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04/05/2007
-
08h11
FAUSTO SALVADORI FILHO
da Folha Online
No terceiro filme da série "Homem-Aranha", que estréia no Brasil nesta sexta-feira, o herói tem uma dupla missão. O personagem precisa encarar o seu próprio lado escuro --na forma de uma meleca preta que assume o lugar de seu uniforme e pode até deixar o visual do personagem mais "cool", mas ameaça transformá-lo no pior vilão da série-- e (o mais importante) encerrar a trilogia com um fecho à altura dos filmes anteriores e poderoso o bastante para pavimentar o caminho das inevitáveis continuações.
O Homem-Aranha, é claro, consegue completar a primeira missão com êxito, mas tropeça na segunda.
O embate interno de Peter Parker (Tobey Maguire) é o ponto alto de "Homem-Aranha 3" e um dos melhores momentos da série dirigida por Sam Raimi --saudada pelos fãs como uma das melhores adaptações das histórias em quadrinhos de super-heróis para o cinema de todos os tempos. Lá pelas tantas, porém, a trama começa a soar repetitiva e a exibir os seus primeiros sinais de cansaço, que fazem temer pelo futuro da franquia.
A falta de imaginação fica evidente no desfecho, em que mais uma vez os vilões penduram numa armadilha a eterna namorada refém do herói, Mary Jane (Kirsten Dunst).
Para salvá-la pela enésima vez, Homem-Aranha volta a entrar numa batalha épica que termina por rasgar seu uniforme na boca e num dos olhos -- tudo tão parecido com os filmes anteriores que faz lembrar Silvester Stallone de cara inchada gritando "Adriaaaaaaaaaaaaan" ao final de cada "Rocky".
Síndrome de Big Brother
O roteiro concentra os principais pontos fracos do filmes, mas também traz boas sacadas. A melhor é transformar Peter Parker no principal inimigo de Peter Parker.
No início do filme, Homem-Aranha tornou-se uma vítima do próprio sucesso. Ele continua a ser um nerd, mas um nerd que deu certo. Pela primeira vez, ele tem ao seu lado a garota que ama e tornou-se uma celebridade adorada pelos nova-iorquinos, uma adoração que o personagem nunca alcançou nas histórias em quadrinhos.
A fama repentina sobe à cabeça de Parker e vai minando seu relacionamento com Mary Jane, que agora vive uma fase de decadência profissional. O herói ainda tem tempo de flertar com uma garota, a loura Gwen Stacy (Bryce Dallas Howard, de "A dama na Água"), apenas levemente baseada no personagem do gibi. (Nos quadrinhos, Gwen Stacy foi o grande amor da vida de Parker, antes mesmo do aparecimento de MJ, até ser assassinada pelo Duende Verde.)
E é assim que o Homem-Aranha consegue recuperar seu anel de noivado após uma luta de acrobacias mirabolantes pelos céus de Manhattan, mas falha vergonhosamente quando tem apenas de entregar o mesmo anel para a namorada durante um jantar romântico.
Cenas como esta traduzem na tela uma das melhores qualidades das histórias de super-heróis bem trabalhadas: a noção de que eles podem ser criaturas fantásticas com poderes extraordinários metidos em roupas coloridas, mas também são pessoas comuns que têm de pagar o aluguel ou enfrentar problemas com o chefe.
Gosma escura
O deslumbramento de Parker com a fama e os problemas com a namorada lançam o herói numa jornada em direção ao pior de si mesmo, que é rapidamente intensificada com a aparição de uma criatura que passa a viver em simbiose com o organismo do Homem-Aranha.
A criatura assume o lugar do uniforme de Parker, dando ao Homem-Aranha um novo visual em preto-e-branco. O simbionte remove o superego do herói e passa a estimular cada vez mais sua agressividade.
A história do uniforme negro só decepciona ao não dar uma explicação mais aceitável para o aparecimento do simbionte. Tudo bem que seria impossível reproduzir na tela a origem da criatura nos quadrinhos, em que Parker foi infectado pelo uniforme negro durante uma megassérie caça-níqueis que reuniu os maiores heróis e vilões da editora Marvel numa mesma história.
