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19/12/2006 - 11h52

Daniela Mercury critica lei "antijabá" e compara download a assalto

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DIÓGENES MUNIZ
da Folha Online

Daniela Mercury, 41, atira para todos os lados. Seus próximos passos, por exemplo, vão de se apresentar com Fatboy Slim (com quem já gravou) e Shakira a homenagear Renato Russo em Salvador. Isso sem contar a recente gravação de "A Certain Softness" de Paul McCartney, que virou "Essa Ternura" e pode ser conferida no novo álbum/DVD "Balé Mulato Ao Vivo".

"É esse meu ecletismo...", começa a explicar a baiana, que ainda promete gravar um documentário sobre o axé music para lançar daqui "um, dois anos". Neste mês, a cantora aproveitou para se submeter a uma bateria de entrevistas de divulgação de seu novo álbum/DVD, gravado em setembro em Salvador.

Divulgação
Daniela Mercury durante apresentação;
Daniela Mercury durante apresentação
No meio da maratona, Daniela Mercury topou falar com a Folha Online, por telefone, sobre temas polêmicos: lei "antijabá" ("Não vai resolver nada"), download de músicas na internet sem cobrança de direitos autorais ("Por que, então, não estamos roubando os carros, assaltando supermercados?"), 2º governo Lula ("Sou contra a reeleição"), atuação de Gilberto Gil no Ministério da Cultura ("Todo mundo é muito duro com ele") e, por que não, axé music ("O axé é um filho da tropicália").




Folha Online - O axé music ainda se sustenta hoje?

Daniela Mercury - Ninguém consegue definir claramente o que é o axé. Eu considero que o axé só se tornou o gênero que se tornou --inclusive, fui porta-voz dessa música, consegui levá-la para o sul e sudeste do país-- pela originalidade do samba-reggae. O axé é uma mistura, e eu continuo a misturar. É a música branca e negra de Salvador. Enfim, é com esse universo bem amplo que o axé se faz pós-tropicalista, completamente canibalista. Mas com uma característica que nos define, que é de tocarmos uma música mais dançante, forte ritmicamente. O axé music é um filho da tropicália, do Clube da Esquina, do Chico Buarque e da música internacional também.

Folha Online - Quando você decidiu misturar música eletrônica com axé recebeu crítica de fãs. Achavam que você queria se desvencilhar do gênero.

Daniela - Minha música eletrônica tinha a música brasileira como base rítmica. Mas eu pedia aos DJs, por exemplo, que buscassem seu próprio swing. O que tem swing me interessa. O mundo que tem swing me interessa. Se é para escolher um gênero, eu prefiro escolher o axé, já que sou precursora dele, e para mim ele é extremamente amplo. Agora, para as pessoas quem lêem minha carreira achando que eu quero me afastar do axé... eu não tenho preocupação de estar ou não afastada do axé, sou uma pessoa livre, tenho uma carreira de liberdade, inovações. Quero cantar de tudo. Se eu tiver tesão de cantar, eu canto.

Folha Online - Como você avalia os quatro anos de Gilberto Gil, de quem já foi backing vocal no início da carreira, no Ministério da Cultura?

Daniela - Acho que Gil fez coisas extremamente importantes. Todo mundo é muito duro, a imprensa tem sido muito dura com ele. Gil sempre desejou atuar nessa área política com a melhor das intenções. Claro que isso não salva ele das confusões da política. Mas acho que ele tem pelo menos duas coisas espetaculares na sua atuação. Uma foi a democratização das verbas para produção cinematográfica no Brasil, mesmo com aquela briga toda.

Outra é que nunca o Minc teve tanta presença. Nunca um ministro, seja lá como for, seja com suas performances, conseguiu chamar tanta atenção para a cultura brasileira. Também sou da área social e sei quanto a área social sofre no Brasil. Vamos sentir falta dele no ministério. Acredito que não estejam nos planos dele continuar como ministro. Só sei que qualquer ministro que entrar agora vai ter um trabalho duro.

Divulgação
Daniela Mercury e ministro Gilberto Gil
Daniela Mercury e ministro Gilberto Gil
Folha Online - Você apoiou bastante o Minc durante o governo Lula, mas não votou no Lula para reeleição...

