29/01/2007 - 00h40

Comentário: "Pânico" volta com humor mais afiado e fama de "terror dos famosos"

SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online

A turma do "Pânico" voltou das férias neste final de semana e iniciou a temporada de 2007. Foi demais. A trupe está com o humor afiadíssimo. Não poupa ninguém. Até figuras de sua emissora, a Rede TV!, são alvo de suas sátiras impagáveis. Melhor: os intervalos do programa estão recheados de comerciais de peso --além, é claro, dos anunciantes de primeira viagem, sempre um show de pérolas da crônica publicitária, como os reclames do refrigerante popular Dolly e o sacolejar de ancas da Mulher Samambaia. Com esse trunfo financeiro nas mãos, o "Pânico" se cacifa para despertar interesse em outras emissoras. O talento do "Pânico" é um espaço maior que a Rede TV! merece. SBT? Um risco para a turma. Silvio Santos tem fama de "matar" rebentos do humor. Alguém viu por aí o "Ô, Coitado" de Gorete Milagres?

Voltando ao programa do domingo (reprise na sexta-feira, 23h10) : cenas clássicas do chamado "jornalismo humorístico investigativo" foram transmitidas pela Rede TV!. A fórmula de humor gonzo do programa ganhou força. O "Pânico" passou a investir mais no tratamento visual de suas esquetes. O tosco quer ser cult, conquistar seu lugar ao "sol" (uma das marcas anunciantes). O texto de estréia é um primor de inteligência sarcástica. Cada piada vibra, como um comentário ácido e demolidor sobre a fragilidade do mundo tupiniquim das celebridades assalariadas (ou nem isso), ao castelo de aparências que flutua ao redor da Globo, maior fábrica de ilusões do país.

Divulgação

Turma do "Pânico" completou três anos de exibição do programa humorístico na Rede TV!

As vítimas do programa: Luana Piovani, Ronaldo Esper, o mundinho da São Paulo Fashion Week e Suzana Vieira (já reparou que uns escrevem "Susana"? Letra "z" ou "s"? Nem a assessoria dela sabe como escreve). Para cada um desses personagens e universos, foi dedicado um "choque de imagem", a revelação de um aspecto de arrepiar qualquer agente, assessor ou consultor. Até a "rainha da etiqueta" Glória Kalil suou frio nos corredores da Fashion Week, quando foi abordada pela dupla Mendigo (Carlos Alberto da Silva) e Mano Quietinho (Vinícius Vieira). Ela foi chamada de "Constanza" [Pascolato], um velho truque de humor de confundir o nome da celebridade para denotar que ela não é tão famosa assim (pelo menos, não mais agora). A fashionista saiu de fininho, evitando parar, se despedindo jogando a mão.

"ShopTúmulo"

O torpedo mais mortal foi disparado contra Ronaldo Esper, estilista que alega sofrer uma "depressão" após a seqüência de mortes na família. Essa é a justificativa oficial do costureiro para o episódio da prisão no cemitério com dois vasos de sepultura dentro da sacola de feira. O "Pânico" batizou o personagem de "Robaldo Esperman", reconstituiu a movimentação de Esper no cemitério do Araçá e ainda apresentou o novo projeto da Rede TV! para ele: o "ShopTúmulo", uma paródia malvada ao visual e clichês de um canal televisivo de vendas. "Robaldo Esperman" vende até túmulo da Dercy Gonçalves, que completa 100 anos em junho próximo.

Parêntese: Dercy reapareceu no lançamento de seu novo DVD sobre sua vida e carreira, em festa na semana passada, na "Casa dos Artistas", casa noturna da empresária Lilian Gonçalves, aquela representada por Mariana Ximenes na minissérie "JK" (2006). Dercy era amparada por seu cabeleireiro Julinho do Carmo. Não havia mídia presente --somente um repórter da Folha Online, que prepara um material especial sobre a lendária humorista.

Neste primeiro episódo de "Pânico" em 2007, eles também foram impiedosos com Suzana Vieira, lembrando o caso da prisão de seu marido após quebrar um motel e toda a superexposição do casal no período de namoro e logo antes da festa do casamento. Mesmo diante do noivo, a atriz da Globo dava selinhos no Repórter Vesgo (Rodrigo Scarpa). Agora, a dupla Vesgo e Ceará (Wellington Muniz) tratou de fazer chiste com o drama, chamando Suzana de "rainha da Cornuália", em referência ao título de Camila Parker-Bowles, mulher do príncipe Charles.

"Rainha da cocada preta"

O programa terminou com a tentativa de Vesgo e Ceará de fazer as pazes com Luana Piovani, uma inimiga da trupe. Eles foram até a praia carioca, encontraram Luana e seu namorado Dado. Antes, foi mostrado ao público uma engraçada montagem sobre a gafe de Luana no caso de anunciar ser musa de uma música de Caetano e depois ser desmentida em público pelo cantor tropicalista. Luana pagou a conta na barraca da praia e tirou o time, sem dar uma palavra para o "Pânico". A atriz é chamada pelos rapazes de "a rainha da cocada preta". O mais engraçado: eles encomendaram músicas dedicadas a Luana a figuras como Ovelha, Vanessa Jackson (a "que saiu do programa Fama e não virou famosa"), Sérgio Mallandro, o humorista cearense Falcão e a dupla Pepê e Neném, em visual cada vez mais "Não deu para ser Missy Eliot".

No palco, Emílio Surita também bateu um bolão com Sabrina Sato, cada vez melhor no papel de "gostosa burra, mas desencanada". Espertíssima essa garota --resta lembrar que ela saiu do "Big Brother Brasil" e se firmou como musa dos adolescentes com seu espírito de figura destemida e pronta para qualquer aventura. Nesta segunda-feira, meio-dia, eles também voltam ao rádio, na Jovem Pan, com entrevista de Daniel, um dos já eliminados do "Big Brother Brasil 7".

Mas o melhor da nova temporada do "Pânico" é o quadro que satiriza as revistas e sites de celebridades (ou quase famosos). Eles mostraram fotos típicas da revista "Caras", só que alertaram para detalhes que podem denunciar o "fake" dessas publicações, a montagem das poses de felicidade, amor e sucesso --que vão por água abaixo com um singelo B.O. na polícia. Uma boa tirada iconoclasta do programa. Vai ser difícil a próxima safra de humorísticos da Globo, SBT e Record desbancar o "Pânico" do topo do ranking das atrações mais engraçadas da TV brasileira em 2007.

Especial

Leia o que já foi publicado sobre o programa "Pânico na TV"