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05/12/2009 - 08h30

"SP é laboratório do modernismo", diz arquiteto Jacques Herzog

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SILAS MARTÍ
da Folha de S.Paulo

Enquanto ouvia críticas a seu projeto num debate da Bienal de Arquitetura, Jacques Herzog tinha o rosto imóvel, congelado numa expressão entre enfado e fascínio. Escaneava a plateia com uma espécie de olhar ciclópico, costas rígidas e mãos, duras, sobre a mesa.

Um colega de debate chamou a ideia de construir o Teatro da Dança uma "decisão de gabinete, em que a sofisticação se opõe à carência total". Aproveitou para questionar a escolha do escritório suíço, justificada pelo argumento de "notório saber", que dispensou concurso público para a obra mais cara da secretaria de Cultura.

Leticia Moreira/Folha Imagem
O arquiteto Jacques Herzog no prédio da FAU-USP, de Vilanova Artigas
O arquiteto Jacques Herzog no prédio da FAU-USP, de Vilanova Artigas

Naquela hora, um rapaz na plateia levantou uma grande faixa com a inscrição "Não à São Paulo Cia. de Dança".
"Foi interessante ouvir todas essas colocações", disse Herzog, pedindo que levantassem de novo a faixa. "Mas a discussão sobre se vamos ou não construir não recai sobre o arquiteto. Sempre tem gente querendo que as coisas fiquem do mesmo jeito, e este projeto não é caro porque é feito por mim, é uma obra de educação, para dar acesso a vários grupos sociais."

Na noite da quarta-feira passada, quando acabou o encontro na Bienal, Herzog seguiu para a casa da artista Tomie Ohtake, que organizou uma recepção para ele com outros nomes da lista VIP da dança e da arquitetura na cidade. Estava cansado, com sede e com fome.

"Preciso de uma taça de vinho tinto", disse aos anfitriões quando chegou. Sentou à mesa e logo trouxeram um prato de hors d'oeuvres sortidos. Ali, reconheceu que sim, o teatro é um "projeto para a classe alta".

"É estúpido ser politicamente supercorreto", concluiu. "É verdade que precisam de dinheiro para a periferia, mas nosso projeto não exclui os pobres. Dizer que é preciso cuidar só de pobres é uma hipocrisia."

Gesticulando, alternando entre inglês e espanhol, mastigando com avidez os canapés, dizia que com este projeto São Paulo vai se tornar mais comparável a Londres, Paris. "Ao Rio", acrescentou o secretário estadual da Cultura, João Sayad, que ouvia a conversa perto da mesa.

Laboratório moderno

Mas São Paulo vai chegar mais perto das grande metrópoles culturais com traços de sua própria arquitetura. Herzog diz que enxerga a cidade como "um laboratório onde o modernismo deixou suas marcas".

"Tem essa ilusão do homem de construir num paraíso, a ideia de integrar seres humanos, natureza e tecnologia", disse o arquiteto, abrindo sua palestra na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP no dia seguinte. "Tudo isso aqui tem um frescor chocante."

Falou de Lina Bo Bardi, a arquiteta que fez o Masp, com seu "sonho de casar espaços internos e externos". Dentro do prédio modernista de Vilanova Artigas, exaltou ainda mais essa fusão entre paisagem e construção. "Queremos avançar nessa ideia de permeabilidade, criar fricções entre as pessoas."

Divulgação
Projeto do futuro Teatro da Dança, que deve ser inaugurado em 2014 em São Paulo
Projeto do futuro Teatro da Dança, que deve ser inaugurado em 2014 em São Paulo

Na fricção, uma aluna então perguntou por que um arquiteto suíço precisa vir ao Brasil fazer algo que já existe no país.

Herzog respondeu dizendo que o contrário, um prédio de formas mirabolantes seria um erro. "Não há nada como este prédio na cidade, mesmo que ele tenha ingredientes locais", disse. "Se vocês acham que isso é algo que já têm ou que conseguem fazer vocês mesmos, têm um pensamento datado, de achar que arquitetura tem a ver com montar um espetáculo."

Repetiram a pergunta mais tarde, num encontro com jornalistas. Herzog levou as mãos à cabeça e respondeu: "Nada, não estou inovando em nada. Não estou trazendo nada a São Paulo. Nada disso é inovador".

 

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