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23/03/2007
-
11h32
da Folha Online
A seguir, a repórter Carmen Pompeu, enviada especial da Folha Online a Curitiba, descreve suas impressões sobre o 16º FTC (Festival de Teatro de Curitiba).
Primeiro dia
Vinda de São Paulo, cheguei bem ao 16º FTC (Festival de Teatro Curitiba). No aeroporto, o receptivo aguardava com uma dessas plaquinhas para orientar desorientadas como eu. Uma van nos levou até o hotel. Ah, não falei que, além de mim, havia um colega jornalista vindo também de São Paulo e uma carioca produtora de uma das peças que se apresentarão no Fringe, mostra paralela. Até aí, tudo bacana. O problema foi ao chegar na recepção do hotel.
Com bagagem de quem está disposta a ficar dez dias na cidade, me identifico e aguardo o recepcionista localizar minha reserva.
"Dona Carmen, a senhora está hospedada em outro hotel", disse ele. Corro os olhos para fora e procuro a van. Cadê? Foi embora. "E agora?", perguntei.
Para meu alívio, o rapaz acabou dando um "jeitinho brasileiro" e me acomodou em um dos quartos. Quarto nada! um apartamento enorme, dúplex. Mas sem ar-condicionado. "Ah, mas que falta faz um treco desses na fria Curitiba?", perguntaria um leitor menos atento às loucuras causadas no tempo pelo tal efeito estufa.
Faz falta sim. Em Curitiba, está um calor de rachar os miolos.
Ao comentar o episódio do hotel com um amigo já calejado de tanto vir ao evento, ouvi dele: "Bem-vinda ao Festival de Curitiba. É assim mesmo".
Resignei-me. Dei os descontos devidos. Afinal, deve ser coisa de quem nasceu pequeno e se tornou grande sem as devidas precauções.
Mas chega de reclamar. Vamos, ao FTC...
O FTC nasceu em 1992, com apenas 14 espetáculos de alguns dos diretores mais importantes do país. Hoje, em sua 16ª edição, é considerado o maior evento do gênero no país, e o terceiro maior do mundo perdendo apenas para os festivais de Edimburgo (Escócia) e Avignon (França).
Até o dia 1º de abril, serão cerca de 900 apresentações de 232 espetáculos, entre mostras oficial e paralela.
Mostra oficial
Na primeira noite, eu tinha duas opções. "Colônia Cecília", do grupo paranaense "Metáfora Cia. de Teatro". Um drama que fala sobre a única experiência anarquista vivida, no Brasil, por italianos, que aqui chegaram, no final do século 19. A outra opção era "Os Dois Cavaleiros de Verona", uma comédia. As duas peças abriram, nesta quinta (22) à noite, a mostra oficial do 16º FTC.
Optei pela primeira. E não me arrependi.
A "Colônia Cecília", da autora Renata Pallotini, emociona. Fala de liberdade, de sonho, de amor. O elenco é grande. O figurino bem cuidado por Thamis Barreto. A iluminação, de Beto Briol, adequada. Há, no entanto, uma mistura de tradições folclóricas com ópera que acaba dando um ar de fábula à montagem. A história é bem contada. Faz a gente refletir sobre os conflitos humanos. Os textos são intercalados com música e dança.
Mas falta algo. "Colônia Cecília", que é uma das sete peças inéditas a serem apresentadas nesta edição do FTC, ainda não está no ponto certo. Não faz a gente sair do teatro com aquele sentimento revolucionário, de energias carregadas. De alma lavada, sabe? Talvez porque o sentimento libertário do anarquismo ainda não tenha contagiado o elenco. Falta mais emoção no final. Falta acreditar no começar de novo, apesar da fome, apesar da geada, apesar das pragas, apesar das traições e do egoísmo próprios da natureza humana. Falta acreditar na anarquia.
