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31/12/2006 - 09h57

"Fazer a Cicarelli" e "elite branca" estão entre as gírias de 2006

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RAFAEL CARIELLO
da Folha de S.Paulo

"Nunca antes neste país" se ouviu falar tanto em "desligar o transponder" e "destravar o Brasil". O ano termina recheado de expressões e palavras criadas, reveladas ou recicladas no calor dos acontecimentos, mas que, em muitos casos, parecem ter vindo para ficar.

É o caso --quase imbatível-- de "elite branca", achado do governador Cláudio Lembo (PFL-SP). A expressão, que sintetiza um aspecto do conflito social no Brasil, surpreendeu por partir de um pefelista do qual se imaginava uma versão light do Picolé de Chuchu.

Algo, afinal, tinha que crescer --ainda que fosse o léxico--, em um ano de novas perdas para a classe média (veja verbete "Isso não te pertence mais") e de crescimento medíocre do PIB (veja "destravar o Brasil").

Outras expressões resumem momentos importantes do ano, mesmo aqueles que seriam melhor esquecer. Encaixam-se aí o "quadrado mágico", da seleção, e "desligar o transponder", que na sua acepção estrita contribuiu para o pior desastre aéreo da história do país.

Essa última é forte candidata a ressurgir no Carnaval de 2007, como sinônimo de "grande lambança" ou "enfiar o pé na jaca". Bebeu todas, saiu destrambelhado atrás do primeiro bloco e cortou as comunicações pelo celular com a patroa? "Desligou o transponder."

Foi pego em flagrante delito contra as sensibilidades mais puritanas em seguida? Dependendo do cenário, podem acusá-lo de "fazer a Cicarelli".

Seja como for, em 2007, "destrave" e dê um "choque de gestão" em sua vida --já que na economia e na política é difícil esperar que essas expressões venham a se tornar realidade.

Confira as expressões e palavras que entraram no vocabulário do brasileiro em 2006:

Aloprado - Todo e qualquer petista que impede a vitória de Lula já no primeiro turno. Se não traz prejuízo eleitoral, passa a ser chamado apenas de "companheiro".

Eu não sabia - Expressão que deve ser usada para tentar convencer a opinião pública de que você não tem nenhum controle sobre o que fazem as pessoas que trabalham para você. Afinal, como é possível saber o que se passa na cabeça de um aloprado.

Sanguessugas - Não se refere a atacantes gordos e fora de forma, mas a uma das máfias montadas para roubar dinheiro da Saúde. Análoga à máfia dos Vampiros ou à dos anões do Orçamento, empreendimentos suprapartidários que fazem da política brasileira um péssimo filme de terror.

Elite branca - Num país em que o líder do principal partido de esquerda diz que a "espécie humana caminha para o centro", não deveria causar espanto o fato de ter vindo de um governador do PFL, Cláudio Lembo (SP), a expressão que sintetizou e tornou consciente o aumento do conflito social e étnico na sociedade.

Destravar o Brasil - Depois de mais um ano em que a economia do país se comportou como a seleção de Carlos Alberto Parreira na Copa de 2006, este é o novo nome da fórmula mágica para o crescimento. Até agora, a comissão técnica de Lula não conseguiu chegar a uma conclusão sobre que esquema adotar. Alguns esperam que Delfim Neto surja como um Dunga da área e "tonifique" o PIB.

Nunca antes neste país - Nunca antes neste país um presidente usou tantas vezes a expressão "nunca antes neste país". É o modo petista de dizer que fez um choque de gestão à frente da Presidência.

Apagão aéreo - Expressão guarda-chuva, abriga as até pouco tempo também pouco conhecidas "transponder", "ponto cego", "controlador de vôo" e "plano de vôo". Provoca saudade do tempo em que "não decolar" era apenas uma metáfora para descrever o país.

Desligar o transponder - Gíria nova para enfiar o pé na jaca.

RDD e RBD - Não confundir "Regime Disciplinar Diferenciado", rígido sistema penitenciário que causa tanto pânico ao PCC quanto a organização criminosa provocou em São Paulo neste ano, com o grupo "teen" mexicano Rebeldes --embora alguns críticos desejassem aplicar o primeiro ao segundo.

Emo - Novo estilo de música e de comportamento entre os jovens. A atitude é próxima à do presidente Lula nas cerimônias de diplomação para a Presidência da República.

Deixa o homem trabalhar - Parece um lema pós-feminista, mas, como se sabe, é a fórmula que enaltecia o trabalhador Lula na campanha presidencial. Ajudou a destravar a votação.

Você foi mó rata comigo - Aos 64, Caetano Veloso, inspirado em seu filho, continua liderando o movimento de emancipação masculina no país.

Eu sou o presidente da minha vida - Exemplo de atitude auto-ajuda do ano, o concorrente do programa "Aprendiz" encarou corajosamente o topete de Roberto Justus e "demitiu" o chefe. A idéia pode ter servido de inspiração para os controladores de vôo --e, segundo petistas, para os "aloprados".

Quadrado mágico - Nunca antes neste país jogadores de futebol se pareceram tanto com deputados federais. Muita atenção às próprias finanças, e pouca ao trabalho que era deles esperado.

Se ela dança, eu danço - Expressão "motivacional" do ano. Roberto Carlos (o cantor) gostou da idéia. Já Roberto Carlos (o lateral) ficou ajeitando o meião.

De onde veio o dinheiro? - Síntese da metafísica eleitoral tucana formulada pelo filósofo Picolé de Xuxu. Entrou para o rol das perguntas sem resposta, como "de onde viemos", "para onde vamos" e "que diabos estamos fazendo aqui".

Isso não te pertence mais - Bordão de "Zorra Total" e das perdas da classe média no governo Lula.

Fazer a Cicarelli - expulsar alguém de festa ou fazer sexo na praia. Fonte de problemas, nos dois casos. A moça devia deixar o pessoal se divertir mais, e vice-versa.

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