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06/02/2007 - 09h00

Leia entrevista com o produtor musical Rick Bonadio

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THIAGO NEY
da Folha de S. Paulo

Responsável direto pelo sucesso dos Mamonas Assassinas, Rick Bonadio, 37, mantém-se como um dos principais produtores do Brasil graças a discos de grupos como CPM 22, Hateen e Ira!. Em entrevista, ele responde à crítica de que seu trabalho seja comercial.




Rodrigo Paiva/Folha Imagem
Bonadio é um dos principais produtores do país
Bonadio é um dos principais produtores do país
Folha - O papel dos produtores está ganhando maior importância?

Rick Bonadio - Está se aperfeiçoando. Antes o cara produzia várias coisas, era eclético demais, não tinha personalidade.

Folha - Como é sua relação com os artistas e gravadoras?

Bonadio - O artista sabe o que quer quando me procura, e a gravadora sabe a cara que darei ao artista. Uma das minhas características é que não fico preso a coisas como o timbre da guitarra, da bateria. Faço isso também, mas, principalmente, tento arrancar do artista as melhores músicas e decido com ele quais entrarão no disco. Muitas vezes o produtor fica interessado em tirar um "puta som" e as músicas não são boas.

Folha - Além de produtor, você também é empresário. Qual seu papel na formatação do som de uma banda, na estratégia de marketing do artista?

Bonadio - Dirijo uma gravadora, sou empresário de alguns dos artistas que produzo. Isso facilita, sei da realidade de mercado do artista, e isso ajuda na hora de fazer o disco. Sei o que o público espera do artista.

Folha - Suas produções recentes, como CPM 22, Hateen, NXZero, são bandas de guitarras com melodia pop. O que ensinou a elas?

Bonadio - Quando conheci o CPM, dei um padrão fonográfico a eles, um toque no arranjo, escolhi o repertório. Com o Hateen, disse a eles que, se fizessem repertório todo em português, seriam um sucesso.

Folha - Por quê? Não dá para fazer sucesso cantando em inglês?

Bonadio - É um fato. O Sepultura fez sucesso relativo na Europa. Foi uma exceção. O brasileiro, quando ouve música americana na rádio, está ciente de que está ouvindo o melhor do rock americano. Mas, com artistas brasileiros, querem músicas em português. Tem muita banda que não sabe fazer letra em português e aí vem com a desculpa: "Ah, a sonoridade é melhor". Besteira. O cara não confia no taco dele.

Folha - Mas há o risco de essas bandas acabarem soando parecidas.

Bonadio - A identidade não es­tá apenas na sonoridade mas no conceito artístico. Os riffs de guitarra, o vocalista, isso é que dá cara à banda. Quando o Justin Timberlake vai procurar o Timbaland, é porque ele quer o som do Timbaland. Quando você ouve meus discos, sabe que fui eu quem produzi.

Folha - Já teve alguém que não quis ouvir seus conselhos, que não aceitou sugestões?

Bonadio - Não. Se o cara vem me procurar, é claro que ele me admira, gosta do meu trabalho. Mas não coloco nada sem bons argumentos.

Folha - Quais foram seus erros?

Bonadio - Errei algumas vezes. Com o Lagoa 66, aquilo foi uma produção ousada para a época, as letras eram agressivas e sarcásticas. Aconteceu logo depois dos Mamonas. Achavam que eu queria fazer algo igual aos Mamonas. Se fosse hoje, diria para a banda esperar, lançaria depois de uns dois anos.

Folha - Como é a relação com as gravadoras? Eles te dizem o que querem?

Bonadio - Já houve isso, de diretor artístico influenciar muito, pegar no meu pé. Mas quando você consegue um certo respeito, o cara tem uma conversa com o artista. Aí chega para mim e diz: "Rick, cuida deles". Mas não foi sempre assim. Já tive que agüentar muito diretor de gravadora que não sabia nada e pedia para mudar acorde de música.

Folha - Você concorda que sua música seja comercial?

Bonadio - Óbvio que é comercial. Não tô nem aí. O que vende é bom. Isso é papo de frustrado. Tem coisa que faz sucesso e não presta, tudo bem. Mas aquilo que se sustenta é bom. Uma banda como Charlie Brown Jr., com vários discos nas costas, você pode até não gostar, mas não dá para dizer que é ruim.

Folha - Mas longevidade não é garantia de qualidade...

Bonadio - Se você mantém um público fiel, é porque tem qualidade. Aí vira questão de gosto. Vocês críticos musicais têm um papel muito cruel. Criticam de acordo com o que gostam, e não de acordo com o que as pessoas gostam. O crítico acha que é o dono da verdade, que tem uma importância enorme, isso não faz o menor sentido. Jornalista não entende de música.

Folha - E dos artistas que você produziu e não deram certo. Culpa sua ou dos artistas?

Bonadio - Os dois. Já produzi discos muito bons que não foram bem trabalhados. Por exemplo, o segundo disco do Broz. Era muito interessante e a gravadora na época abandonou, não trabalhou. E muitos fãs do Broz acham que sou culpado pelo fim do grupo.

Folha - Tem alguém que queira produzir?

Bonadio - Titãs. Para mim, é a melhor banda de rock que já existiu no Brasil. E gostaria de produzir alguma banda internacional, uma banda grande. É uma experiência que não tive.

Folha - Qual foi seu papel com os Mamonas?

Bonadio - Aquilo foi bem inusitado. Eu havia produzido o Utopia [banda que deu origem aos Mamonas], que fazia um rock anos 80 que não era legal. Era fora de época. Aí eles grava­ram duas músicas por brinca­deira, "Pelados em Santos" e "Robocop Gay". Eu insisti para gravarem um disco daquele jeito. Participei bastante dos arranjos, toquei teclados, guitarras. Ajudei a fazer referência a estilos como samba, sertanejo. Eu dizia o que estava legal nas letras, pedia para cortarem algumas frases, piadas que eram pesadas. Ajudei a dar um balanço entre o ser divertido e não ser tão pesado. Imaginava que fosse dar certo, nas não o tanto que deu.

Folha - Você começou produzindo rap. Ainda gosta desse tipo de música?

Bonadio - Gosto muito dos Racionais, gostava do Sabotage. Ele poderia ser o grande cara do crossover, o cara que iria tocar em rádios. Ainda falta isso no rap do Brasil, o cara que vai fazer o crossover. Mas vai aparecer. Imagino que esse cara hoje tenha uns 15 anos. Quando ele fizer 20, vai estourar. Rap pode "pegar" no Brasil, mas tem que abrir as fronteiras do pensamento. Não pode se limitar a falar de gueto, da bandidagem. O rap é muito mais do que isso. Gosto tam­bém do Instituto, eles têm po­tencial. Mas tem muita gente em cima do palco... Deveria ter menos gente.

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