Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
27/11/2006 - 10h44

Concursos da Ford e da Elite devem premiar modelos "supermagras"

Publicidade

LETICIA DE CASTRO
LEANDRO FORTINO
da Folha de S.Paulo

Amanhã nasce uma outra top model. Ela é adolescente, tem cerca de 1m75, pesa uns 50 kg e é dona de pernas finas, de quadril estreito e de seios pequenos.

A vencedora do Supermodel Brazil --o mais famoso concurso de "new faces" do mundo, da Ford Models, cuja final brasileira acontece nesta terça-feira-- ainda nem foi escolhida, mas já se sabe exatamente como ela será: supermagra.

E na sexta-feira desta semana, quando acontece outro evento caça-modelos, o Elite Model Look, a vencedora será como? Supermagra.

Folha Imagem
A adolescente Alexia de Almeida Araújo, 13, tem 1m76 e 53 kg
A adolescente Alexia de Almeida Araújo, 13, tem 1m76 e 53 kg
Foi assim no ano passado, será assim no ano que vem e, segundo profissionais da moda ouvidos pelo Folhateen, as modelos supermagras serão por um bom tempo a opção de estilistas, seja na passarela seja em editoriais ou em anúncios de revistas.

Com 1m74, 47 kg e uma das 15 escolhidas entre quase 600 mil inscritas para a final do Supermodel, a gaúcha Rafaela Link, 13, é voz dissonante.

Ela não concorda com a ditadura de seu próprio biotipo: "Acho as pessoas saudáveis mais bonitas, não interessa se é gordinha ou magra. Acho que não deveria existir essa exigência de magreza, porque precisamos transmitir saúde, e não doença. O visual muito magro passa sensação de doença. Prefiro ver desfilando uma garota de corpo bonito, com curvas, a uma esquelética".

Jurados

Mas não será esse o critério que o fotógrafo Gui Paganini levará em conta na hora de julgar Rafaela. Paganini é um dos jurados do Supermodel Brazil.

"Nos anos 90, para ser modelo tinha que ser gostosa. Mas o mercado se cansa, e a moda é cíclica. Então, aquela beleza pura, de Cindy Crawford [modelo que foi o padrão de "mulher gostosa" na década passada], cansou. Precisa de um algo a mais. Os estilistas buscam mulheres mais estranhas para se diferenciarem do comum."

A discussão da magreza excessiva no mundo da moda ganhou destaque há duas semanas com a morte da modelo Ana Carolina Reston, vítima de anorexia.

Folha Imagem
Finalista do Supermodel Brazil, Rafaela Link, 13, tem 1m74 e 47 kg
Finalista do Supermodel Brazil, Rafaela Link, 13, tem 1m74 e 47 kg
Dois meses antes, na Espanha, duas garotas foram proibidas de desfilar na semana de moda de Madri por serem magras demais. Um mês depois, o estilista Jean-Paul Gaultier engrossou o caldo da polêmica ao colocou uma modelo de 132 quilos na passarela, na última semana de moda de Paris.

Mas esses ainda são casos isolados no mundo da moda, pois o mercado não parece disposto a mudar sua exigência.

Para a diretora da Elite Brasil,diz Adriana Ferreira Leite, "a magreza já vem de tempos. É um padrão mundial, e eu acho muito difícil mudar. Acho que as pessoas precisam prestar atenção na parte da saúde, porque muito magra também não dá. Ela precisa estar naquela medida perfeita. Mais ou menos não funciona".

"Estamos procurando por um novo talento, que tenha o potencial para se tornar uma estrela, como Camila Finn, Liliane Ferrarezi e Luciana Curtis", explica a dona da Ford Models, a americana Katie Ford, citando três tops brasileiras, todas bem magras.

"É ridículo"

Por conta dessa lei injusta, Emilia Cechele, 17, vencedora do Elite Model 2003, teve de abrir mão da passarela. Com 1m80 de altura e 64 quilos, ela não está no chamado "padrão fashion". "Adoraria ser mais magra, mas não vale o sacrifício. Não vou correr o risco de ficar doente fazendo dietas muito radicais. Teve uma época em que tomava laxante porque tinha que ficar magra para a passarela. Eu não era magra, mas era uma pressão que eu mesma fazia", diz Emilia, que agora faz comerciais.

Para a modelo da Elite Gabriela Urnau, 16, 1m77, 49 quilos, a magreza exigida no mercado atualmente é "ridícula". "Se falarem para eu emagrecer, eu vou falar: "tô nem aí". Faço mais comercial, não faço muito fashion. Acho feio, os osso ficam aparecendo. É ridículo."

Já Kaoany Valiati, 13, 1m76, 50 quilos, uma das 15 finalistas do concurso da Ford, discorda. "Acho bonito um monte de menina seca, alta, desfilando".

Para manter a forma, a menina de São José do Rio Preto, interior de SP, controla a alimentação, caminha e faz entre cem e 150 abdominais todos os dias.

"Se eu fizer mais atividade física eu crio músculo, e não pode. Tem que ter a barriga retinha, não pode ter celulite, mas também não pode criar músculo porque modelo tem que ser seca", acredita.

Nem todo mundo é

Já Alexia de Almeida Araújo, 15, 1m76 e 53 kg, outra escolhida para a final de amanhã, nada contra a corrente: "Não me preocupo e não fico olhando as calorias das coisas que como. Eu como e depois ando. Não faço academia e, por não ter bicicleta, ando para caramba", diz a moça de Santos, SP.

Biti Averbach, editora de moda da revista "Marie Claire" há sete anos e também jurada do Supermodel Brazil, já viu modelos desmaiarem durante sessões de foto de editoriais de moda por não terem comido nada o dia todo.

"Uma coisa é a mulher ter um corpo esbelto e conseguir mantê-lo com facilidade. Uma outra coisa é essa loucura de a pessoa não ter aquele corpo e começar a fazer de tudo para emagrecer", diz a editora.

"Todo mundo quer a mulher magra. Em termos de desfile, existe uma tradição francesa, principalmente na alta-costura, em ser esquelética. Não sei onde surgiu isso, mas acredita-se piamente no mundo da moda que a roupa cai melhor numa modelo magra", finaliza.

E você? Acredita? Nem todo mundo é da moda. E nem precisa ser. Tá?

Leia mais
  • Morte de modelo não assusta blogueiras pró-anorexia

    Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre Ana Carolina Reston
  • Leia o que já foi publicado sobre anorexia
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página