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29/10/2006 - 10h18

Diretor ousa na estética em "Mundo Novo" e assina crítica à Itália

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MARIO GIOIA
da Folha de S.Paulo

2006 é o ano que marca, ao menos no circuito de festivais, um forte ressurgimento do cinema italiano. A 30ª Mostra de São Paulo passa alguns desses novos títulos, entre os quais se destacam os longas de dois romanos: "Anche Libero Va Bene", de Kim Rossi Stuart, e a pérola da "nova onda" peninsular, "Mundo Novo", de Emanuele Crialese.

Prêmio Revelação no Festival de Veneza, o filme perdeu por um voto o Leão de Ouro, o principal do evento, que foi dado ao chinês Jia Zhang-ke e seu "Still Life". "Mundo Novo" conta a história de uma família que tenta escapar da pobreza da Sicília no início do século 20 e emigra para os EUA em busca de melhores condições de vida. No entanto, o Novo Mundo idealizado pelos Mancuso não é transposto para sua realidade.

Visto assim em sua sinopse, pode se pensar que seria mais uma obra política do cinema italiano --que também ganha importante retrospectiva nesta edição da Mostra--, mas Crialese consegue passar longe de um olhar repetitivo sobre o tema. Constrói uma obra de filmagem sedutora, sem minimizar o tom crítico, e reforça seu olhar atento, depois do interessante "Respiro", já lançado no Brasil.

No início, o filme traz elementos que remetem à tradição neo-realista. Duas figuras dissipadas em uma paisagem rochosa, que emergem e depois vão se anunciar como personagens importantes da história, em uma sobreposição de homem e ambiente, que ressalta a aridez de ambos.

Salvatore Mancuso (o ótimo Vincenzo Amato), patriarca da família, é um camponês temente a Deus. Sua mãe, Fortunata (Aurora Quattrocchi), é conhecida curandeira da região. A religião e as crenças populares se confundem e são importantes no cotidiano familiar.

Em meio a esse caldo multicultural, emergem os delírios de Vincenzo, que beiram o surrealismo, a partir dos relatos que recebe sobre a América. Espécie de jardim das delícias, com cenouras gigantes, rios de leite e todo tipo de fartura e prosperidade, sua imaginada existência fomenta o desejo de mudança em Vincenzo, que resolve partir para os EUA.
São instantes do longa em que Crialese trabalha com contrastes e cria, com marcado talento, imagens que fogem da crueza com a qual um mediano diretor se restringiria.

Mar revolto

Ao retratar a travessia oceânica, o diretor introduz uma personagem que se aproximará dos Mancuso, a misteriosa inglesa Lucy (Charlotte Gainsbourg). Ela causará instabilidade no pequeno núcleo, já envolto em problemas. Pietro (Filippo Puccilo), o filho mais novo, tem problemas para se comunicar; Fortunata não consegue se desvencilhar da terra natal.

Também no universo do navio, repleto de personagens duros, mas cheios de vitalidade --Crialese realiza hábeis cenas de uma tempestade em alto-mar e de um "duelo" musical na terceira classe do navio--, transparece o cuidado plástico e a crítica social do filme. Os italianos do sul lembram escravos em navios negreiros. O horror pelo qual passam frisa que a hoje rica Itália barra embarcações de imigrantes ilegais no Adriático e no Mediterrâneo.

Na chegada, os EUA são vistos só em ambientes internos e suas contradições são exploradas. Crialese ressalta que a terra das oportunidades têm suas regras rígidas. Mas, de novo, surpreende e cria um dos melhores finais do cinema recente, embalado por Nina Simone.

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