em suas análises, graças a uma autoridade científica que pretensamente ganharam naquele período por ter feito tal ou tal medida, num contexto autoritário, como se a mesma medida e a mesma reflexão social servissem para o regime democrático", disse.
Alencastro chamou de "aberração" o fato de Delfim ser "conselheiro permanente de todos os governos, inclusive deste [Lula]", e arrisca um palpite: "Não me espantará se ele for o próximo ministro da Agricultura".
O historiador citou "Cabra Marcado pra Morrer", de Eduardo Coutinho, como exemplo de não-esquecimento. Interrompido pelo golpe de 1964, o filme foi retomado com a abertura política e mostra, para Alencastro, que "a ditadura não é uma coisa que começa em 64 e acaba em 85".
Outro "esquecimento" abordado foi o relativo à escravidão. Para o historiador, há "uma lacuna no ensino brasileiro sobre a escravidão". O fato se agrava, para ele, porque as projeções demográficas indicam que, em breve, o país terá mais negros do que brancos. "Vamos ser o que éramos antes de 1860: uma nação majoritariamente formada por afro-descendentes."
Ele não quis opinar sobre as cotas para negros em universidades, mas defendeu o ensino da cultura "afro-brasileira" em escolas.
"Se os poloneses não viessem para o Brasil, não mudaria nada. Se não viessem os africanos, não tinha Brasil. Os africanos construíram o núcleo central da nacionalidade brasileira. É importante para Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina...", afirmou.
Alencastro, no entanto, criticou a ênfase de movimentos negros na defesa das terras quilombolas. "Precisa ter é embaixador [negro] em Londres, não defender terra ruim. Não é dar uma rocinha para uma população já pauperizada", disse, lembrando ainda a pequena presença de afro-descendentes no Itamaraty e na igreja.
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