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29/10/2006 - 09h34

Em cartaz na 30ª Mostra, "Princesas" tira roupa de prostitutas

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SYLVIA COLOMBO
da Folha de S.Paulo

Para contar a história de duas prostitutas que vivem em Madri, o cineasta Fernando León de Aranoa, 38, freqüentou por alguns meses a Casa de Campo, conhecida zona de meretrício da capital espanhola. E a inusitada conclusão a que chegou foi que... não deveria fazer um filme sobre sexo.

Assim, apesar de "Princesas" retratar mulheres que vivem de sexo pago, não há sequer uma cena de sexo propriamente dito. "Quando via as prostitutas conversando com os clientes, encostadas na janela dos seus carros, ficava desinteressado. Era tudo encenação. Tive, então, vontade de contar o que acontece no 'backstage' desse teatro", disse o cineasta em entrevista à Folha, por telefone, de Madri, onde vive.

"Princesas", assim, é um filme sobre tudo o que as prostitutas fazem. Menos sexo. Se para muitos isso pode soar, como diz o provérbio, como uma empada onde falta a azeitona, aqueles que conhecem um pouco a trajetória do diretor saberão que o filme não terá menos interesse por causa disso. Aranoa é um artesão ao modelar personagens, e uma das coisas que faz melhor é tratar da relação entre pessoas que compõem um mesmo grupo e que estão ligadas entre si ou por determinado contexto ou por alguma fatalidade.

Em "Princesas", Aranoa amarra histórias de prostitutas da mesma forma como retratou o universo masculino em "Segundas-Feiras ao Sol" (vencedor do Goya de 2003 que desbancou Pedro Almodóvar na indicação da academia espanhola para o Oscar) --exaltando suas fragilidades.

"'Segundas-Feiras' é um filme mais cínico, mas divide com 'Princesas' o princípio de fundamentar-se na intimidade de pessoas que se desiludem com a realidade e encontram na convivência o suporte emocional para viver", diz.

A história de "Princesas" gira em torno de duas mulheres, Caye (Candela Peña) e Zulema (Micaela Nevárez). A primeira é espanhola e sua escolha pela prostituição tem a ver com uma fantasia, um desejo de fuga da vida burguesa a que sua família a condena. A segunda é uma imigrante dominicana, que está ilegalmente na Espanha e que tem na prostituição a única forma de ganhar seu pão.

Zulema enfrenta mil dificuldades com a polícia e com um amante sádico que a espanca e lhe faz falsas promessas de conseguir "los papeles" que regularizariam sua situação.

"Uma abre a cabeça da outra. Enquanto Zulema mostra a Caye que a vida pode ser dura, Caye lhe apresenta a importância do aspecto emocional do que ambas vivem nas ruas", diz.

Comparações

Aranoa é freqüentemente comparado ao britânico Ken Loach, por conta de seu interesse por dramas sociais. Entretanto, diferentemente do diretor de "The Wind that Shakes the Barley" (que também está na Mostra), o espanhol não empunha bandeiras nem toma partido do ponto de vista ideológico. "Não é uma prioridade, já que há muita gente fazendo isso. E Ken Loach é um dos que o executam da melhor forma."

"Segundas-Feiras", por exemplo, se passava numa cidade portuária, onde um grupo de operários de um estaleiro fechado reunia-se todos os dias para beber e refletir sobre sua desgraça comum. "Eu não esperava um sucesso tão grande para um filme que é tão espanhol, tão voltado a uma questão específica do meu país".

A "nova" Espanha, aquela que surge pós-União Européia, pós-Zapatero e pós-atentados de 11 de Março e que se abre para refletir sobre seu passado (vide a revisão histórica que faz da Guerra Civil Espanhola) está latente nos detalhes de "Princesas". E Aranoa foca atentamente a história daqueles que estão perdendo e ficando para trás num país que acorda, revigorado.

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