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14/09/2006 - 15h06

Personagens da Disney invadem museu de arte erudita em Paris

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MARIA CARMOMA
da France Presse, em Paris

O camundongo Mickey, Branca de Neve e Peter Pan invadiram o Grand Palais de Paris, templo da arte normalmente dedicado a grandes mestres eruditos, num paradoxo apenas aparente --visto que Walt Disney (1901-1966), o criador desses personagens, "é um gênio artístico e o maior inventor de contos do século 20".

A declaração é de Bruno Girveau, chefe de conservação das coleções da Escola de Belas Artes de Paris e curador da mostra "Era Uma Vez Walt Disney: nas Fontes da Arte dos Estúdios Disney", que se propõe a revelar a gênese artística da obra de Disney e mostrar que, após se inspirar em todas as formas de arte possíveis, ele criou sua própria estética, que, por sua vez, foi fonte de inspiração da arte moderna e contemporânea.

Com cenografia assinada pelo italiano Alessandro Mendini, a mostra permite apreciar a semelhança do cenário de "Branca de Neve" com a de "Romeu e Julieta" do cineasta George Cukor. O personagem da rainha má, por sua vez, é uma mistura da atriz Joan Crawford com uma estátua da catedral gótica da cidade alemã de Naumbug. Os ratinhos de "Cinderela" foram inspirados diretamente nas ilustrações de Beatrix Potter para "The Tailor of Gloucester" (1903).

Da arte gótica até o surrealismo, passando pelos flamencos primitivos, pelos desenhos de Gustave Doré e o cinema expressionista alemão, a mostra compara os desenhos de Disney com seus modelos e revela como ele misturava todas essas influências sem preconceito, agregando-as à cultura norte-americana e transformando-as numa nova forma de expressão popular.

A exposição, que será aberta ao público neste sábado, reúne cerca de 500 peças procedentes dos arquivos de Disney, de coleções particulares e de vários museus. Seus desenhos originais são apresentados juntamente com obras que os inspiraram (ilustrações, pinturas, filmes etc.).

Oscar

Junto de estudos, desenhos e cenários, alguns dos quais são contemplados como verdadeiros quadros, a exposição mostra ainda estatuetas de gesso pintadas que serviram de modelo para os personagens e alguns objetos curiosos, como o Oscar que Disney ganhou com "Branca de Neve", em que a famosa estatueta dourada esteve acompanhada de sete cópias em miniatura.

"Trata-se de mostrar como a cultura popular e a cultura 'sábia' se contaminam mutuamente", disse Girveau ao apresentar a exposição à imprensa.

Autodidata

O sucesso de seus filmes colocou Disney como um dos ícones da cultura americana de massa e fez cair no esquecimento sua "extraordinária aventura artística". Walt Disney era um autoditada, relativamente pouco culto, "mas tinha uma intuição artística infalível", sabendo coordenar e imprimir sua marca ao trabalho dos muitos artistas que colaboraram com ele, reforçou Girveau.

"Desde Grimm e Perrault, não houve um contador com tal talento. É, ainda, um grande cineasta, seus primeiros filmes ("Branca de Neve", "Pinóquio") são obras-primas, e isso num gênero que não existia, que ele inventou", acrescentou o curador, reforçando que a exposição foi organizada em total liberdade e que não aceitou nenhum financiamento dos estúdios Disney.

Dalí

Uma das salas da mostra é dedicada à colaboração de Disney e Salvador Dalí, que se conheciam, admiravam e chegaram a trabalhar juntos. "Em Hollywood encontrei os três grandes surrealistas americanos: os irmãos Marx, Cecil B. DeMille e Walt Disney", escreveu o gênio espanhol em 1937.

Não se sabe ao certo quando os dois se conheceram, mas em 1945 Disney propôs a Dali a colaboração em um desenho animado chamado "Destino", apesar dos comentários irônicos da imprensa, que considerava pouco viável um trabalho conjunto do "pai do camundongo Mickey e do mestre dos relógios moles".

Na época, o pintor catalão, mestre do surrealismo, estava em Los Angeles como colaborador no filme "Quando Fala o Coração", de Alfred Hitchcock. Ele já havia se aventurado no cinema, especialmente em "O Cão Andaluz", de Luis Buñuel.

Disney, por sua vez, queria contar com a colaboração de artistas contemporâneos e havia feito uma primeira experiência de filme artístico com "Fantasia". Apesar da admiração mútua, o projeto de "Destino" nunca foi acabado. No entanto, quinze desenhos e pinturas de Dalí para o projeto estão em exposição no Grand Palais, onde também é exibido um curta-metragem de seis minutos que, com base neste material, foi feito em 2003 pelo sobrinho de Disney, Roy E. Disney.
A última sala da mostra revela a influência de Disney na arte contemporânea, com 40 obras de artistas como Andy Warhol, Roy Lichtenstein e Melik Ouzani.

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