Mas seria de se esperar que conseguissem uma origem mais decente. No filme, o simbionte não passa de uma gosma escura que despenca do céu num meteorito, justamente ao lado da motocicleta do herói.
Vilões
"Homem-Aranha 3" pela primeira vez reúne três vilões no mesmo filme, além do próprio "Aranha mau". O primeiro é Harry Osborn (James Franco), que se torna o novo Duende Verde para vingar a morte do pai, o Duende Verde original (Willem Dafoe, de volta numa ponta em flashback/alucinação).
O outro é Flint Marko, fugitivo da penitenciária que adquire o poder de moldar seu corpo como areia após sobreviver a um teste nuclear -- nos quadrinhos, radiação não dá câncer; gera superpoderes. O Homem Areia é responsável pelas melhores cenas de efeitos especiais, mas também pela pior interpretação: Thomas Haden Church lembra Arnold Schwarzenegger no começo da carreira.
Além dos vilões clássicos, criados nos anos 60, a franquia traz o primeiro herói moderno da série, o aguardado Venom, que surge a partir da mesma substância viva que arrasta Parker para seu lado escuro.
Mesmo com tantos personagens, a maioria das cenas de ação traz o sabor de "mais do mesmo" que contamina boa parte do filme.
Humor
O mesmo não se pode dizer do humor, que continua muito afiado. J.K. Simmons (o nazista do seriado "Oz") continua perfeito no papel de J.Jonah Jameson, o editor mau humorado de Parker, agora às voltas com um programa de controle de raiva imposto por sua esposa para não prejudicar sua pressão.
Nas sessões para jornalistas, o público ria às gargalhadas com a seqüência em que Tobey Maguire, mais cheio de si do que nunca, dança sozinho na rua ao som de James Brown. Sem falar na terceira aparição na série de Bruce Campbell (o ator cult da série "Evil Dead", também dirigida por Sam Raimi), agora no papel de um afetado maître francês.
No geral, o terceiro "Homem-Aranha" não envergonha os filmes anteriores, o que é bem mais do que se pode dizer de outras séries baseadas em quadrinhos, como Batman, Super-Homem e mesmo os X-Men, que perderam o rumo justamente no terceiro filme.
Os estúdios já deixaram claro que querem produzir o quarto filme de qualquer jeito, com ou sem Tobey Maguire, mas os sinais de exaustão de "Homem Aranha 3" fazem pensar que, para o bom nome do aracnídeo, seria melhor que ela acabasse por aqui.
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da Folha Online
No terceiro filme da série "Homem-Aranha", que estréia no Brasil nesta sexta-feira, o herói tem uma dupla missão. O personagem precisa encarar o seu próprio lado escuro --na forma de uma meleca preta que assume o lugar de seu uniforme e pode até deixar o visual do personagem mais "cool", mas ameaça transformá-lo no pior vilão da série-- e (o mais importante) encerrar a trilogia com um fecho à altura dos filmes anteriores e poderoso o bastante para pavimentar o caminho das inevitáveis continuações.
Divulgação |
Em seu uniforme tradicional, Homem-Aranha enfrenta Homem Areia; veja imagens do filme |
O embate interno de Peter Parker (Tobey Maguire) é o ponto alto de "Homem-Aranha 3" e um dos melhores momentos da série dirigida por Sam Raimi --saudada pelos fãs como uma das melhores adaptações das histórias em quadrinhos de super-heróis para o cinema de todos os tempos. Lá pelas tantas, porém, a trama começa a soar repetitiva e a exibir os seus primeiros sinais de cansaço, que fazem temer pelo futuro da franquia.
A falta de imaginação fica evidente no desfecho, em que mais uma vez os vilões penduram numa armadilha a eterna namorada refém do herói, Mary Jane (Kirsten Dunst).
Para salvá-la pela enésima vez, Homem-Aranha volta a entrar numa batalha épica que termina por rasgar seu uniforme na boca e num dos olhos -- tudo tão parecido com os filmes anteriores que faz lembrar Silvester Stallone de cara inchada gritando "Adriaaaaaaaaaaaaan" ao final de cada "Rocky".
