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12/12/2006 - 08h00

"Terça Insana" prepara piloto para televisão e 2º DVD em 2007

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DIÓGENES MUNIZ
da Folha Online

A atriz gaúcha Grace Gianoukas, 43 anos, tem uma definição curiosa para o humor: "É uma espécie de KY [lubrificante] que tu usa [sic] em alguns assuntos que são tabus para que eles possam entrar com mais facilidade e serem abertos para discussão." Empresária, diretora e ideóloga por trás do badalado espetáculo de humor "Terça Insana", que encerra sua quinta temporada hoje (12) em São Paulo, Grace revela planos ambiciosos para 2007. E não são poucos.

Divulgação
"Terça Insana" terá seu segundo DVD
"Terça Insana" terá seu segundo DVD
"Terça Insana" é um show de humor apresentado todas as terças-feiras em São Paulo. A cada mês, o show muda completamente e um novo tema é abordado, com novos textos e personagens. A trupe, formada atualmente por Agnes Zuliane, Guilherme Uzeda, Marco Luque e Roberto Camargo, além da própria Grace, vai gravar um piloto para TV. Uma temporada com até seis programas chega a algum canal pago no próximo ano, caso o grupo goste do resultado dos pilotos. "Não queremos nada do que já exista", diz a também diretora Grace.

Outra novidade é que o grupo prepara seu segundo DVD a partir de fevereiro de 2007, quando volta de férias para mais espetáculos em São Paulo. O primeiro DVD vendeu 20 mil cópias até agora. "Quando sairmos de férias, vamos colocar uma palhinha no YouTube de um monte de personagens novos", conta a atriz.

Tão falante quanto engraçada, Grace conversou por telefone com a Folha Online um dia antes do espetáculo encerramento da temporada, que terá a participação especial do apresentador Marcelo Tas.




Folha Online - O "Terça Insana" começou em outubro de 2001. Que balanço você faz desta quinta temporada em São Paulo e das mudanças até aqui?

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Espetáculo prepara piloto para televisão
Espetáculo prepara piloto para televisão
Grace Gianoukas - A "Terça Insana" se solidificou como parte do calendário da cidade. Isso para mim é muito bacana, fora que neste ano tivemos muitas coisas novas, conseguimos fazer um equilíbrio entre pessoas consagradas, que colaboram com seu talento e sua obra para a "Terça Insana", como a Maria Alice Vergueiro [do "Tapa na Pantera"] e o Marcelo Tas, com atores ainda sem essa projeção. Quer dizer, o artista não se faz sozinho. Ele se faz desde pequenininho, com as coisas que ele vai ouvindo das outras pessoas. Por mais que você tenha autenticidade, certas coisas vão definindo o que tu compreende como manifestação artística.

Folha Online -Por que as pessoas pagam para ver atores satirizando seus próprios valores?

Grace A gente tem que tornar nossa vida mais leve. Temos que parar de nos levar tão a sério e aceitar que somos cheios de idiossincrasias, de contradições. [O "Terça Insana"] relaxa porque o mundo é cheio de contradições. Não é um dedo na cara, é um "vamos rir de nós mesmos". Daí se a pessoa quer rever suas atitudes, já é com ela. Nós não cagamos regra, só estamos expondo nós mesmos. Eu sou cheia de coisa errada, posso levar coisas engraçadas para o palco, mas sou careta na vida, sou super CDF. Sou muito exigente no trabalho, não levo tudo na farra.

Folha Online - O humor de vocês é classificado como politicamente incorreto. Vocês se impõem algum limite?

Grace - Em primeiro lugar, não permito preconceito. A "Terça Insana" tem regras. Eu não sei o que é politicamente correto. É revelar o que está errado? A gente tenta o máximo possível não cair naquela apelação de "peido", "merda" e coisas desse tipo. Acho, sim, que nosso show é filosófico, no sentido de que ele questiona alguns valores instalados na sociedade. Por exemplo, tem a fada, que eu faço. Ela é uma fadinha, toda bonitinha [fazendo voz de criança], e ela conta da merda que é ser uma fada que incentiva as pessoas a serem boazinhas em uma sociedade em que o bonzinho só se f..., né?

