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21/05/2007 - 03h59

Comentário: Resfest reúne vanguarda digital e público "pós-moderno"

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FABIO RIGOBELO
da Folha Online

Pela primeira vez conseguiram reunir todas as atrações em um só lugar. O local escolhido foi a Sala Cinemateca, um pouco "isolada" na Vila Mariana, especialmente pra quem vai de metrô ou ônibus. Mas, pensando bem, não costumo ver aquelas caras (e modelitos), ao menos em tão grande quantidade, nos ônibus do dia-a-dia.

O evento: edição especial de 10 anos do Resfest (4º ano no Brasil), um festival de "cultura pop", expressão bastante abrangente (e vaga demais) para definir o evento, com três dias de programação, duas salas de cinema, palco para shows, exposição e debates. E araras com camisetas à venda, é claro.

Voltando à turma que não deve andar muito de ônibus: poucas vezes no ano é possível ver tantos "modernos" reunidos. Tipo festa à fantasia: todos com seus costumes, a produção mais "propositalmente relaxada" (ou o contrário) pro evento mais "moderno" da cidade. Motivo das aspas: a princípio, o "moderno" é anterior ao "contemporâneo". Devemos chamá-los, então, de pessoas "contemporâneas" (e descoladas)? Onde estão todas essas figuras durante a semana, nos dias e lugares "normais" de São Paulo? Camuflados sob ternos, gravatas, tailleurs e sapatos de salto-alto? Desempregados? Nerds em frente ao PC? Na Vila Olímpia? Fica a indagação.

O Resfest em si: três dias de programação bastante interessante, com a exibição de longas, curtas e videoclipes feitos em diferentes formatos e com a ajuda de ferramentas digitais das mais "modernas", vanguarda tecnológica nas telas e caixas de som.

Destaques na tela

- O último "filme-arte" de Matthew Barney, marido da Björk: "Drawing Restraint 9" (2005), um devaneio marítimo que engloba rituais japoneses --e dá-lhe ritual--, gelatina, camarões, canibalismo, figurinos absurdos e a música da cantora islandesa, ainda mais experimental.

- A retrospectiva de clipes da banda britânica Radiohead: seleção de vídeos fantástica, rock and roll de alta qualidade aliado a imagens e experimentações --dos delírios de Michel Gondry às animações sombrias de Shynola-- das mãos de diretores jovens e ousados; o "gênio" pós-moderno Thom Yorke e suas feições "exóticas" quase sempre como personagem principal dos clipes.

- Curtas-metragens coreanos ("Shorts Korea"): é interessante conhecer mais do cinema da Coréia do Sul, cada vez mais presente no circuito paulistano com títulos fortes e cheios de frescor (o angustiante "Oldboy" --Chan-wook Park, 2003-- é um dos mais conhecidos; "Casa Vazia" --Ki-duk Kim, 2004-- tem roteiro silencioso e original). Entre os curtas, porcarias cheias de estereótipos ("Alien in Korea", de Young-Joo Kim) e preciosidades ("Illegal Parking", de Chung-Hwan Jeong, um conflito adorável entre um homem que mora dentro de seu carro e a guarda de trânsito que insiste --e precisa-- fazê-lo estacionar em local permitido).

- O curta de animação "Rabbit" (de Run Wrake, 2006), da sessão "Shorts 1: State of the Art". Fantástico. Figuras emprestadas de livros infantis dos anos 50 formam essa história surrealista, onde todos os personagens vêm com os nomes em cima --árvore, violetas, penas, casa-- e um "ídolo" sai de dentro de um coelho, depois que dois irmãos cortam o bichinho ao meio com um machado. A partir daí, começam a ficar ricos e poderosos. E nem tudo acaba bem. O áudio da animação é incrível, de tão cheio de detalhes.

- "Danielson - A Family Movie" (de JL Aronson, 2006): documentário encantador da ainda mais encantadora banda "cristã" formada por irmãos do interior dos EUA. Eu não conhecia. Foi uma "quase sensação" no fim dos anos 90. Indie que é indie deve saber quem são.

Shows

A Sala Cinemateca, recentemente reformada, se mostrou um lugar ideal para receber eventos do tipo e porte --nem tão grande, nem tão pequeno-- do Resfest. O palco, coberto, era convidativo e pitoresco, com a rua atrás e os faróis dos carros passando. Miho Hatori, ex-Cibo Matto, fez um show simpático e meigo. Nada mais. Só não merece passar despercebida porque cantou (em japonês) "Paraíba", do seu "ídolo" Luiz Gonzaga, no bis, fugindo das bossa-novas características em "homenagens"; ok, Shoko Nagai, a tecladista, lembrava uma Yoko Ono nos anos 80 e também era divertida.

My Brightest Diamond, banda da cantora americana Shara Worden, lembrou PJ Harvey --o que é bom-- e tocou uma versão bacana de "Tainted Love", aquela do Soft Cell. Worden é enérgica e manda bem no vozeirão. No CD, à venda no local, uma crítica dizia que, além de PJ Harvey, a moça também lembra Kate Bush. Uma mistura. Uau. Foi um bom show. Quem sofre de miopia (como eu), ao chegar no local das apresentações no sábado, pensou: essa mulher não parece japonesa. Não era mesmo. O show de Worden, a princípio marcado apenas para a sexta-feira (18), se repetiu no dia seguinte.

Ainda que a projeção de alguns filmes, como o longa de Matthew Barney, tenha sofrido "falhas técnicas" --começou fora de foco; mais pro final, o som sumiu--, algo que deve ser evitado, já que se trata de um festival que tem seu foco na tecnologia, a edição deste ano do Resfest merece atenção.

Reunir tudo em um só local --melhor ainda se for um belo espaço como o da Cinemateca-- foi fundamental. Até o ano passado, a programação era dividida entre algumas salas de cinema da cidade.

Outra dica: um bar com mais opções de quitutes seria uma aposta inteligente para o próximo ano. Será necessário pra que se possa passar o dia todo por lá. Pra depois sair mais antenado do que nunca. Talvez até "pós-moderno". Ou seria "contemporâneo"?

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