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17/09/2006 - 10h16

Fábrica de vinil resiste ao tempo no Rio

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ADRIANA FERREIRA SILVA
LUIZ FERNANDO VIANNA
da Folha de S.Paulo

Se o novo disco de Caetano Veloso chegar aos pick-ups de DJs europeus e às boates da moda de São Paulo e Rio, carregará um pouco da poeira da Baixada Fluminense. A versão em LP de "Cê" foi prensada no município de Belford Roxo, na última fábrica de vinis em atividade no Brasil, a Poly Som.

Caetano é um nome de primeira linha que se integrou à turma dos que não querem deixar o vinil morrer. Está do lado de Los Hermanos, Nando Reis, Ed Motta e outros que têm lançado seus discos também em LP. O objetivo principal é fazê-los chegar às pistas de dança, pois DJs que se prezam preferem as grandes bolachas. Sorte da Poly Som, que assim consegue sobreviver, apesar das dificuldades. Em 2004, a fábrica produziu 43 mil discos. Em 2005, foram 32 mil. Até julho deste ano, só 12,4 mil.

"Houve uma queda enorme, mas continuamos trabalhando. Só que também temos de fazer outros produtos de plástico, como copos", diz a gerente Luciana Carvalho, 30. Segundo ela, a maior parte das encomendas vem de bandas de rock. Em segundo lugar estão os rappers.

Na contramão da história, a Poly Som foi criada em 1999 por Nilton José Rocha, que trabalhava há 30 anos no meio fonográfico. Ele construiu uma linha de montagem capaz de produzir até 5.000 LPs por dia. Chegava perto disso até 2001, enquanto recebia pedidos de igrejas evangélicas. Depois que elas passaram para os CDs, as encomendas minguaram.

A maioria das gravadoras prefere fazer o corte (a feitura do disco) no exterior, deixando com a Poly Som apenas a prensa (a reprodução das matrizes). Como o produto é caro --"Cê" sairá por R$ 84--, os LPs geralmente têm fins promocionais, sendo distribuídos a DJs.

Sucesso nas pistas

"Os DJs foram responsáveis por essa volta do vinil de forma mais popular, mas os audiófilos nunca o deixaram", conta o cantor e compositor Ed Motta.

Parte do enorme sucesso de Vanessa da Mata se deve ao vinil, pois a versão remix de "Ai, Ai, Ai" estourou nas pistas. A cantora é daquelas que têm o fetiche do chiado: gosta até do barulhinho que o atrito da agulha com a bolacha provoca.

"O CD inibe os graves e agudos, comprime tudo, é menos humano. Com o LP, parece que a música está sendo tocada na sua sala", exalta Vanessa.

A revelação Céu é outra apaixonada que terá uma cota de LPs no próximo disco. "Sou a favor da resistência do vinil. É um som maravilhoso, com os graves mais encorpados, e um objeto de muito valor, que não se pode copiar", diz.

A Warner, que lançará o disco de Céu, já fez o mesmo com O Rappa e Maria Rita. A Sony BMG fez com Marcelo D2, Jota Quest e Los Hermanos --que vende o LP de "4" nos shows.

Pitty, Black Alien, Marcelinho da Lua, Negra Li, Cabal e Leilah Moreno são outros integrantes do time. Quando o assunto é hip hop, LP é lei.

"Se não lançar hip hop em vinil, comercialmente não funciona. O vinil traz credibilidade, demonstra que o DJ tem mais conhecimento cultural", diz DJ Hum, que vendeu 1.500 cópias do compacto de "Senhorita", de seu grupo, o Motirô.

"O hip hop começou com o DJ e isso se mantém até hoje. É cultural", endossa KL Jay, DJ do grupo Racionais MCs.

No Brasil, a indústria de eletroeletrônicos não produz mais toca-discos e agulhas. Tudo tem que ser importado. O setor fonográfico não pesquisa o segmento desde 96. No mercado internacional, ele entra na gaveta "outros meios físicos", ao lado de fitas cassete e VHS. De 2004 para 2005, as vendas caíram 30%: US$ 531 milhões para US$ 372 milhões.

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