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26/01/2007
-
10h17
RICARDO FELTRIN
Editor-chefe da Folha Online
Estréia hoje em São Paulo mais um polêmico filme do atormentado diretor Mel Gibson. Obcecado por sangue e momentos finais, seja da humanidade ("Mad Max") ou de Jesus ("A Paixão de Cristo"), em "Apocalypto" ele mostra sua versão dos estertores do império maia. O filme se passa entre o final do século 15 e o início do 16, quando os espanhóis chegam para implantar a nova ordem mundial.
Obsessão é a palavra que mais passa pela cabeça de quem assiste aos 124 minutos de "Apocalypto". Torturas indizíveis, sacrifícios humanos e a plebe (maia) em êxtase: eis a base de um filme que, como o próprio Gibson admite, nem precisaria de legendas. Afinal, qualquer criança entende a lei do mais forte, ainda mais quando ele também é tirânico e sádico. Mas, por favor, deixe as crianças longe disso.
Se em "A Paixão de Cristo" o diretor se defendeu das pesadas críticas --especialmente de judeus-- dizendo que havia transposto para a tela uma leitura fidelíssima dos momentos finais de Jesus, segundo a Bíblia, dessa vez não há argumentos que justifiquem qualquer veracidade da obra.
Sim, parece provocação grosseira quando um sacerdote maia, mãos encharcadas de sangue após retirar dois ou três corações de semelhantes vivos, se dirije à multidão histérica, aos berros: "Nós somos o povo escolhido!". À falta de provas históricas desta "auto-eleição" maia, impossível não pensar que, de novo, o "anti-semita" Gibson está cutucando seus desafetos (que nesse momento enfrentavam um pogrom do outro lado do oceano, mais um, dessa vez na Espanha).
Os maias, não os de Gibson
A cultura maia é considerada a mais sofisticada (mas não a mais poderosa) entre as dos povos mesoamericanos. Ela começa por volta do ano 2.000 a.C, na era conhecida como pré-clássica. Vai terminar por volta de 250 d.C, quando começa a era clássica; a derrocada, dizem historiadores, começaria no ano 9 d.C.
Não fica claro em "Apocalypto" quem são de fato os invasores que destruirão a vida, a comunidade e a família de Jaguar Paw, o herói da trama. Aparentemente, são outros maias.
Jaguar é um guerreiro ao mesmo tempo bravo e determinado no trato social-político e amoroso e brincalhão no familiar e comunitário. Sua interessante personalidade dá o único tom humanista da película, certamente não graças ao diretor, mas sim à atuação brilhante de Rudy Youngblood (sangue jovem!). É ele (e sua família) o principal e talvez único motivo pelo qual o filme vale a pena em alguma coisa.
De resto, tudo é Gibson. Muito sofrimento, muita correria, muita perseguição implacável, que começa com a caça a uma anta e termina com a caça a uma civilização. Em termos de qualidade cinematográfica, vale citar Nicholas J. Saunders, autor de "Américas Antigas" (ed. Madras, 237 págs.):
"A imaginação dos Maias não conhecia limites quando se tratava de inventar maneiras de humilhar, torturar e finalmente sacrificar suas vítimas."
Qualquer semelhança com o que Gibson faz com o público...
Colaborou DIÓGENES MUNIZ
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Editor-chefe da Folha Online
Estréia hoje em São Paulo mais um polêmico filme do atormentado diretor Mel Gibson. Obcecado por sangue e momentos finais, seja da humanidade ("Mad Max") ou de Jesus ("A Paixão de Cristo"), em "Apocalypto" ele mostra sua versão dos estertores do império maia. O filme se passa entre o final do século 15 e o início do 16, quando os espanhóis chegam para implantar a nova ordem mundial.
Obsessão é a palavra que mais passa pela cabeça de quem assiste aos 124 minutos de "Apocalypto". Torturas indizíveis, sacrifícios humanos e a plebe (maia) em êxtase: eis a base de um filme que, como o próprio Gibson admite, nem precisaria de legendas. Afinal, qualquer criança entende a lei do mais forte, ainda mais quando ele também é tirânico e sádico. Mas, por favor, deixe as crianças longe disso.
Divulgação |
Jaguar Paw (Rudy Youngblood), em cena de Apocalypto, que estréia em SP nesta quinta |
Sim, parece provocação grosseira quando um sacerdote maia, mãos encharcadas de sangue após retirar dois ou três corações de semelhantes vivos, se dirije à multidão histérica, aos berros: "Nós somos o povo escolhido!". À falta de provas históricas desta "auto-eleição" maia, impossível não pensar que, de novo, o "anti-semita" Gibson está cutucando seus desafetos (que nesse momento enfrentavam um pogrom do outro lado do oceano, mais um, dessa vez na Espanha).
Os maias, não os de Gibson
Reprodução |
Mapa indica local da civilização maia |
Não fica claro em "Apocalypto" quem são de fato os invasores que destruirão a vida, a comunidade e a família de Jaguar Paw, o herói da trama. Aparentemente, são outros maias.
Jaguar é um guerreiro ao mesmo tempo bravo e determinado no trato social-político e amoroso e brincalhão no familiar e comunitário. Sua interessante personalidade dá o único tom humanista da película, certamente não graças ao diretor, mas sim à atuação brilhante de Rudy Youngblood (sangue jovem!). É ele (e sua família) o principal e talvez único motivo pelo qual o filme vale a pena em alguma coisa.
De resto, tudo é Gibson. Muito sofrimento, muita correria, muita perseguição implacável, que começa com a caça a uma anta e termina com a caça a uma civilização. Em termos de qualidade cinematográfica, vale citar Nicholas J. Saunders, autor de "Américas Antigas" (ed. Madras, 237 págs.):
"A imaginação dos Maias não conhecia limites quando se tratava de inventar maneiras de humilhar, torturar e finalmente sacrificar suas vítimas."
Qualquer semelhança com o que Gibson faz com o público...
Colaborou DIÓGENES MUNIZ
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