Síndrome de Big Brother
O roteiro concentra os principais pontos fracos do filmes, mas também traz boas sacadas. A melhor é transformar Peter Parker no principal inimigo de Peter Parker.
No início do filme, Homem-Aranha tornou-se uma vítima do próprio sucesso. Ele continua a ser um nerd, mas um nerd que deu certo. Pela primeira vez, ele tem ao seu lado a garota que ama e tornou-se uma celebridade adorada pelos nova-iorquinos, uma adoração que o personagem nunca alcançou nas histórias em quadrinhos.
Divulgação |
Os dois Aranhas se encaram em cena do trailer, que não aparece no filme |
E é assim que o Homem-Aranha consegue recuperar seu anel de noivado após uma luta de acrobacias mirabolantes pelos céus de Manhattan, mas falha vergonhosamente quando tem apenas de entregar o mesmo anel para a namorada durante um jantar romântico.
Cenas como esta traduzem na tela uma das melhores qualidades das histórias de super-heróis bem trabalhadas: a noção de que eles podem ser criaturas fantásticas com poderes extraordinários metidos em roupas coloridas, mas também são pessoas comuns que têm de pagar o aluguel ou enfrentar problemas com o chefe.
Gosma escura
Divulgação |
Em seu novo uniforme, Peter Parker encara seu próprio lado negro |
A criatura assume o lugar do uniforme de Parker, dando ao Homem-Aranha um novo visual em preto-e-branco. O simbionte remove o superego do herói e passa a estimular cada vez mais sua agressividade.
A história do uniforme negro só decepciona ao não dar uma explicação mais aceitável para o aparecimento do simbionte. Tudo bem que seria impossível reproduzir na tela a origem da criatura nos quadrinhos, em que Parker foi infectado pelo uniforme negro durante uma megassérie caça-níqueis que reuniu os maiores heróis e vilões da editora Marvel numa mesma história.
Mas seria de se esperar que conseguissem uma origem mais decente. No filme, o simbionte não passa de uma gosma escura que despenca do céu num meteorito, justamente ao lado da motocicleta do herói.
Vilões
Divulgação |
Harry Osborn (James Franco) e a namorada do herói, Mary Jane (Kirsten Dunst) |
O outro é Flint Marko, fugitivo da penitenciária que adquire o poder de moldar seu corpo como areia após sobreviver a um teste nuclear -- nos quadrinhos, radiação não dá câncer; gera superpoderes. O Homem Areia é responsável pelas melhores cenas de efeitos especiais, mas também pela pior interpretação: Thomas Haden Church lembra Arnold Schwarzenegger no começo da carreira.
Além dos vilões clássicos, criados nos anos 60, a franquia traz o primeiro herói moderno da série, o aguardado Venom, que surge a partir da mesma substância viva que arrasta Parker para seu lado escuro.
Mesmo com tantos personagens, a maioria das cenas de ação traz o sabor de "mais do mesmo" que contamina boa parte do filme.
Humor
O mesmo não se pode dizer do humor, que continua muito afiado. J.K. Simmons (o nazista do seriado "Oz") continua perfeito no papel de J.Jonah Jameson, o editor mau humorado de Parker, agora às voltas com um programa de controle de raiva imposto por sua esposa para não prejudicar sua pressão.
Divulgação |
O simbionte alienígena toma conta de um novo hospedeiro, dando origem a Venon |
No geral, o terceiro "Homem-Aranha" não envergonha os filmes anteriores, o que é bem mais do que se pode dizer de outras séries baseadas em quadrinhos, como Batman, Super-Homem e mesmo os X-Men, que perderam o rumo justamente no terceiro filme.
Os estúdios já deixaram claro que querem produzir o quarto filme de qualquer jeito, com ou sem Tobey Maguire, mas os sinais de exaustão de "Homem Aranha 3" fazem pensar que, para o bom nome do aracnídeo, seria melhor que ela acabasse por aqui.
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