Aliás, meus textos às vezes não são tão engraçados quanto cutucantes. Eu acho, cá entre nós, que o humor é uma espécie de KY que tu usa em alguns assuntos que são tabus para que eles possam entrar com mais facilidade e serem abertos para discussão. Eu quero o que já foi falado, mas não quero o que já foi feito.

Folha Online -Há planos de adaptação do "Terça Insana" para a TV?

Grace Nesses anos todos eu sempre fui muito resistente à idéia e aos convites de irmos para a TV. Porque eu achava que não era hora, e além disso estávamos num processo de criação, e TV aberta é um negócio que depende muito de audiência. Essa independência da "Terça Insana", é disso que a gente sobrevive. Claro, ninguém está rico, mas nós temos nossa liberdade de expressão. Não gastei 20 anos da minha vida criando minhas coisas no underground para dar o c... agora. (risos) Prefiro trabalhar de garçonete, caso seja um trabalho independente.

Folha Online - Mas já recusou propostas de quem?

Grace - Da Bandeirantes, por exemplo, com a tal da Marlene Mattos [ex-produtora da Xuxa]. Nós mostramos nossa proposta de programa, mas ela queria adaptar para uma outra linguagem. No final, paramos de conversar. A contraproposta não cabia na nossa ideologia.

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Grace Gianoukas faz a traficante Cinderela
Grace Gianoukas faz a traficante Cinderela
Folha Online - Então o "Terça Insana" não vai mesmo para a TV?

Grace - Não, não é isso. Agora está acontecendo uma coisa inacreditável. Fizemos nesses últimos seis meses uma segunda turnê pelo país. Acabamos de vir de Goiânia, onde nos apresentamos dois dias. Em um dia tinha mais de 1900 pessoas. No segundo, 2010. Em Goiânia! Fomos fazer uma apresentação num fim de semana em Manaus, num lugar de 1530 lugares e teve gente assistindo de pé. Fico angustiada em não poder chegar em certos lugares, já que muitas pessoas nos mandam e-mail pedindo para visitarmos as cidades. Então comecei a cogitar fazermos um programa da "Terça Insana", sim, já que não somos onipresentes.

Estamos nos preparando para fazermos uns pilotos para TV a cabo. São três canais interessados, mas ainda não posso dizer quais são. O que posso falar é que, das interessadas, são duas TVs a cabo e uma aberta.

Folha Online - Quando vocês começam a fazer os pilotos?

Grace - Até o final de janeiro ele está pronto. É um piloto que tem uma linguagem nossa, com direção do Rodrigo Carelli [ex-MTV e SBT]. Por enquanto, é apenas um piloto. É uma experiência que será gravada em janeiro. Se ficar bom, nós apresentamos, mas se não ficar, pensamos em outra fórmula e nem apresentamos este. Resolvi fazer para poder chegar nesses lugares onde a gente não consegue chegar.

Será uma outra linguagem, mas ainda com o humor da "Terça Insana", com o tipo de personagem que a gente faz. Não queremos nada do que já existe. Olha, pode ser que fique uma merda, mas é uma experiência. Se for aprovado, nós gravamos uma pequena temporada de cinco ou seis programas.

Folha Online - Você tem algumas reservas com a TV. Como avalia suas participações televisivas até hoje? [Grace já fez de "Rá-Tim-Bum", na Cultura, a "Bang Bang, na Globo]

Grace - Tive oportunidade de fazer coisas muito legais na televisão, como "Rá-Tim-Bum", que é o programa de TV que eu mais me orgulho de ter feito. Havia um projeto que não era meramente a audiência e comércio. Sou muito idealista, temos que fazer coisas que levem algo a mais para o espectador. Também fiz uma participação em "Bang Bang", foi superlegal. Minha personagem era uma delícia, era uma cigana louca. Como atriz, achei ótimo, embora não tenha assistido tudo.

