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12/01/2007 - 20h58

Comentário: "Weeds" deveria fazer a cabeça de novela brasileira

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JAMES CIMINO
da Folha Online

Um subúrbio de classe média alta. Donas-de-casa cheias de problemas prosaicos, como um casamento que esfriou, uma viuvez inesperada, um cunhado irresponsável que se aloja em sua casa, uma filha pré-adolescente acima do peso e homossexual, uma mulher histérica, amarga e cancerosa, filhos rebeldes, casos extraconjugais, gravidez na adolescência etc.

Parece, mas não é o Leblon da novela "Páginas da Vida". Trata-se da pequena Agrestic da série americana "Weeds", cuja segunda temporada se encerrou ontem no canal pago "GNT", e cuja terceira temporada está prevista para estrear no segundo semestre nos Estados Unidos.

De semelhança mesmo, os dois programas só têm o microcosmo, porque em termos de temática, ritmo, elenco, formato e roteiro, a série americana deixa o folhetim brasileiro com um "delay" de, pelo menos, duas décadas.

Lá em "Weeds" (cujo título significa erva em português), o retrato da burguesia é feito de maneira mordaz e bastante liberal. Nancy Botwin (Mary Louise-Parker) fica viúva, com dois filhos adolescentes para criar, mas resolve solucionar seu problema de forma nada convencional: passa a vender maconha para dar "algum alento à vida sem graça de suas vizinhas" (frase do personagem Peter, o agente da Delegacia de Narcóticos que se apaixona por Nancy e passa a desbaratar todas as quadrilhas que concorrem com ela).

Divulgação
Mary-Louise Parker, que ganhou o Globo de Ouro por "Weeds"
Mary-Louise Parker, que ganhou o Globo de Ouro por "Weeds"
Desnecessário dizer que se trata de uma comédia, pois não há aqui a intenção de fazer apologia ao tráfico de drogas, mas de mostrar que, no universo ficcional, a liberdade criativa deve ser muito mais que "marketing social" ou lições diárias de moralismo conservador, como é o caso de "Páginas".

Em vez de capítulos que terminam em enfadonhos anticlímax (como o episódio da novela de Manoel Carlos que se encerra com a adolescente bulímica gerando um grande drama familiar ao preferir passar o Réveillon com o namorado e não com a mãe e o pai), "Weeds" deixa o telespectador com aquele gosto de "quero mais".

A trama, apesar de mostrar que o crime, afinal, não compensa, não fica "apontando o dedo" para o telespectador, mas apresenta relações de causa e conseqüência, tudo com humor adulto e sem grandes choradeiras.

Até os empregados da série americana são altivos, como a hispânica Lupita, que também se mete na vida da patroa, mas não tem aquela postura subserviente dos porteiros e jardineiros do Leblon.

Além disso, há o ritmo. Um episódio por semana é mais que suficiente para movimentar as tramas. Não há cenas intermináveis de uma festa em que nada acontecerá e que geralmente duram mais de um capítulo. Não há cenas escritas única e simplesmente para dar uma fala ao semifigurante que é parente de algum diretor. Ou freiras tiradas de um "Mudança de Hábito" tupiniquim completamente descontextualizadas. Não há, por fim, uma sinopse-prisão. Desde que começou a saga de Nancy, sua vida nunca mais foi a mesma.

Já a saga da heroína de Manoel Carlos parece não ter mudado muito desde 1995, quando a mesma Regina Duarte, com o mesmo histrionismo, interpretou a mesma Helena, no mesmo Leblon, ao som da mesma Bossa Nova, apaixonada pelo mesmo José Mayer.

Haja déjà-vu.

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