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27/10/2006 - 10h34

Diretor ironiza realismo em animação em "A Scanner Darkly"

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CÁSSIO STARLING CARLOS
da Folha de S.Paulo

Com a exceção, talvez, de "Blade Runner", o universo do escritor Philip K. Dick foi sempre desnaturado e maltratado nas tentativas de sua transcrição para o cinema. Com "A Scanner Darkly", no entanto, o diretor Richard Linklater consegue preservar a aura da obra do escritor e fazer um filme que remete diretamente aos tempos estranhos em que vivemos.

Aqui, o elemento essencial da narrativa são as alterações de consciência. Seja por meio da droga ou de tormentos psíquicos como paranóia, psicose e esquizofrenia, o ponto de partida de Dick é mental, desde que se entenda o termo como aquele sujeito às maiores e mais profundas formas de distorção.

Ou seja, qualquer sinal de realismo passa a ser encarado com suspeita. O golpe de inteligência de Linklater é traduzir essa desconfiança na forma da técnica cinematográfica que adotou para produzir o filme.

"A Scanner Darkly" foi feito originalmente com atores, encenado da maneira tradicional, e, depois, cada um de seus fotogramas foi duplicado sob a forma de animação.

Para isso o diretor reutilizou a técnica chamada rotoscopia, que já usara com resultados medianos em "Waking Life". Só que aqui, em vez de um discurso pseudofilosófico sobre as camadas infinitas da realidade, é a própria técnica que dilui os sinais evidentes de "realidade" no material filmado para desdobrá-los na "irrealidade" da animação.

Fluxo hipnótico

O resultado, do ponto de vista visual, é um fluxo hipnótico de imagens fluidas e mutantes, nas quais situações e personagens flutuam sem determinações aparentes e diante do qual o espectador nunca encontra um ponto estável que lhe permita julgar o que é real ou simulação, o que é experiência ou imaginação/delírio.

Outro aspecto bem-sucedido é o tratamento da trama. Em vez de enfatizar o universo paralelo da ficção científica, tornando-o um sucedâneo metafórico do mundo em que vivemos, Linklater o rebaixou ao mais elementar patamar do cotidiano. Os personagens perambulam, tomam cerveja, conversam fiado e podem estar (ou não) movidos a um tipo de droga cujo efeito migra do sensorial para o físico, estabelecendo danos irreversíveis na estrutura e no funcionamento de seus cérebros.

Assim, ele aproxima de tal maneira a visão paranóica de Dick das nossas referências, cujo efeito mais imediato é conduzir o espectador a compreender que o universo do medo, da perseguição e do controle absoluto dos corpos e das idéias não tem mais nada de metafórico.

Ele já vigora sob o nosso modo bem conhecido de uma rede de intrigas constituída por pactos escusos entre grandes corporações e um controle policial da sociedade.

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