Especial
Confira a programação do evento nesta sexta-feira
Acompanhe a cobertura do 16º Festival de Teatro de Curitiba
Diário de Curitiba: Anarquia "esquenta" largada de festival de teatro
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A seguir, a repórter Carmen Pompeu, enviada especial da Folha Online a Curitiba, descreve suas impressões sobre o 16º FTC (Festival de Teatro de Curitiba).
Primeiro dia
Vinda de São Paulo, cheguei bem ao 16º FTC (Festival de Teatro Curitiba). No aeroporto, o receptivo aguardava com uma dessas plaquinhas para orientar desorientadas como eu. Uma van nos levou até o hotel. Ah, não falei que, além de mim, havia um colega jornalista vindo também de São Paulo e uma carioca produtora de uma das peças que se apresentarão no Fringe, mostra paralela. Até aí, tudo bacana. O problema foi ao chegar na recepção do hotel.
Com bagagem de quem está disposta a ficar dez dias na cidade, me identifico e aguardo o recepcionista localizar minha reserva.
"Dona Carmen, a senhora está hospedada em outro hotel", disse ele. Corro os olhos para fora e procuro a van. Cadê? Foi embora. "E agora?", perguntei.
Para meu alívio, o rapaz acabou dando um "jeitinho brasileiro" e me acomodou em um dos quartos. Quarto nada! um apartamento enorme, dúplex. Mas sem ar-condicionado. "Ah, mas que falta faz um treco desses na fria Curitiba?", perguntaria um leitor menos atento às loucuras causadas no tempo pelo tal efeito estufa.
Faz falta sim. Em Curitiba, está um calor de rachar os miolos.
Ao comentar o episódio do hotel com um amigo já calejado de tanto vir ao evento, ouvi dele: "Bem-vinda ao Festival de Curitiba. É assim mesmo".
Resignei-me. Dei os descontos devidos. Afinal, deve ser coisa de quem nasceu pequeno e se tornou grande sem as devidas precauções.
Mas chega de reclamar. Vamos, ao FTC...
O FTC nasceu em 1992, com apenas 14 espetáculos de alguns dos diretores mais importantes do país. Hoje, em sua 16ª edição, é considerado o maior evento do gênero no país, e o terceiro maior do mundo perdendo apenas para os festivais de Edimburgo (Escócia) e Avignon (França).
Até o dia 1º de abril, serão cerca de 900 apresentações de 232 espetáculos, entre mostras oficial e paralela.
Divulgação |
"Colônia de Cecília" integra a Mostra Oficial e fez sua estréia nos palcos de Curitiba |
Na primeira noite, eu tinha duas opções. "Colônia Cecília", do grupo paranaense "Metáfora Cia. de Teatro". Um drama que fala sobre a única experiência anarquista vivida, no Brasil, por italianos, que aqui chegaram, no final do século 19. A outra opção era "Os Dois Cavaleiros de Verona", uma comédia. As duas peças abriram, nesta quinta (22) à noite, a mostra oficial do 16º FTC.
Optei pela primeira. E não me arrependi.
A "Colônia Cecília", da autora Renata Pallotini, emociona. Fala de liberdade, de sonho, de amor. O elenco é grande. O figurino bem cuidado por Thamis Barreto. A iluminação, de Beto Briol, adequada. Há, no entanto, uma mistura de tradições folclóricas com ópera que acaba dando um ar de fábula à montagem. A história é bem contada. Faz a gente refletir sobre os conflitos humanos. Os textos são intercalados com música e dança.
Mas falta algo. "Colônia Cecília", que é uma das sete peças inéditas a serem apresentadas nesta edição do FTC, ainda não está no ponto certo. Não faz a gente sair do teatro com aquele sentimento revolucionário, de energias carregadas. De alma lavada, sabe? Talvez porque o sentimento libertário do anarquismo ainda não tenha contagiado o elenco. Falta mais emoção no final. Falta acreditar no começar de novo, apesar da fome, apesar da geada, apesar das pragas, apesar das traições e do egoísmo próprios da natureza humana. Falta acreditar na anarquia.
Especial
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