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30/11/2006 - 09h58

Em "Um Bom Ano", diretor faz filme previsível que busca "elegância"

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PEDRO BUTCHER
da Folha de S.Paulo

Repare bem: elegância nunca foi o forte do cinema de Ridley Scott. O tão premiado "Gladiador", se bem observado, é algo próximo do caos em vários aspectos formais. Principalmente em relação à montagem. As seqüências de batalhas e lutas são quase incompreensíveis: não se entende ao certo o que se passa em cena, a agilidade dos cortes esconde a pobreza do material filmado, e nenhuma cena é resolvida de forma, digamos, elegantemente cinematográfica.

Em "Um Bom Ano", que estréia amanhã, essa deficiência é ainda mais evidente, pois a muleta do espetáculo está ausente, e a elegância é um objetivo específico perseguido pelo diretor. O coração do filme está no contraste entre a brutalidade do mercado financeiro londrino e a sofisticação de um vinhedo francês. A visão maniqueísta se impõe de partida.

Max Skinner (Russell Crowe) é um gladiador do mundo financeiro que engendra uma estratégia pouco escrupulosa para faturar milhões. Sua chance de redenção estará na paz e na sofisticação dos vinhedos, onde mora o verdadeiro prazer e a vida pode ser aproveitada de forma genuína. Skinner recebe a notícia de que seu tio Henry (Albert Finney) morreu, deixando-lhe o vinhedo na França, de onde guarda tenras memórias da infância. Visita o local disposto a vendê-lo, mas aos poucos é seduzido pelas lembranças idílicas e pela atração por uma francesa (Marion Cottillard), que se revela mais teimosa do que ele.

Não bastasse a previsibilidade da trama, cujos desdobramentos podem ser adivinhados nos primeiros minutos, o filme é marcado por um suposto virtuosismo da imagem que, na verdade, é de uma pobreza atroz. Logo no começo há um plano que se contorce em torno do personagem principal sem que haja nenhum motivo para isso a não ser o exibicionismo da direção. Repare ainda na forma como os diálogos são filmados e organizados, dando saltos desnecessários que aparentemente suavizariam a rudeza dos enquadramentos, mas que terminam por sublinhar esse aspecto. Os cortes, sempre bruscos, tentam conferir uma agilidade que não consegue de fato "acelerar" a história.

Referências

A certa altura, fica evidente que Scott tenta prestar dupla homenagem: ao cinema europeu, em referências que vão de Jacques Tati à nouvelle vague, e ao americano, principalmente às "screwball comedies" de Howard Hawks e ao otimismo sentimental de Frank Capra.

Do penteado à postura, Russell Crowe tenta parecer um Cary Grant moderno. E toda a trama relacionada à conquista da jovem francesa faz alusão às comédias tipo "guerra dos sexos" com Spencer Tracy e Katherine Hepburn. Mas esse manancial de referências não ajuda.

"Um Bom Ano" é baseado no livro de Peter Mayle, que o escreveu por sugestão de Scott. Os dois são amigos e têm vinhedos na região de Provence. Trata-se de um trabalho extremamente pessoal do diretor, o que só reforça a teoria: "Blade Runner" e "Alien" são exceções, prováveis produtos do acaso e de um eficiente sistema de fabricação audiovisual. Não é à toa que a versão do produtor de "Blade Runner" é bem melhor.

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