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26/10/2006 - 11h05

Filme paraguaio premiado em Cannes tem proposta difícil

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CÁSSIO STARLING CARLOS
da Folha de S.Paulo

Primeiro filme paraguaio desde 1978, "Hamaca Paraguaya", longa de estréia da diretora Paz Encina provocou surpresa no último Festival de Cannes, onde recebeu o Prêmio da Crítica. A reação de Cannes é benéfica porque o trabalho dificilmente alcançaria maiores repercussões fora do âmbito de festivais, dadas suas peculiaridades.

O filme se aparenta ao do argentino Lisandro Alonso, "Os Mortos", ambos cineastas adeptos de um cinema da contemplação, que pode fascinar alguns espectadores como também irritar outros, que, diante desse tipo de obra, podem ter a impressão de "não acontece nada".
A proposta da diretora paraguaia é formalmente ambiciosa e de difícil absorção. Em longos planos fixos vemos um casal de velhos evocar o filho, que partiu para a Guerra do Chaco (contra a Bolívia, em 1935).

A ausência é acentuada pelos latidos de um cão e pela espera da chuva. Todo o filme se articula a partir desses mínimos elementos, com os quais a diretora enfatiza sua especial atenção aos ritmos.

Tempo

O trabalho (na lavoura, na casa) serve para pontuar a passagem do tempo, mas é o tempo como dimensão que dá corpo à expectativa o que interessa à diretora. Como encenar através das imagens a espera? Daí a entrada da natureza como o ponto forte do filme. Os sons exercem força essencial, com os barulhos do vento nas árvores, dos animais e dos trovões captados com uma sutileza assombrosa.

Dessa maneira, a diretora Paz Encina consegue capturar o espectador sem recorrer à psicologia. Pouco ficamos sabendo do casal além da informação sobre o filho. Os diálogos são sobrepostos às imagens sem necessariamente vermos os atores dialogarem. As falas, desconectadas das imagens, acentuam seu lugar numa espécie de extratempo, oriundas de uma outra dimensão além ou aquém do presente.

Essa encenação em camadas, parecida com a estrutura complexa de uma tapeçaria, abre o filme para uma dimensão panteísta, onde os acontecimentos são substituídos por uma percepção cósmica, e com isso o cinema mostra, mais uma vez, aquilo de que é capaz.

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