Daniela Não, não votei. Não sou a favor de reeleição. Sou a favor de alternância no governo. E votei para o Lula quatro vezes, fiquei triste com essa primeira gestão dele. Fiquei decepcionada com a gestão do PT, na verdade. Fiquei chocada com tantos escândalos. Mas espero profundamente que o Brasil tenha quatro anos de gestão de Lula como a gente esperou que seria o primeiro mandato.

Folha Online - Anulou o voto?

Daniela - Não anulei, não. Votei, mas não declaro voto, por conta de ser embaixadora do ministério e trabalhar na área social. Nem quero me meter em política. Quero trabalhar com todos os governadores nessa área social

Folha Online - Há um projeto de lei que quer transformar o "jabá" [execução de música mediante pagamento] em crime. O que você acha?

Daniela - (risos) Quer mesmo que eu responda sobre isso?

Folha Online - Quero.

Daniela - Acho que o capitalismo está em tudo. Tudo é negócio. A cultura não pode se afastar do que ela gera em termos econômicos. Precisa ver o que é preciso ser feito para não deixar as rádios e televisões sem sobreviver, mas ao mesmo tempo achar algum formato que seja respeitoso com o cidadão brasileiro.

É uma questão muito complexa. Não vou entrar no detalhamento porque vamos ficar aqui horas. Acredito que é preciso se pensar no assunto, mas não acho que vá se resolver essa questão com lei. É uma questão do comportamento do mercado. Quando um deixa de fazer, outro faz. E se as rádios precisam dessa verba para sobreviver --que eu não sei nem como chamar --, é ideal que isso esteja claro, transparente.

Folha Online - Você é contra ou a favor um projeto de lei que puna o "jabá"?

Daniela - (silêncio)...acho utópico, não adianta. É uma questão muito mais ampla, que não se limita ao jabá. Há várias formas de troca. Não vai conseguir se resolver com uma lei isso. Não vejo sentido numa lei como essa, não vai resolver nada, não vai ajudar em nada. Talvez o que ajudasse fosse uma forma de se controlar a quantidade de discos vendidos no Brasil.

Folha Online - O "jabá" é um problema para o artista?

Daniela - Olha, o jabá pode ser muito bom para uns, e muito ruim para outros. É um caminho muito fácil para muita gente, e um caminho difícil para outras. Porque o "jabá", pelo que me conste, ele não determina nem que o artista vai tocar na rádio. É uma questão muito mais ampla que uma lei.

Folha Online - O que você acha do MP3 e da possibilidade de baixarem suas músicas gratuitamente na internet?

Daniela - Gosto da liberdade da internet, e acho que temos que pensá-la como instrumento de divulgação, gosto dessa possibilidade da democratização da música, da arte. Mas como essas pessoas que fazem download e compram disco pirata se sentiriam se tivessem um grupo de cem pessoas envolvidas no trabalho, dependendo daquilo, e não fossem contemplados? Mais uma questão ética para o mundo.

Aí falam: "pela liberdade, pela democracia, temos direito de tudo". Por que então a gente não está roubando os carros, assaltando supermercados? Se é para todo mundo ter direito a tudo, então vamos quebrar tudo. É preciso encontrar alguma maneira de as pessoas receberem pelo que fazem. Se elas fizessem um carro e botassem no meio da rua para cada um pegar e levar, como ia pagar o ferro, os empregados? Alguma coisa tem que ser recolhida para se viabilizar uma indústria cultural que é importantíssima para o mundo. A desonestidade, o download, a pirataria feitos deste jeito sucatearam todo o mercado de disco do Brasil.

Folha Online - Em 2005, o Vaticano cancelou sua participação em um concerto de Natal após você participar de uma campanha pelo uso de preservativo. O Papa Bento 16 promete vir ao Brasil em maio próximo. Você cantaria para ele?

Daniela - Olha, o Vaticano não está mais fazendo concerto de Natal mais. Cancelou para sempre. Ele [Bento 16] deu uma declaração de que não gosta de música pop, ele gosta de música erudita. Portanto, agora o concerto será transferido para Mônaco. Será de musica instrumental, para ninguém falar nada, nem abrir a boca (risos). Depois de 14 anos com concertos de artistas pop de todo o mundo, sou uma das culpadas pelo evento não acontecer mais.

Então não acredito que ele vá querer que eu cante se vier para cá, já que sou uma artista popular. E outra: já canto na igreja desde pequena, canto para Deus todo dia, já basta. [O caso] serviu para eu ver que não há dialogo com o Vaticano.

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