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20/11/2000 - 10h19

Limp Bizkit e Eminem varrem os EUA na turnê do ódio

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da Folha de S. Paulo

Os anti-heróis Fred Durst (Limp Bizkit) e o rapper Eminem promovem a Anger Tour, a principal viagem roqueira desde o Lollapalooz.

Feios, sujos e malvados. A mais pulsante manifestação da música jovem atual tem a forma de um moleque levado, anda com o boné para trás, costuma dizer nas letras todas as variações possíveis da palavra "fuck" e vem varrendo a América na mais badalada turnê desde o famoso festival de rock Lollapalooza (1991-1996).

A Folha foi conferir em St. Louis, no começo do mês, a passagem pelo Missouri da Anger Management Tour, ou Anger Tour, a turnê do ódio.
A turnê é estrelada pela hoje megabanda de rap metal Limp Bizkit (o grupo que mais vendeu discos nos EUA nos últimos 30 dias, segundo a "Billboard"), pelo polêmico rapper branco Eminem (que frequenta os altos postos da mesma "Billboard" e da parada britânica desde que seu terceiro CD saiu, em maio), pela novata Papa Roach (que vem ao Brasil em janeiro para o Rock in Rio 3) e pelo grupo de rap Xzibit.

Esse ser híbrido -que virou o rock dominante de hoje mistura o heavy metal com o rap e traz pegada punk- tem sido catalogado pelos principais meios musicais como "nu-metal", o "nu" vindo de "new", novo.

A cena está na ordem do rock desde 1997/1998 e a partir de então tem lavado cérebros de meninos da geração MTV com nomes como o do próprio Limp Bizkit, mais Deftones, Slipknot, Korn, o Soulfly do brasileiro Max Cavalera, entre muitos outros.

Menos pela qualidade e mais pela energia explosiva reunida, impressiona ver, como nos shows de St. Louis, a capacidade de formar tamanha comunhão entre banda e público, que mesmo em local encravado dentro de cidade conservadora lota ginásios imensos de basquete e transforma em coral gigante letras que tratam de revolta, sexo, assassinato, polícia.
O negócio é que a cena encontrou agora o seu porta-voz: Fred Durst, amado pela garotada na mesma medida em que é odiado por grande parte de músicos e imprensa.

Durst é um dos maiores defensores do Napster e colecionador de inimizades dentro do rock. Desde que lançou seu terceiro disco ("Chocolate Starfish and the Hot Dog Flavored Water", recém-lançado no Brasil), tem estado em capas de revistas musicais tanto quanto o assunto "eleições americanas" em manchetes de jornais "sérios".

E um convite para apresentações conjuntas com outra figura odiada, como o rapper Eminem, cujo currículo musical se confunde com um boletim de ocorrência, só podia originar uma turnê com o nome irônico que tem.

A Anger Tour atingiu St. Louis no último dia 6, quando já havia percorrido 12 cidades dos EUA e Canadá, sempre com apresentações lotadas e polêmicas. A turnê, que amanhã abala Anaheim, na Califórnia, arrasta seu séquito teen até o 34º número, em Washington D.C., em 12 de dezembro.
Como parte do plano de dominação mundial, a Anger Tour segue em janeiro para 15 shows no Japão e na Austrália. E logo depois desembarca para festejada etapa britânica.

Ver um show do Limp Bizkit é como estar diante de um Kiss moderno, dada a pirotecnia do palco, enfeitado por um robô Transformer gigantesco, que solta fogo e provoca explosões a cada pancada forte da bateria. Ou durante todo o show.

Fred Durst, com a movimentação de rapper tradicional ora acometida pelo espírito metaleiro, comanda a garotada.

O ritmo do Bizkit, assim como é o padrão do nu-metal, é o do hip hop cadenciado, que aos poucos vai ganhando velocidade com a presença cada vez maior da guitarra, para depois explodir em barulheira no refrão gritado, como se o público presente, hipnotizado, esperasse o refrão para a libertação de suas angústias e raivas.

O Limp Bizkit ao vivo funciona muito melhor que em estúdio. Vivenciar canções do novo CD, "Chocolate...", no carro ou em casa, tem resultado morno. Agora, com a banda em ação, como na ótima versão do tema de "Missão Impossível 2" ou no novo hit "My Generation", um descuido e você sai gritando "fuck".

Fred Durst, às portas do novo século, é um sujeito a ficar de olho. Nem tanto pelo que ele fala, mas pelo que ele causa no rock.

O show do Limp Bizkit foi precedido da apresentação do rapper Eminem, cuja entrevista à Folha, momentos antes de entrar no palco, pode ser lida nesta página.

Eminem já está confortável no trono de maior destaque do rap americano, veio de ouro da indústria dos EUA. E nem negro é.

Com apenas dois discos por uma major, coleciona uma lista de "problemas" pessoais interligados com sua música que vai de processo judicial movido pela mãe, discursos homofóbicos e relacionamento difícil com sua mulher, que é "morta" por Eminem na canção "Kim".

O rapper contabiliza bem a fama de anti-herói. É rei nos EUA e adorado na Europa. Da Madonna ao extracool Elvis Costello, não pára de receber elogio. Ganhou dois prêmios, melhor artista de hip hop e álbum ("The Marshall Mathers LP"), no MTV Europe Music Awards, semana passada.

Seu show é excelente, interativo, vivo. Eminem, como cenário, transporta para o palco a fachada de sua casa, da infância pobre no perigoso subúrbio de Detroit. E ganha o público com frases do tipo: "Ei, St. Louis. Sinto-me tão em casa aqui que trouxe até a minha".

Eminem é um showman. Tem presença no palco e segura a onda no rap tão bem quanto os astros negros do gênero. Sua fama meteórica e sua "ficha" na música parecem não assustá-lo.

"Eu sou o que você disser que eu sou", canta no hit "The Way I Am". O ginásio todo, formado principalmente por garotos brancos de cidade americana pequena que podem pagar US$ 50 pelo ingresso, o segue em uma só voz.

Eminem, Limp Bizkit, seus imensos públicos, o nu-metal, essa turnê. Eles são o que você disser que eles são. E é isso aí.
 

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