Folha Online - Você gosta de alguma atração de humor que passa na TV hoje?

Grace - Gosto muito da "Grande Família" (Globo), acho maravilhoso. Infelizmente não assisto muito. Sei que na "Diarista" (Globo) também tem coisas muito legais, mas nunca assisti porque é de terça-feira e eu não sei deixar gravando (risos). Também gostei da primeira temporada de "Os Normais" (Globo), que foi demais.

Folha Online - O que você acha dos esquetes do "Terça Insana" terem caído no YouTube?

Grace - Esse DVD [de onde foram tirados os esquetes] já vendeu 20 mil cópias. Acho normal as pessoas verem pelo YouTube, porque nem todo mundo tem a oportunidade de comprar um DVD, além de o produto não chegar em vários lugares. Isso inclusive pode incentivar a compra do DVD, já que as pessoas querem ver tudo, não só um esquete.

Eu não acho ruim, não, acho legal. Tanto que agora, quando sairmos de férias, vamos colocar uma palhinha no YouTube de um monte de personagens novos. Só para as pessoas conhecerem as novas criações. Nessas férias também entra no ar o nosso novo site, daí voltamos ao palco dia 6 de fevereiro. Mas sobre essa coisa do YouTube, acho maravilhoso. O trabalho chega onde a gente não consegue chegar.

Folha Online - Há planos para outro DVD?

Grace - Com certeza! Acredito que em fevereiro já começamos gravar os shows aqui de São Paulo para o segundo DVD. Mas neste próximo ano ele já sai. Estamos até tentando fazer de forma independente, sem a Trama, para tentar criar um sistema de distribuição nosso. principalmente para nosso trabalho chegar às pessoas que têm interesse.

Folha Online - Quais são seus personagens preferidos?

Grace - Tem a Aline Dorel e a traficante Cinderela [ao todo, Grace criou 39 personagens]. A Aline é uma personagem que eu criei em 1987. Fazia uma peça com o Paulo Betti que se chamava "Amigo da Onça", em que eu era uma menininha que chupava um pirulito no canto do palco. Foi quando o Paulo me puxou no canto e disse: "Grace, tu está 'infotografável', são 32 mil caretas por segundo". Daí eu fiquei traumatizada, pensando: "Será que eu sou uma careteira?". Então criei uma coisa para me aproveitar disso. Bem, eu era muito amiga do [escritor e jornalista] Caio Fernando Abreu (1948-1996) que vez por outra tomava um Lexotan. Nem sabia o que era Lexotan, aquele remédio que te deixa meio pateta, sabe? Fiquei sabendo por ele. Enfim, inventei uma atriz que ficou desempregada e maníaco-depressiva, portanto precisava tomar Lexotan.

Já a Cinderela foi a personagem central de um espetáculo que fiz em 1990, o "Não Quero Droga Nenhuma". Era a trajetória de uma dependente de drogas que se tornava a maior traficante do país. Uma comédia sobre dependência química. Não esperava, mas ficou cinco anos em cartaz. Então naquela época sempre que havia algum caso com droga na mídia, a imprensa vinha me entrevistar (risos). Como se eu fosse uma louca sempre. Enfim, a Cinderela era uma maluca, traficante, usuária e que, de certa maneira, filosofava sobre o comportamento social. Afinal, o que adianta ficar falando para teu filho não fumar maconha se na sua casa você tem um uíscão?




"Terça Insana"

Onde: Avenida Club (r. Pedroso de Moraes, 1.036, Pinheiros, tel. 0/xx/11/ 3814-7383)
Quando: Terças, às 22h
Quanto: R$ 40 (R$ 35 antecipado)

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