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27/12/2006 - 11h12

Brasileiro inventa engenhoca para "medir" a arte

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RAQUEL COZER
Colaboração para a Folha de S.Paulo

Numa parede do lobby do MIT Media Lab, em Massachusetts (EUA), um desenho do japonês Yoshitomo Nara fica acima de uma pequena caixa preta. O visitante que se aproxima enxerga nela dois cronômetros em ação. O que ele não vê é que, ao se afastar, um dos contadores pára. Ele fora acionado por um sensor de movimento para contar o tempo em que a peça era observada.

O apetrecho se chama Art-O-Meter e se propõe a "medir a qualidade da arte com base no tempo que as pessoas passam frente a ela", segundo seu criador, Marcelo Coelho. Epa, Marcelo Coelho? Não, não é o colunista da Folha. O xará também é brasileiro, mas é pesquisador do Massachusetts Institute of Technology.

A invenção foi criada quando Coelho, 26, estudava artes da computação no Canadá e testada em 2003 numa mostra em Montreal --mas só em setembro deste ano, instalada no Media Lab, gerou discussão.

O raciocínio de Coelho é que a popularidade de uma obra pode ajudar a avaliar sua aprovação: "A questão é o que torna uma obra, famosa ou não, interessante para o público". Para a estréia, escolheu o quadro mais feio que encontrou --e ele era de seu colega Stephen Helsing. Visto em 5% do tempo na mostra, foi estimado como "piece of crap" (pedaço de m...).

Coelho não crê que o artefato torne objetivo um conceito subjetivo. "Ele faz pensar em por que tentamos tornar a arte objetiva, e isso ocorre quando se diz: 'Essa obra custa tanto'."

Fama e infâmia

Na internet, a discussão rendeu comentários. Um usuário do site Digg.com imaginou um curador notando que as obras mais "vistas" ficam perto da porta e dos queijos e vinhos. Outro questionou o valor das campeãs de audiência: "A diferença entre a fama e a infâmia não é grande". O SciFi.com concluiu: "Robin Williams fez melhor em 'Sociedade dos Poetas Mortos'", com um link direcionado à cena em que o professor faz a turma jogar no lixo páginas de um livro que sugere um gráfico para medir o valor de um poema.

Coelho diz que a intenção é chamar a atenção, e não esconder o aparelho. Não seria uma tentativa de torná-lo a obra em si? "É um pouco isso", admite. Mas concorda que o dispositivo precisa de melhorias. Tanto que está criando o Art-O-Meter 2.0, a ser concluído nos próximos meses a um custo, estima, de US$ 10 mil a US$ 18 mil --o valor será pago pelo MIT.

Serão duas mudanças: a primeira será introduzir no aparelho uma tecnologia --já existente em grandes sistemas-- que permita contar quantos olhos estão voltados à obra. A outra, criar uma conexão entre os Art-O-Meters para avaliar a arte "como um grupo". Só então pretende testá-los em grandes galerias. "Não sei se será permitido." O trabalho poderia, também, servir à indústria de publicidade. "Sabe em 'Minority Report -- A Nova Lei', quando câmeras localizam Tom Cruise e mudam o anúncio conforme ele passa? A idéia é essa, em menor extensão."

O propósito do Media Lab, diz Coelho, é elaborar produtos culturais que possam ser usados no mundo inteiro. "O primordial na tecnologia não é inventar algo, mas ter certeza de que as pessoas estão prontas a aceitá-la."

O Art-O-Meter, afirma, é "apropriado" numa época em que se definem grupos de comportamento a partir de conceitos como a web 2.0. Mas o próprio criador tem noção de que sua criatura pode ser a mais rejeitada entre as obras de quaisquer galerias.

Especial
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