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08/12/2006 - 10h27

Veteranos brasileiros criticam e aplaudem novo filme de Eastwood

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MARY PERSIA
da Folha Online

"Reparou nas metralhadoras, aquelas com tripé? São iguais às que nós usávamos na Itália. São duas peças e refrigeração a água", relembra o major Samuel Silva, 85. Puxando pela memória, o oficial reformado, veterano que lutou na Itália em 1944, vê no filme "A Conquista da Honra" ("Flags of Our Fathers"), de Clint Eastwood, muito do que viveu durante os últimos meses da Segunda Guerra Mundial.

Divulgação
Longa-metragem tem direção do americano Clint Eastwood; confira a galeria de imagens
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O longa, que estréia nos cinemas brasileiros em fevereiro de 2007, foi lançado no fim de outubro nos Estados Unidos e teve sessão especial em São Paulo na semana passada. "São cenas que, apesar do tempo, me emocionam muito. Aquilo volta na gente, faz o coração do pracinha bater mais forte e descompassado", declara, em tom emocionado e solene, o oficial octogenário.

Baseado no livro homônimo de James Bradley e Ron Powers e com roteiro de Paul Haggis ("Crash - No Limite", "Menina de Ouro") e William Broyles Jr. ("Soldado Anônimo", "Planeta dos Macacos"), "A Conquista da Honra" conta a história da sangrenta batalha em Iwo Jima no início de 1945. Na ilha japonesa surgiu um dos mais fortes símbolos americanos: a imagem de seis fuzileiros navais (os marines) hasteando a bandeira dos Estados Unidos no lugar em que 28 mil combatentes americanos e japoneses morreram.

Silva embarcou para a Itália em junho de 1944, com a primeira tropa. Aos 23 anos, o então sargento assumiu a função de comandante de seção de metralhadoras pesadas no 6º regimento de infantaria. "Éramos a linha de frente do combate, assim como mostra o filme, com tiros diretos", diz o oficial, hoje diretor cultural da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil, que mantém em São Paulo um museu aberto a visitação.

Para Silva, um dos méritos da produção é mostrar o clima entre os combatentes em campanha. "O clima de camaradagem era muito forte." Outro é abordar os enfrentamentos com uma boa dose de realismo. "O filme mostra a dureza do combate e o preço da conquista", avalia.

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Bandeira foi colocada na ilha de Iwo Jima
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Exagero

Também veterano da Segunda Guerra, o coronel reformado Jairo Junqueira, 84, tem opinião oposta em relação ao longa bélico de Eastwood. "Como todo filme americano que fala de guerra, há um certo exagero", diz o oficial, que na Itália atuou no 11º regimento de infantaria, oriundo de São João Del Rey (MG), como segundo-tenente da arma de infantaria.

"As cenas em que atiram sobre os fuzileiros sem ninguém tomar providência para calar os canhões, os avanços sem vasculhar o campo inimigo, com os combatentes encontrando as metralhadoras de peito aberto, são puro exagero", enumera Junqueira, presidente da associação de veteranos em São Paulo.

Mas o coronel --um dos 15 mil brasileiros (dos 25 mil enviados à Itália) a operar em campo de combate durante a Segunda Guerra-- não deixa de ver pontos positivos no longa do diretor americano. "Podemos ver a grandiosidade da logística dos americanos e a quantidade de armamentos", observa. "E principalmente o valor do combatente americano."

É justamente esse ponto o único a gerar consenso entre os dois oficiais. Para Silva, "A Conquista da Honra" "mostra o espírito de sacrifício do soldado americano". Espírito que ele mesmo diz ainda ter.

"Não pedi para ir à guerra nem pedi para não ir, fui designado para isso. Tínhamos razões para lutar. O soldado tem de estar preparado para cumprir sua missão", considera. Se pudesse voltar no tempo e recebesse as mesmas ordens, diz que agiria da mesma forma. "Não pediria, mas, se fosse designado, iria novamente."

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