Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
30/11/2006 - 10h16

"Olhar Estrangeiro" expõe na tela clichês gringos sobre o Brasil

Publicidade

SYLVIA COLOMBO
da Folha de S.Paulo

No Brasil, vivemos todos na floresta, onde cobras gigantes devoram aventureiros estrangeiros queimados de sol e picados por mosquitos. Nossa capital é o Rio de Janeiro, onde as mulheres são mulatas de bunda grande e "vida fácil". Os casamentos parecem rituais de umbanda, enquanto a sensual lambada é uma febre nacional surgida da mescla harmoniosa das culturas indígena e africana.

No documentário "Olhar Estrangeiro", que estréia amanhã em São Paulo, Lúcia Murat ("Quase Dois Irmãos", 2004) vai literalmente à caça de roteiristas e diretores de cinema a quem responsabiliza por disseminar clichês sobre o Brasil como os mencionados acima. "Eu queria saber o que se passava na cabeça deles quando filmaram aquelas barbaridades", disse a cineasta à Folha.

São essas tais "barbaridades" que dão amarração e graça (põe graça nisso) ao filme. Michael Caine passeando em Ipanema, onde todas as mulheres estão com os seios (perfeitos, sem exceção) de fora, em "Feitiço do Rio" (Stanley Donen, 1984). Brooke Shields surfando sobre crocodilos, num espalhafatoso vestido vermelho, ao som de um samba, em "Brenda Starr" (Robert Ellis Miller, 1989).

Um brasileiro fake (na verdade, um ator americano de origem latina) com um sotaque terrível, convidando uma americana a viajar para uma "praia de São Paulo" em "Próxima Parada, Wonderland" (Brad Anderson, 1998). E, ainda, o ator francês Daniel Auteil comentando o tamanho da bunda de uma negra brasileira em "T'Empêches Tout le Monde de Dormir" (Gérard Lauzier, 1982).

Esses filmes já haviam sido analisados na tese "O Brasil dos Gringos", de Tunico Amâncio, que foi base para o documentário. Com as "provas" na mão, Murat encostou os cineastas na parede com agressividade. "Não quis parecer xenófoba, só perguntei de onde tinham saído aquelas imagens."

As respostas variaram. Muitos admitiram que a indústria cultural busca, sim, os clichês tradicionais do Brasil --terra do samba, do sexo e da alegria--, para onde os bandidos sempre podem fugir no final da história. Outros ficaram envergonhados, enquanto houve quem agisse com muita naturalidade, na linha: "Ué? Mas aí não é assim mesmo?".

Clima pesado

O clima só ficou um pouco mais pesado com Zalman King (de "Orquídea Selvagem", 1990). "Ele não sabia do que se tratava, quando percebeu que queríamos questionar porque o filme dele estava cheio de clichês e imperfeições, olhou para o assessor de imprensa e quase nos tirou dali", conta.

Para fazer um contraponto, Murat entrevistou anônimos franceses, suecos e norte-americanos. A eles, pedia que fizessem uma associação livre entre palavras como "sexo", "exótico", "Paraíso", "mestiçagem" e o Brasil. A enquete só reforçou a visão dos cineastas. "No geral, acho que os europeus têm um olhar mais carinhoso com o Brasil. Já os EUA vêem todo o mundo latino-americano como se fosse uma coisa só."

Mas Murat também elegeu heróis, o norte-americano Orson Welles e o francês Édouard Luntz. O primeiro, por seu artístico "It's All True", e o segundo por "Le Grabuge" (1968). Luntz teve de brigar na Justiça com a Fox, que considerou que o filme não tinha o "colorido brasileiro" em quantidade suficiente. "Welles e Luntz foram antes de tudo autores, colocaram seu olhar pessoal no que faziam, por isso não se deixaram levar por clichês."

Especial
  • Leia tudo o que já foi publicado sobre Lúcia Murat
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página